COLEÇÃO THOR DE JASON AARON


Esse post foi meio raridade, pela razão de que eu não tava planejando fazê-lo como planejo os outros especiais. Só coincidiu de no final do ano eu ter conseguido acesso aos cinco encadernados, então vou aproveitar pra, já com as histórias fresquinhas na minha cabeça, passar um especial de análises que essa série com certeza merece. Gostaria de contextualizar o quanto eu conheço o personagem, já que não é dos que eu mais acompanho. Essas histórias começaram em 2013 e na época eu não tenho a minima ideia do que tava saindo antes. Neste sentido de comparar com as anteriores eu realmente não poderei fazer, mas só no sentido de comparação mesmo, já que a série começou sem depender de nenhum outro arco externo na Marvel-Now, então dá pra eu analisar mesmo assim.
NOTA: Vale lembrar do ANT que constantemente elogiava essa série já há muitos anos quando eu tinha meu outo blog, toda vez que eu comentava sobre a série da Mulher-Maravilha que tava excelente, ele recomendava a do Thor, que ele dizia estar tão bem quanto. Se não fosse a sugestão dele acho que dificilmente eu teria comprado, já que nunca curti muito o personagem.


"O rapaz não conhece a própria história? Thor sempre retorna a Midgard. Não importa o quanto o faça sofrer."



POSTS DE ANÁLISE ANTERIORES


COLEÇÃO HELLBOY

O Carniceiro dos Deuses

"Sentiu isso, pequeno deus do firmamento? A sensação de impotência quando cai? É assim que se sente um mortal. A seguir, você saberá a sensação de ser trucidado."

A história toda acontece a partir do vilão, o Carniceiro dos Deuses (Gorr), que tem como objetivo matar todos os deuses do universo. Se tratando do universo Marvel, as chacinas se estendem aos deuses de aliens de outros planetas, o que mostra uma diversidade bem surpreendente em alguns momentos. O crédito das imagens vai a Esad Ribic, que traz toda uma identidade própria pra história, sem ele seria outra coisa. Não só os deuses e aliens, mas os outros planetas também trazem um meio termo muito bom entre algo que parece divino e ao mesmo tempo de ficção científica (uma imagem que os filmes falharam em trazer, caso tenham tentado). Apesar do tom "God of War", jogo onde o protagonista matava todos os deuses da mitologia grega, o Carniceiro se identifica muito mais com o estilo de serial killer sádico. O que chama a atenção desde a primeira edição é que a narrativa mostra constantemente um Thor do passado (mais imaturo e despreocupado, da época dos vikings), o do presente que é o tradicional, e o do futuro, que é um tempo misterioso e sombrio, rapidamente causando curiosidade.


É impossível não admirar a habilidade de Aaron em intercalar a narrativa dos três tempos sem que fique confuso em qualquer momento. Quero dizer, imagino que se fosse o Grant Morrison a gente ia entender nada. O Thor pode ser um personagem de muitos anos, mas fica impossível cansar dele quando visto nessas três versões diferentes que trocam tão bem o tempo todo. Esse Thor realmente desce a porrada, sendo o herói perfeito pra enfrentar Gorr, vilão que torna a história extremamente violenta, já que seu sadismo pra matar os deuses envolve tortura e altas doses de rancor. O embate entre os dois acaba trazendo ação o suficiente pra ninguém reclamar. A certeza absoluta do alien de que deve e irá matar todos os deuses é bem forte nas suas falas e vai te deixando curioso pra conhecer melhor o personagem e entender suas motivações. Isso tudo sempre com referências às várias relações que as pessoas podem ter com deuses: fanatismo, fé cega, preces atendidas e não atendidas, esperança e afins. Com todos esses elementos atuando conjuntos em uma narrativa tão clara, as primeiras cinco edições já são impressionantes e fazem o trabalho de te amarrar e querer saber o resto, pois o final deixa claro que a ameaça só começou.

O bicho é bravo. Mistura aí vilão da Disney, com design do Star Wars, o Kratos e o Hannibal pra ter uma ideia.


Bomba Divina

"Nunca me canso de matar thors."

