A cura católica (Resposta ao post " 'Boys erased' e a 'cura gay'")



 Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que não tenho nada contra o autor do post ( https://ozymandiasrealista.blogspot.com/2019/02/boy-erased-e-cura-gay.html ) que agora respondo e espero que ele não se sinta nem  um pouco menos bem vindo ao blog por conta desta resposta (que vai contra certas idéias exprimidas e não contra a pessoa que as exprimiu).
Em segundo lugar, creio que eu seja minoria no que se refere a esse assunto (diferente de alguns outros assuntos polêmicos sobre os quais eu escrevi aqui em que eu provavelmente estava de acordo com a maioria dos escritores/frequentadores do blog, ou assim pareceu) que é altamente sensível, mas creio que a pluralidade de ideias e a expressão de diferentes pontos de vista seja sempre bem vinda, e inclusive gostaria que houvessem mais discordâncias dentro do blog (de posts com respostas me lembro apenas de uma discussão que tive com o Joker sobre o racismo na sociedade e o Trump). Claro que o blog abrange uma diversidade de assuntos (sendo o principal deles gibis) e não quero o tornar em um blog sobre política mas as eventuais contendas são positivas na minha opinião. Dito tudo isso, vamos ao que interessa.


 Recentemente foi publicado um texto aqui no blog com o título "Boys erased e a cura gay" abordando o tema por meio de um filme que não chegou a passar no Brasil. Neste post, o autor defendeu alguns pontos de vista que eu gostaria de responder em "grupos de argumentos", sendo eles:


1- A natureza do homossexualismo

2- O preconceito de grupos religiosos contra homossexuais
3- A cura gay propriamente dita

1- A natureza do homossexualismo


   No texto, o autor, que utiliza o nome de Pee Wee,  defendeu que a homossexualidade não pode ser definida como escolha ou doença e completa dizendo que "Ser homossexual, heterosexual, bissexual, panssexual e todas as outras formas de orientações sexuais que existam não te tornam um doente, te tornam um ser humano decidido". Tentarei agora analisar cada uma destas afirmações e ver onde concordo e onde discordo para que se possa  encontrar pontos em comum e apontar as discordâncias onde realmente existem.
   Primeiramente, creio que concordo com Pee Wee quando ele diz que homossexualidade não é uma doença, pelo simples fato de que nunca me foi apresentado argumento convincente para tal. Creio no entanto que seja sim uma anormalidade (o ser humano opera de forma em que apenas um casal heterossexual pode chegar a deixar descendência, fazendo com que a homossexualidade não esteja dentro do "padrão" humano e vá contra a natureza comum deste). Existem pessoas com o metabolismo mais rápido e outras com o metabolismo mai lento, mesmo assim nenhuma delas é doente por conta disso (desconsiderando é claro, níveis extremos) e creio ser este o mesmo caso da homossexualidade (embora eu possa estar me equivocando por não estar em posse de uma boa definição para doença. A principio mantenho os meus pontos).
 Tão pouco creio que a homossexualidade seja uma escolha (como pode ter se evidenciado no parágrafo anterior). E me parece também que o senhor Pee Wee acabou entrando em contradição ao primeiro dizer que a homossexualidade não é uma escolha (até mesmo se desculpando por sugerir a hipótese de que fosse) para mais tarde dizer que ser um homossexual faz de você um "ser humano decidido", afinal, apenas podemos estar decididos de uma escolha! Ninguém é decidido quanto a ter dois braços mas as pessoas podem estar decididas a dar uma volta em torno da Lagoa. Mesmo assim, a contradição pode ser explicada  caso Pee Wee não tenha tido em mente o mesmo significado de "decidido" em mente quando escreveu se post (ou seja, pode ter sido apenas uma infeliz escolha de termos), e só apontei a aparente contradição para que ele mesmo possa me explicar o que quis dizer e possamos discutir o assunto dentro de um entendimento mutuo.
 Em resumo, Pee Wee acredita (ou ao menos foi isso que eu entendi lendo o texto, podem me corrigir caso eu esteja errado) que a homossexualidade não é nem uma doença, nem uma escolha mas sim uma disposição normal quanto as relações sexuais (da mesma forma que a heterossexualidade). Nisso nós concordamos em grande parte exceto no que se refere a "normalidade", uma vez que eu creio que com base no argumento previamente apresentado a homossexualidade não seja o estado normal do ser humano (lembrando que anormal não é necessariamente ruim).

