Não tenho pretensão de escrever qualquer análise complexa sobre esse episódio, vamos apenas continuara conversa de onde a gente parou.
É justamente nesse ponto, de onde nós paramos que jaz a minha decepção inicial com esse episódio, que é discutivelmente, inferior ao anterior... A série deu um bait safado no telespectador no fim do episódio anterior que o Murdock tinha matado um policial com as próprias mãos, e o policial - que teve a cabeça batida várias vezes contra a geladeira e caiu de pescoço (com direito a um sonoro “crack”) aparece de boa no tribunal pra depor apenas com uns roxos na cara? E tipo, ninguém nota que uma testemunha chave de um caso apareceu mais machucada do que havia aparecido antes para depor, com direito até ao Matt fazendo piadinha com o olho roxo do cara no meio da sessão... (!!)
Descarregado isso, a série
foi um bom (e já esperado) episódio de tribunal. É explicado o “motivo” do
rapaz tá apanhando no metrô (e eu sei, você quando viu ele mentindo de deixando
um homem que salvou a vida dele provavelmente pegar uma perpétua deve ter
pensado “é por isso que eu deixo se foder, se eu ver algo assim na rua”, eu
sei), Murdock fica acuado e resolve jogar a merda no ventilador e expor que o
cara era o Tigre Branco mesmo e fodam-se as consequências, é um jogo de tudo ou
nada. A série começa a mostrar toda uma moralidade bem volúvel do Matt (ou hipocrisia,
se você preferir), com o próprio juiz lembrando como o mesmo advogado que coberto
na legalidade não quis que os atos pregressos do cliente influenciassem na ação
atual, pegando o júri nesse golpe emocional.
Claramente, que na
perspectiva de telespectador, sabemos que o homem é inocente, e até
relativizamos o que o Murdock fez, mas se ponha na posição de um observador que
não sabe disso, e você odiaria o Matt. Bem como o próprio “decidir pelo outro”
que é hora de parar. Não obstante Murdock se punir, se negando o chamado para
ser um vigilante, ele tenta matar no Tigre Branco o que não conseguiu matar nele.
Psicólogos nos comentários, podem aprofundar essa questão.
Wilson Fisk claramente ficou
sem função narrativa clara nesse episódio. Apático, eu diria, e quando ele sai
da sua apatia, não existe uma motivação clara. Primeiro “ele não liga que os ratos
se matem”, depois ele segue naquela ridícula terapia de casais pra inglês ver,
só que ao final do episódio ele fica putinho pelo Murdock ter vencido o caso?
Me pareceu só uma forçada de barra pra ter um antagonismo entre eles, não sei
se mais alguém interpretou assim. É uma vontade tão grande em transpor o “Fisk
prefeito com a lei anti-vigilante” que eu não vejo ainda um alicerce argumentativo
sólido para isso. Veremos se a série aprofunda.
Gosto bastante de ver essas
cenas de tribunais, porque junto das provas, datas e depoentes, é sempre
interessante, quando bem escrito, quando um advogado e um promotor se
enfrentam. Há todo um jogo entre A vs B sobre a leitura dos fatos. Mas a série
entrega pouco espaço para o promotor, que até faz um ponderamento racional, mas
logo é suprimido. Ficou um tempo de tela muito a favor do protagonista, fazendo
parecer fácil como ele ganhou o caso.
E agora vamos pra “polêmica”
(apenas para pessoas com probleminhas) caveira do Justiceiro, e sua “apropriação
indevida”. Encerramos - talvez até de forma literal demais - o arco do Hector. Ok,
o problema é uma parte da corporação policial que fez grupos de extermínio
paralelos inspirados no Justiceiro. Há uma validade na crítica, mas uma certa
desonestidade argumentativa nisso, ao menos eu fico com essa percepção. Grupos
de justiçamento sempre existiram e sempre vão existir, independente de um
personagem fictício nos quadrinhos. Tem muito “noia” que faz uma tattoo do Coringa
na perna ou no braço e reinterpreta esse símbolo, tem grupos de milícia que
pegam o símbolo do Batman, grupos extremistas que podem pegar desde da Máscara
do V de Vingança (era uma febre, vocês lembram?), ao rosto do Pantera Negra ou
mesmo até a maquiagem do Coringa do Joaquin Phoenix (fora um monte de
traficante com a porra da bandeira do Flamengo, enfim, tô divagando, mas você
entendeu). Isso só mostra que a ficção inspira a realidade, e vice-versa, mas
não de uma maneira preguiçosa e conveniente que muita gente pode colocar, sabe
aquela história do “saiu matando na rua porque matou no joguinho”?