Com outro desenhista, Butch Guice com as cores de Tom Palmer, a primeira edição mostra a origem de Gorr antes de dar continuidade à história. É uma origem completinha, mas que de modo geral não conta muito mais do que já podíamos imaginar pelo que tínhamos conhecido dele. Então começa "Bomba Divina", que é sequência direta de "O Carniceiro dos Deuses". A única coisa que muda mesmo é o título, porque a temática, o estilo, as doses cavalares de violência e ação continuam na mesma, talvez aumentando. A história dos três tempos vão se aproximando de um ponto comum conforme as escalas megalomaníacas do plano do Carniceiro vão chegando mais perto de se realizarem. O vilão não decepciona em qualquer momento, uma verdadeira raridade um inimigo novo ser tão legal, em uma época que tão até estragando os antigos, vide Malekith, Mandarim e Barão Zemo nos filmes da Marvel. O Carniceiro é comparável com o Primogênito, que chamou bastante atenção na série da Mulher-Maravilha pelo Brian Azzarello, acredito que nessa mesma época. Há alguns personagens secundários que também são bem apresentados e vão ficando mais legais.


Apesar de toda a ação, a trama nunca fica estúpida, não sendo apenas apelativa. São sempre levantados pontos muitíssimo interessantes, que na maior parte das vezes nem são fechados, mas afinal, como traçar conclusões com questões relacionadas a deuses e fé? Mas elas sem dúvida tornam a experiência mais rica, para mim um épico pro histórico da Marvel e todos os envolvidos. Quando terminei senti que Aaron havia dado uma aula de roteiro, o Ribic uma aula de desenho e fizeram uma série nota 10 pra ser aplaudida de pé caso se tratasse de uma apresentação ao vivo. Indispensável para fãs de fantasia com bastante ação, compete tranquilamente com "Wolverine: Velho Logan" e "Hulk Contra o Mundo".


O Amaldiçoado

"Ele tentou exterminar todos vocês! E agora vira seu rei?! Não, eu me recuso a me calar! Exijo saber quem é o responsável por tal sandice!"

Aqui damos tchau pro querido desenhista Ribic, "tchaaaaaaaaaaau!". Inicia-se o novo arco com "Era Uma Vez em Midgard", desenhada por Nic Klein. O início mostra como é o dia a dia do deus do trovão na Terra, com ele ajudando as pessoas sem entrar em grandes combates. É introduzida a agente ambiental da S.H.I.E.L.D., Roz Solomon, como coadjuvante, que vai flertando cada vez mais como parceira romântica do herói. A antiga coadjuvante, Jane Foster, também retorna, sofrendo de um câncer que já a deixou com a aparência bem deteriorada, parece uma velhinha. Tem um momento que ela já se mostra feminista, me deu um frio na espinha, meio "iih, vai ficar uma droga", mas não passa disso. Ela retoma a amizade com o Thor, ficando aquele ar de que eles são ex-namorados, mas ainda têm carinho um pelo outro.


É curioso que, com o fim do arco anterior, você imagina que os thors de outros tempos vão parar de aparecer, mas logo no final da primeira história é mostrado o Thor do futuro, mesmo seu paradeiro não sendo mostrado, já que ele não volta por todas as outras histórias desse caderno. Indo pra #13, o vilão Malekith retorna e Thor precisa se unir a uma liga formada por membros que vieram de várias raças diferentes dos Nove Mundos: um gigante, um anão, um troll, dois elfos de raças diferentes e o próprio asgardiano. Como em outras séries estilo "Senhor dos Anéis", essas raças vivem em conflito e todas tem algum tipo de preconceito contra outra, apesar de não ficarem se espancando o tempo inteiro como em HQs clichês, a desconfiança dentro do grupo acaba se originando sempre desses fatores. O Malekith pode não ser o Carniceiro, mas também é um genocida violento e impiedoso, sendo urgente pro grupo impedi-lo. O cara é tão doente que quer exterminar a própria raça de elfos negros. A trama conta com algumas reviravoltas, o estranho é os desenhos. O Ribic que tinha feito um trabalho tão marcante continua de fora mesmo, quem vem substituir são Ron Garney com Emanuela Lupacchino. O resultado é bem menos forte e impactante, chega a dar uma impressão infantil, mesmo claramente não sendo o gênero da história, que continua bem madura e chocante. Tive a impressão que foi pra experimentar que deixaram eles cobrirem esse arco, já que é um estilo mais moderno. Não chega a ser ruim ao ponto de estragar a história, mas não combina muito bem, parece mais adaptação de algum desenho da Disney, de verdade. O Nic Klein que só desenha a primeira edição desse encadernado já teria sido uma opção melhor.

