O
Retorno de Barry Allen – A Melhor História do Velocista Escarlate
Um conceito presente nas histórias de super heróis é legado, a ideia desses personagens, que acompanhamos lendo suas hqs, passando seus mantos para sucessores. Embora esse tipo de narrativa, na maioria dos casos, não chegue a ser algo permanente, devido à natureza cíclica do status quo para manter as figuras associadas com o marketing, isso não impediu autores de explorarem a ideia em seus trabalhos, com alguns casos tendo um sucesso tão grande que o público considera esses sucessores as versões oficiais desses personagens icônicos.
Nesse texto irei falar de um desses sucessores cujas histórias foram tão bem recebidas, que ele se tornou um personagem muito querido pelos fãs leitores: Wally West, o alter-ego do Flash.
Tendo feito sua estreia
nas hqs como Kid Flash, sidekick do
Flash original (Barry Allen), Wally viria a ter uma evolução após a saga épica
da Crise das Infinitas Terras, onde seu mentor se sacrificou para salvar o
multiverso. Sentindo que o mundo não podia ficar sem um velocista escarlate,
Wally, relutantemente, escolheu assumir a identidade de seu ídolo, transformando-se
no novo Flash das hqs.
Isso não foi uma tarefa
fácil, porém o rapaz conseguiu se provar um sucessor digno. Porém seu maior
teste viria nas edições de The Flash vol
2 nº 74 a 79, no ano de 1993. Escrito por Mark Waid e arte de Greg Larocque,
esse arco girou em torno da volta inesperada do Flash original, Barry Allen, e do
impacto que isso teve no estado emocional de Wally.
Trama
Numa noite de Natal,
Wally e seus amigos celebravam o feriado em sua casa quando recebem um
convidado surpreendente: Barry Allen.
O herói que todo mundo
julgava estar morto explica que, de alguma forma, foi transportado para um beco
da cidade, sem memórias do que tinha acontecido. Apesar de desconfianças, Wally
e os outros recebem Barry de braços abertos, felizes com a volta do velocista.
Não demora muito para ele se juntar ao Wally em suas aventuras, o que deixa o
rapaz meio incomodado, questionando qual seria seu propósito agora que o Flash
original voltou.
No entanto, as coisas
mudam para pior quando Barry começa a demonstrar um comportamento narcisista e
instável. Acusando Wally de ter tentado fazer as pessoas se esquecerem dele, o
maluco deixa seu parceiro para morrer numa explosão e jura vingança contra
Central City.
Conseguindo escapar,
Wally percebe que precisa assumir a responsabilidade de deter Barry e sua
insanidade. Mas, como ele poderá se opor ao homem que ensinou tudo o que ele
sabe?
A
ousadia de Waid
Um dos pontos fortes
dessa história são as decisões ousadas que Mark Waid tomou. Vale lembrar que,
na época dessa publicação, a internet não era algo comum para dar spoiler, e morte e ressurreição nos
quadrinhos não eram tão abusados quanto são atualmente. Para os fãs que leram
essas edições, foi um choque ver Barry Allen de volta dos mortos, com alguns
podendo ficar curiosos se ele iria reassumir seu lugar.
Claro que o retorno dele não era só flores. Isso podia arruinar o impacto que a morte de Barry teve durante aquela saga da Crise. Esse risco aumentou ainda mais com a decisão de Waid de tornar Barry o antagonista desse arco, algo que poderia ser visto, por seus fãs, como um desrespeito em relação ao personagem e seu legado.
O que salvou essa
história foi o ritmo, com Waid juntando tudo em apenas um arco bem resumido,
nunca deixando a história se estender demais e mantendo o foco por trás da
volta de Barry e sua corrupção. Quando é revelado o motivo por trás do
comportamento do ex-herói, os leitores testemunham uma das revelações mais
chocantes das hqs, coerente com as pistas deixadas pelo autor durante o
progresso da história.
O
símbolo de coragem
Se Superman é um
símbolo da esperança, Batman é um símbolo de justiça e Mulher Maravilha é um
símbolo da verdade, o que o Flash representa? Qual a temática recorrente em
suas histórias?
A resposta é: Coragem.
Em sua essência, a
história do Flash é sobre um homem bondoso e com um senso de justiça que recebe
um grande poder e a responsabilidade de usá-lo para proteger seus amigos e seu
lar, enfrentando seu problemas de frente ao invés de tentar fugir deles.
Simultaneamente, é também uma história sobre paciência, com o herói ligeiro
tendo que saber quando parar e pensar ao invés de agir por impulso e ansiedade.
Wally West representa
isso melhor do que qualquer um que usou seu manto. Ele é um rapaz que apenas
deseja respeitar o legado de seu ídolo e mentor, o que o leva a colocar muita
pressão sobre seus ombros. Isso o torna um alvo fácil para o Barry Allen
insano, que facilmente consegue quebrar a confiança de Wally ao se virar contra
ele e contra a cidade, fazendo-o ficar desiludido com o herói que ele tanto
admira.
Mesmo após ter decidido
enfrentar Barry, Wally ainda tinha um obstáculo a superar: é revelado por seus
mentores (Jay Garrick, Max Mercúrio e Johnny Quick) que ele tem poder o
bastante para ultrapassar o poder de Barry. Porém, sempre foi contido por causa
da insegurança de Wally em superar seu mentor, fazendo o público se esquecer
dele.
Embora a idolatria e
respeito que Wally tem por seu mentor seja tocante, o fato dele deixar isso
limitar o potencial é uma forma astuta de Waid realizar uma metacrítica aos fãs
e como sua obsessão com o passado os impede de abraçarem novas possibilidades.
Isso é refletido no comportamento de Barry Allen e sua fúria em não querer ser
substituído e esquecido, uma atitude presente em vários fãs tóxicos e egoístas
(ex: fãs de Star Wars, de Homem Aranha, do Zack Snyder, etc...).
Tudo isso serve como
construção para o clímax, onde Wally finalmente confronta seu antigo mentor,
expondo a verdade sobre sua loucura e, finalmente, abraçando sua verdadeira
força, provando como ele não só conseguiu se igualar ao Barry, mas também
superá-lo. Assim, criou sua identidade própria como o Flash.
Considerações
finais
Desde que eu era
criança, Flash era o personagem que eu curtia muito nos desenhos da Liga da
Justiça Sem Limites, mas nunca a ponto de ser um dos meus favoritos (esse lugar
pertencia a figuras como Arqueiro Verde ou Caçador de Marte).
Foi graças a hqs como
essa que minha opinião mudou, com Wally West se tornando não só meu Flash
favorito como também um dos meus super heróis favoritos (perdendo apenas para o
Noturno dos X-men). Enquanto os desenhos apresentaram uma versão divertida e
cômica, as hqs demonstraram o quão relacionável o personagem é, destacando que
sua maior força não estava em seus poderes, mas sim na sua determinação para
fazer a coisa certa, mesmo diante de situações absurdamente desconfortáveis.
Se tem uma hq que eu
recomendaria para demonstrar minha admiração pelo Velocista Escarlate, e o
porquê dele ser um dos melhores heróis de todos, sem dúvida seria “O Retorno de
Barry Allen”.
Nota:10/10
Então é isso! Qual a
opinião de vocês quanto ao “Retorno de Barry Allen”? Sintam-se à vontade para
colocar suas opiniões nos comentários abaixo...