COLEÇÃO ALAN MOORE - ROUND 2


Nós já temos um especial do Alan Moore, mas ele é de quatro anos atrás! Como o mestre declarou  que esse ano será lançada sua última HQ, o último volume da Liga Extraordinária, resolvemos fazer esse post como parte de um tipo de contagem regressiva. No anterior foram analisadas brevemente todas as principais histórias do cara, como "V de Vingança", "Watchmen" e "Miracleman", e também outras mais desconhecidas, como "Fashion Beast" e "Top Ten". Nesse focaremos em histórias secundárias de personagens da DC que só podem ser encontradas em uma coletânea muito difícil de encontrar, "Grandes Clássicos DC: Alan Moore". Apesar de simples, há histórias realmente MUITO boas, então elas merecem ser lembradas e deve ser interessante pra quem nunca viu poder conhecer.




Além dessas, também colocamos mais algumas outras que não estavam no primeiro round, que você vai conferir em breve. A ideia é ano que vem fechar com um terceiro e provavelmente último especial do Alan Moore, abordando principalmente a série da Liga Extraordinária. Você pode conferir o post anterior nos links abaixo. Vamos lá!



POSTS DE ANÁLISE ANTERIORES


COLEÇÃO HELLBOY







Arqueiro Verde: Olimpíadas Noturnas

"Não se fazem mais bandidos como antigamente. Eles andam meio patéticos..."

É uma noite comum de vigilantismo para o casal Arqueiro Verde e Canário Azul, mas há um novo inimigo arqueiro que é bem habilidoso, dando trabalho para Oliver Queen. A perseguição entre os dois é narrada com constantes metáforas relacionadas a competições de jogos olímpicos. Os desenhos são do querido Klaus Janson (Demolidor do Frank Miller).


Contos da Tropa dos Lanternas Verdes

"Só tente fazer uma história secundária do Lanterna Verde melhor que a maioria, o que não é terrivelmente difícil." Alan Moore

Eu acho interessante, realmente muito interessante, como o Alan Moore NUNCA trabalhou em mensais de personagens como Mulher-Maravilha, Batman, Superman, Flash, Aquaman e etc. E mesmo assim ele é um dos escritores que mais marcou na editora, se não for realmente o que mais marcou, com seus polêmicos "Watchmen" e "A Piada Mortal". Por quê? Porque a competência do cara é admirável! E ele nem trabalhou tanto tempo na indústria mainstream! Um dos melhores exemplos estão em três histórias da revista secundária "Tales of the Green Lantern Corps". Em curtas histórias simples, meros experimentalismos do grande Moore influenciaram a mitologia dos personagens para sempre! Não deixe de conferir!


Mogo Não Comparece às Reuniões

"Há alguns lanternas verdes que não podem comparecer aos encontros."

Essa história introduz Mogo, um lanterna que estava sendo caçado por um selvagem do espaço, mas este em muito tempo não consegue encontrá-lo de forma alguma. Mogo acabou se tornando um personagem recorrente e importante do universo dos lanternas.


Tigres

"Você fala da catástrofe final... Depois de incontáveis milênios, os inimigos da tropa dos lanternas verdes unir-se-ão contra eles."

É narrada a última aventura de Abin Sur, o lanterna verde que quando morto deu lugar ao lendário Hal Jordan. Ele vai em um planeta habitado por uma raça de visual perverso que procura atormentá-lo com visões apocalípticas relacionadas ao fim da tropa dos lanternas verdes. Os seres são tão podres que fica a dúvida para Sur se o que dizem pode ser considerado verdade. Apesar de curta, fica um clima respeitável de conto de terror.


Na Noite Mais Densa

"Tentaremos tirá-lo do escuro o quanto antes."