"A caçada selvagem começou!"
No final desse arco contra o Malekith são levantadas várias questões interessantíssimas sobre política e a relação entre líderes e seguidores, relação entre nações, tradições de povos e afins. É muito surpreendente, visto que podia ter só se tratado de uma história de aventura fantasiosa e não teria sido ruim, mas Aaron consegue fazer com que, mesmo não impactando tanto quanto o início da série, essa segunda leva não chegue a ser só um tapa-buraco ordinário, não mesmo. Por fim, a sensação se repete na história que fecha o encadernado, "Dias de Vinho e Dragões". Retornamos mais uma vez para o Thor do passado, quando ainda era jovem e inconsequente. De forma que me pegou extremamente de surpresa, eles mostram o outro lado pouco falado da vida irresponsável e leviana, meio imprevisível pra uma revista protagonizada por um viking, ainda mais uma história assim não conectada com as outras, onde o desenhista muda de novo, sendo Das Pastoras.



Os Últimos Dias de Midgard

"É uma nova era, Roz, o velho Nick Fury tinha malucos nazistas e espiões comunas com anéis de decodificação fofinhos. Você tem um diretor-executivo zilionário e suas supercorporações globais corruptas. Inimigos diferentes, mas o preço do fracasso ainda é o mesmo... O fim de toda a vida como conhecemos. Bem-vinda à S.H.I.E.L.D., agente Solomon."

Retorna o Ribic (eeeeeeeeeeeeeeh!), mas menos caprichado que no início (aaaaah...), mas ainda assim é melhor que o grupo anterior (eeeeeeeh!). O novo inimigo é a corporação Roxxon. Conforme a agente Solomon se torna cada vez mais presente na história, o lado da defesa ambiental fica mais forte, já que a prioridade dela é ecológica, mesmo sendo uma agente a la Viúva Negra da S.H.I.E.L.D. Um pano de fundo muito interessante, mais comum com personagens que são ligados com a natureza, como Homem-Animal e Monstro do Pântano, mas ficou legal, o Thor lutando por essas causas lembra a versão ultimate da série dos Supremos, que eu nem vou elogiar porque é chover no molhado. O diretor-presidente da Roxxon, Dario Agger mostra que o novo perigo é um CEO bilionário sem um milimetro de interesse pelo bem-estar da Terra e das pessoas enquanto avança com os seus negócios. Ele é perigoso pela forma que utiliza a sua posição e o que seu dinheiro pode alcançar. Abordagem de uma ideia antiga, mas que não parece repetitiva. Claro que também há monstros para manter os combates na base da porrada física.


A narração volta a mostrar o Thor do futuro, que junto com suas netas visita uma Terra pós-apocalíptica, em pouco tempo tendo que enfrentar um clássico e amado inimigo da Marvel, que nem vou contar qual é pra não estragar, mas garanto que as lutas são incríveis como em "Bomba Divina". É brilhante como Aaron traz de volta a técnica do início da série e a utiliza tão bem de forma que ambas as narrações (presente e futuro) compitam fortemente pela preferência do leitor, ficando muito bem equilibrado, todos os elogios são mais que merecidos. O link entre as histórias dos dois tempos agora se trata deles no presente estarem enfrentando uma super-empresa que não se incomoda de prejudicar o meio-ambiente, enquanto no futuro o Thor mais velho tem que lidar com uma Terra que já foi destruída. A equipe acerta mais uma vez quando fecha o arco, tecendo várias surpresas em uma trama exemplar, dessa vez deixando alguns assuntos inacabados para a próxima.


