"Se minha teoria se comprovar, este apavorante monstro não passa de uma representação da criança interior de Banner. Ele é somente um menininho triste."
O primeiro arco de duas histórias se chama "Olhos de Serpente". Temendo pelo futuro da Terra caso o Hulk fique liberto sem qualquer controle, ele vai procurar ajuda com sua ex-namorada da faculdade, a neurologista Lipscombe, uma loira toda durona e sarada. Conforme ela tenta ajudar seu perigoso ex-namorado, o leitor é levado ao inconsciente de Bruce Banner, onde vivem as diversas camadas de sua personalidade, representadas por ele mesmo e as várias versões do Hulk. As três principais têm mais atenção:
o tradicional,
o Hulk Cinza, que é chamado de Joe Tira-Teima
E o Professor, que é uma versão do Hulk com visual diferente que conserva a mente racional de Bruce Banner quando transformado.
A sequência é divertidíssima, mesmo que pra quem acompanhou o personagem nas suas principais fases dos quadrinhos, haja nada de novo. Todos esses conceitos psicanalíticos para representar a complicada mente do monstro gótico já foram usados na fase do cara que os criou, o Peter David, autor que escreveu o personagem por mais de dez anos, aprofundando questões interessantes mais do que qualquer autor, até mesmo características fundamentais que haviam sido criadas pelo Stan Lee e o Jack Kirby. Uma bela parte da passagem desse autor pode ser encontrada em um encadernado da Salvat chamado "Gritos Silenciosos", que foi lançado há um tempo atrás. Mas é apenas uma parte, compilar toda a passagem do David exigiria vários encadernados, mas vamos voltar à Cães de Guerra, que é o nome do arco que começa após o final de "Olhos de Serpente".
No início eles usam o título literalmente, com o exército mandando cães alterados para caçarem o cientista, quando começa a porrada e a influência do exército na história caçando o Hulk. Nesse tempo em que Banner e a doutora Lipscombe vão fugindo, as três diferentes versões da personalidade do Hulk vão tomando controle do corpo, o que causa uma diversidade interessante de acompanhar. Há vários coadjuvantes comuns das aventuras do personagem que acabam se envolvendo, e o vilão que está por trás das operações sujas dos militares é o coronel John Ryker, sociopata que não se incomoda de manipular indivíduos e instituições para alcançar seus objetivos. O novo vilão deixa o velho General Ross no chinelo no que se trata ser inescrupuloso e obsessivo. Eles chegam a citar alguns acontecimentos da história dos EUA que teriam uma mãozinha do personagem para trazer um tom mais realista e crítico ao perigo que ele representa (então usando o título metaforicamente).
"Só posso dizer quem eu acho que ele é. Pra mim, Ryker é a personificação viva de todas as teorias da conspiração já concebidas."
Infelizmente, a publicação conta com alguns erros de digitação nos textos, mas não chega a condenar a experiência. "Cães de Guerra" acaba sendo uma ótima sugestão para todos os fãs do personagem, principalmente os que só o conhecem pelo filme, podem conferir uma aventura própria do Hulk que conta com elementos diferentes, como a corrupção no exército e o lado emocional do personagem. É uma boa recomendação junto a outros clássicos que todo mundo conhece e fala mais, como "Planeta Hulk" e "Hulk Contra o Mundo".