Em uma aventura interessante, a lanterna Katma Tui precisa ir a um vácuo completamente escuro, chamado profundezas obsidianas, para encontrar alguém que possa patrulhá-lo em nome das tropas dos lanternas verdes. Mas em um ambiente tão diferente, as características de contato do alien que Tui encontra são muitíssimo peculiares, dificultando até a possibilidade dele se tornar um lanterna verde por não ser familiar com os mesmos conceitos que possuem os seres que vivem com luz e cores. Mais uma vez Alan Moore usa mais criatividade do que é comum para demonstrar o encontro entre seres de planetas diferentes.


Vigilante: Dia dos Pais

"Eu não sinto nada. Era preciso tomar uma decisão. A gente estava lá e tomou."

Um homem violento que havia sido preso por estuprar a própria filha fugiu da cadeia e está indo atrás dela. A garota foge de casa e acaba indo parar nos cuidados de duas prostitutas, o que mesmo não parecendo a relação ideal, tem uma dinâmica interessante que é trabalhada entre as mulheres marginalizadas e a criança que está carente de uma família. Ao mesmo tempo o Vigilante (anti-herói mais desconhecido criado por Marv Wolfman) é contatado para proteger a garota e dar um jeito no pai dela, ficando essa dinâmica de alguns personagens procurando os outros. A história tem duas partes e o mais surpreendente é a mudança de perspectiva na narração de uma pra outra, que realmente muda a forma que você vê tudo.


Vega: Vidas Breves

"A dificuldade foi deixar os gigantes cientes de que haviam sido conquistados."

Nas histórias de Vega, Moore trabalhava alguns conceitos científicos curiosos. Em "Vidas Breves" a narração mostra o encontro entre duas raças alienígenas. Mas uma é milhares de vezes menor e conta o tempo de forma bem mais rápida também, o que causa perspectivas diferentes do que acontece.


Vega: Um Mundo de Homens

"Por incrível que pareça, não há culacaonos fêmeas."

Aqui é mostrada a raça dos culacaonos, seres humanoides com cara de gato que nunca tiveram contato com um gênero oposto na sua raça. São histórias bem curtinhas.


Vingador Fantasma: Passos

"Eu ando para esquecer..."

O Alan Moore conta a história desse personagem de forma curiosa, já que por mais simples que sejam suas histórias ele sempre parece se esforçar pra colocar alguma coisinha que seja mais interessante. O misterioso fantasma está caminhando na rua à noite, enquanto isso ele fica meio esquecido e são narradas duas histórias em paralelo, uma envolvendo dois marginais no metrô, e outra sobre um desentendimento sério entre anjos da cultura cristã. Não fica muito clara a forma que ele explica a origem do Phantom Stranger, mas também é uma história secundária, longe de ser como as do Monstro do Pântano onde ele usou bem melhor o personagem.


Batman: Barro Mortal

"Penso em mim e Helena. Sobre nossa vida juntos... E ainda não consigo entender onde tudo deu errado."

Apesar de ser uma edição anual do Batman, o foco nem é o detetive, mas um de seus vilões mais desconhecidos, o Cara de Barro que vive dentro de um traje parecido com o de um astronauta. Fugitivo, o fora-da-lei insano está escondido em uma loja gigantesca, onde se apaixona por uma manequim. Todo o texto é mostrando a mente insana do vilão, que vai desenvolvendo um relacionamento doentio e abusivo com a manequim, que nem sequer tem vida. Muito bem feito e interessante, mesmo passando longe de ser um dos inimigos mais legais do Batman.


Supremo

"Você coloca os óculos e ninguém o reconhece! O que é isso? Todo mundo é estúpido ou o quê?"