No final há mais uma história de transição, mostrando as netas do Thor na biblioteca de Asgard lendo algumas histórias nos livros. Há a origem do Malekith, uma aventura do jovem Thor do passado e uma pequena prévia das próximas histórias.


A Deusa do Trovão

"-Você é uma mulher corajosa, Jane Foster.
-Não. Só uma mulher comum. É assim que as mulheres fazem."

Esse encadernado ainda não saiu no Brasil, mas eu pude pegar a versão gringa mesmo, em inglês. Após o evento do "Pecado Original", o Thor aparece quase chorando tentando tirar o martelo do chão, mas não consegue. Os três guerreiros também não, até que nem o Odin consegue tirá-lo, começando a dar um chilique de nervoso. Eis que uma mulher que não fica identificada se aproxima e sem qualquer explicação consegue levantar o martelo e se torna a nova Thor. Ela logo vai pra Terra combater a Roxxon. O Thor sem martelo vai lutar contra o Malekith que retornou junto a uns gigantes de gelo, mas apanha como um cachorro e quase morre. Por fim a mulher se torna a nova deusa do trovão sem qualquer passagem em que tente se acostumar com seus tantos poderes novos e vira protagonista da revista em histórias que quase não têm sentido.


A abordagem feminista acabou tornando a revista uma precisa antítese do que era no início. Quando você lê a série do Carniceiro há toneladas de violência viking e nenhuma preocupação com possíveis inseguranças religiosas do público, enquanto aqui no quinto encadernado você tem uma cachoeira de politicamente correto onde nem há mais lutas! Provavelmente devido ao público-alvo de feministas, que tem como hábito matinal pegar mulheres apanhando em cenas de luta, tirar do contexto e propagar pela Internet difamando o escritor, o desenhista e a editora. Não só o Thor vira um inútil chorando enquanto não consegue pegar o martelo, mas todos os personagens que antes se enfrentavam em combates de escala Dragon Ball passam a fazer nada, até os vilões. Exemplo: há um momento que os vilões Malekith (mandou lobos devorarem a própria mãe) e Minotauro (mandou ursos devorarem seus próprios subalternos) estão diante de uma caveira mística que os trará poder, eles nem entram em combate só ficam discutindo (lembrando que nas edições anteriores o Minotauro e o Thor se socavam de uma cidade pra outra). Eis que entra a deusa ladra de título do trovão, calmamente avança e esmaga a caveira com o martelo, enquanto nenhum dos dois psicopatas faz qualquer coisa, apenas dizendo estarem em choque com o que ela fez. O Odin, que antes era uma referência de sabedoria, tinha até aquela questão de onipotência, poder infinito e tal; virou um cara extremamente imaturo e incapaz, que chega a ser descrito pela esposa como um déspota (!).


A loucura continua, com a vilã Titânia se entregando pra heroína prendê-la na cadeia sem qualquer resistência, dizendo que está o fazendo porque admira a atitude dela em ser uma Thor mulher. Ela "explica" se tratar de uma coisa girl power (???????). Me surpreende um roteirista inteligente como o Jason Aaron escrever uma história feminista, no sentido artístico é a mesma coisa que dar um tiro na cabeça, já que feministas (que defendem clipes fazendo propaganda de turismo sexual) não tem um pingo de reconhecimento por essa mídia que nos traz personagens femininas interessantíssimas desde os anos 60 e distorcem informações o tempo inteiro pra poderem se promover enquanto as desmoralizam. Deu no que deu, é insano, cara. Se no início eu tava comparando com "God of War" e "Hulk Contra o Mundo", aqui tá mais pra Harry Potter. Foi uma fase muito boa até o quarto volume, mas não pretendo mais ler nenhuma das sequências, apesar de muita gente elogiar. Eu recomendaria apenas para os "fãs" pós-modernos, mas na verdade eu não gosto deles.

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1 Comentários

  1. Uma das melhores análuses que li. Uma pena Aaron não ter saído no final do 4o encadernado, pois continuar nessa tá manchando a imagem dele.

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