O Supremo foi um personagem criado pelo Rob Liefeld na Image, era estúpido e violento. Quando o personagem foi ofertado ao Alan Moore, que tava trabalhando por lá, ele aceitou mas ignorando completamente tudo que tinha rolado no cânone, resolveu fazer uma série de histórias homenageando (e às vezes satirizando) o Superman e toda a cultura de super-heróis americanos a partir de sua criação. O alter-ego do Supremo lembrava o Clark Kent, a diferença é que ele é desenhista de uma série em HQ, mas de resto há várias versões alternativas de Krypto, Lois Lane, Supergirl, Planeta Diário, Lex Luthor, Smallville e até Batman, Coringa e o Asilo Arkham. No tempo presente os traços são feitos no estilo exagerado da Image na época, mulheres super-erotizadas e caras com toneladas e mais toneladas de músculos.


Conforme eles vão se lembrando de acontecimentos do passado, Rick Veitch (Monstro do Pântano) entra como desenhista quando os flashbacks vão mostrando tempos antigos ao estilo das HQs de décadas atrás. É tudo dividido entre a "Era de Ouro", "Era de Prata" Era de Bronze" e "Era Moderna", que seriam as épocas das histórias de super-heróis, das suas origens até os dias atuais. Apesar de ter ganhado um prêmio Eisner, acompanhar Supremo é bem cansativo com suas constantes quebras na narrativa pra mostrar coisas no passado. O Alan Moore também insiste em mostrar suas ideias sobre a arte e a criatividade de um panorama bem grande o tempo inteiro, chega a parecer um repeteco de ideias que já foram usadas melhor em Tom Strong, Miracleman e principalmente Promethea. As capas feitas pelo Alex Ross passam mais empolgação do que a história consegue transmitir. Tudo fecha com "New Jack City", uma homenagem do mestre Moore ao Jack 'The King' Kirby. Claro que é atraente uma homenagem/sátira do mestre Moore à história dos super-heróis, mas apesar de curioso, deve ser a série dele que tem menos chances de prender o leitor.

"-Bem, todos os gibis em que eu apareci ficaram bem cruéis recentemente. Seria legal apenas fechar a revista e começar um capítulo novo.
-Olhe pelo lado bom. Nós dois estamos nesse negócio há tempo suficiente para saber que nenhuma era dura pra sempre... Nem mesmo a era das trevas!"



Garotas Perdidas

"É tão bom saber que isso simplesmente é errado."

Esse é o polêmico quadrinho pornô do Moore, em colaboração com quem se tornaria futuramente sua esposa, a desenhista underground, Melinda Gebbie. No enredo três mulheres de meia idade se conhecem em um hotel e começam a compartilhar histórias sobre sua vida sexual que são mostradas em flashback, ao mesmo tempo em que vão se pegando, já que as três são lésbicas ou bissexuais. Tudo se passa no início da Primeira Guerra Mundial, época onde as personagens realmente poderiam se encontrar, visto quando suas histórias originais foram lançadas. Cada protagonista é inspirada em uma personagem famosa da literatura infantil inglesa: Lady Fairchild é a Alice do País das Maravilhas, a Miss Gale é a Dorothy do Mágico de Oz e a Miss Potter é a Wendy. O próprio título "Garotas Perdidas" é referências aqueles moleques do Peter Pan. A personalidade e história de cada uma delas é diferente conforme sua classe social.

Casal arranjado pelo senhor Neil Gaiman (sim, o próprio, Lorde das Trevas, mestre do plano astral).
As personagens contam quando perderam suas virgindades e outras aventuras sexuais até chegarem no ponto presente. A Melinda Gebbie usa bastante pastel, dando um ar doce e estranho pra tudo, se tratando de uma pornografia tão bizarra quanto o possível, causa um contraste bem malicioso. Há momentos que ela faz splash pages que mesclam as cenas de sexo com os elementos fantásticos das histórias originais das personagens. O Moore continua narrando tudo de forma tão curiosa quanto consegue, logo no início toda a narrativa do primeiro capítulo é feita pelo ângulo do reflexo de um espelho, e também há intertextualidade com histórias dentro da história, como rolava em Watchmen. Sendo um PORNÔ, as pessoas ficam transando o tempo inteiro, de formas que ficam cada vez mais esquisitas. Desde homens se enrabando, vai até pedofilia, estupro, incesto e zoofilia; pra variar, o Moore tá nem aí de fazer uma história super desagradável. Lembrando que era um lançamento da Taboo, revista que só tinha história macabra.
Acredite, eu peguei a ilustração mais de boa pra colocar aqui.
Sendo uma pornografia, é cansativo de ler tudo de uma vez. Apesar de ser bem desagradável, longe do que eu e a maior parte das pessoas fosse gostar, admito que o final é muito bom. Mas claro que é pro gosto de poucos...


Um Pequeno Assassinato

"Quando o ovo sai de sua mãe, por um momento deve parecer com um pequenininho bebê humano."

Timothy Hole é um publicitário de meia-idade muito esquisito, ele parece um homem meio perturbado que mantém laços afetivos artificiais. Ele vê um garotinho com um semblante perverso que o persegue em vários lugares e some do nada, como uma assombração. Em paralelo às perturbações, Hole tem sonhos sobre o seu passado, ficando cada vez mais claro como ele não desenvolveu bem muitas coisas relacionadas à relações amorosas, família, ideais e carreira, e todas essas coisas vão vindo à tona na narração que mostra detalhadamente os pensamentos do personagem. Passa longe de ser as maiores viagens do escritor, na verdade é uma de suas histórias mais desconhecidas, mas na época representou a entrada do britânico em outros gêneros das HQs após terminar sua carreira com histórias da DC no final dos anos 80. Foi publicado no Brasil recentemente pela editora Pipoca & Nanquim em uma edição luxuosa que, infelizmente, sai um tanto mais caro pela qualidade que tem a história, sendo uma boa narrativa com desenhos do Oscar Zarathe, mas nada que fuja muito do normal.



A Vida Secreta de Londres

"Enterrada no alto de uma colina em declive, uma cabeça caótica, coroada com caramujos e necrópoles, alucina."

"A Vida Secreta de Londres" se trata de uma coletânea de narrativas organizadas pelo Oscar Zarate, onde grandes artistas da nona arte nos mostram curtas histórias explorando o mundo escondido da cidade de Londres, de forma que utilizam a técnica da psicogeografia (que Alan usou em "Do Inferno" e nos seus livros "A Voz do Fogo" e "Jerusalém"). Há várias celebridades, como o próprio Moore, Zarate, Neil Gaiman, Dave McKean, Melinda Gebbie e o Ian Sinclair, escritor que inspirou o Alan nessa última fase de sua carreira com os trabalhos de psicogeografia. Na introdução da edição brasileira, publicada pela Veneta, há um geralzão ferrado da história da psicogeografia feito pelo editor, que realmente te deixa bem apropriado sobre o que é a psicogeografia, o que pra mim foi muito interessante, visto que eu só conhecia os trabalhos do Alan nesse estilo. Depois temos várias histórias que lembram o cenário underground de HQs: são em preto e branco, não se preocupam em ter finais muito expressivos e lidam com temas como sexo e violência de forma bem desagradável.


As histórias do Moore não são necessariamente as que mais se destacam, tem muita coisa boa, mas como o especial é dele, vamos focar na colaboração do cara. Primeiramente há um texto de prosa, "Highbury", onde Moore vai livremente descrevendo coisas curiosas que acontecem no local em determinado período do tempo. Há mais uma similar, "Holborn", que precede "Eu Continuo Voltando", essa um quadrinho, e desenhado pelo seu parceiro Zarate. Na história vemos a visita a um clube de strippers, e Moore mostra como as pessoas se sentem e a forma que a arquitetura do lugar as influenciaria. A coletânea encerra com a poesia "Capital Crime", onde nosso querido artista mostra sua enorme versatilidade com diferentes tipos de arte (e claro, é uma poesia meio nojenta, cheio de violência).


"Ficção e realidade: apenas loucos e magistrados não podem diferenciar os dois." Garotas Perdidas

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