2- O preconceito de grupos religiosos contra homossexuais


Chegamos ao que eu creio ser o ponto principal deste meu post. Vejo muitas vezes discussões quanto a relação entre homossexualismo e cristianismo (que é a única religião que eu conheço bem o bastante para opinar sobre com o mínimo de base) onde todos os lados me parecem errar, sejam os religiosos atacando os homossexuais, homossexuais dizendo que o cristianismo é homofóbico e cristãos dizendo que homossexualidade não é pecado (e que tal noção provem de interpretações errôneas).
 Falarei primeiro sobre o último grupo citado, pois creio que são os mais comuns. Dentro da Igreja Católica (e falarei apenas do Catolicismo pois não é dividido como o protestantismo e possui uma série de dogmas intransponíveis dentro da religião) a homossexualidade é sim pecado. Ou melhor, a prática da homossexualidade é pecado. Isso faz parte da religião e é a posição oficial da Igreja (não, o Papa Francisco não mudou isso) assim como o direito à legitima defesa e o respeito a autoridade papal. Qualquer católico que se oponha a isso está se opondo ao catolicismo.
 Dentro dessa noção dos dogmas católicos vemos diversas criticas. A mais comum é a de que  Igreja é homofóbica. Creio que tal afirmação seria verdadeira caso a Igreja mandasse atacar homossexuais e os atacasse enquanto pessoas, mas não é isso que acontece. A Igreja católica tem sido um centro da tolerância à séculos. Nenhum católico sério irá te atacar pessoalmente ou te tratar diferente por você ser homossexual da mesma forma que nenhum católico sério irá negar a natureza pecaminosa da atividade sexual caso você o questione sobre isso. É importante que as pessoas entendam que condenar a prática da homossexualidade não é a mesma coisa que condenar os homossexuais!
 Finalmente temos o últimos grupo de religiosos que se acham no direito de diminuir homossexuais. Para os católicos que fazem isso (embora eu veja mais acontecendo do lado protestante não tenho como afirmar que não ocorre por parte de católicos) eu gostaria de lembrar que a prática da homossexualidade é sim um pecado, mas sabe o que mais é um pecado? Sexo antes do casamento! Sabe o que mais também é pecado (e nesse caso creio que muito mais grave do que os outros citados)? Divórcio! Mesmo assim nunca vemos nenhum religioso atacar divorciados ou pessoas que transam antes de casar. Mais ainda, nunca vemos grandes contendas públicas quanto a proibição do divórcio ou do sexo pré-matrimonial. Isso nos leva ao último assunto...

3- A cura gay


 Esse assunto acaba sendo ainda mais complexo do que os assuntos anteriores porque não envolve apenas as crenças de uma determinada religião, leva em conta uma questão de liberdade também. Por exemplo, eu sou completamente contra a proibição do casamento gay, já que não compete ao estado decidir se os homossexuais podem casar ou não. Ao mesmo tempo, acho errado obrigar determinado membro de algum clero religioso a realizar um casamento que vá contra os preceitos de sua religião.
 A questão da cura gay é semelhante embora um pouco mais complicada. Afinal, a maioria (eu incluso) não faz ideia da eficiência de tal programa e, como bem apontou Pee Wee em seu texto, existe uma preocupação quanto a abusos que possam ser realizados em pacientes. Creio eu que em relação a estes abusos seria errado condenar o método uma vez que abusos médicos ocorrem em relação ao tratamento de verdadeiras doenças. Deveríamos, ao meu ver, condenar estes abusos e fazer questão de que não ocorram como é feito com qualquer outro tratamento, sendo que os abusos em si me parecem um argumento fraco contra a legalização da "cura gay".
 Indo mais em direção a outro argumento, muitos dizem que não se pode legalizar a "cura gay" justamente pelo homossexualismo não ser uma doença (a frase de efeito dos opositores desta legalização era justamente "Não há cura para o que não é doença"). O argumento mudaria então se passássemos a nos referir ao mesmo procedimento como recondicionamento sexual? Então creio que diriam que não pode ser legalizado porque não há nada de errado em ser homossexual e portanto não é preciso um tratamento. Mas quem são essas pessoas para decidir isso? Se, por exemplo, um homossexual católico quiser passar pelo tratamento por o preferir em relação ao celibato (que é o caminho a ser seguido pelos homossexuais segundo a Igreja) quem é o governo para o impedir? Estariam os supostos defensores do homossexuais o defendendo de escolher o seu próprio caminho e seguir a sua religião?

Conclusão:


 Acho que me fiz claro ao defender esta legalização não porque acho que o tratamento funciona (pois não faço ideia) mas porque qualquer um que ache que funciona deveria ter o direito de passar por ele. Para mim é absurdo que terceiros decidam uma coisa dessas por você (ou seja, também sou contra forçar qualquer um a passar por esse tipo de tratamento).
 Acho absurdo que as pessoas queiram se colocar em uma posição de condenar a Igreja Católica (e outras igrejas) por sua posição contra as práticas homossexuais. Entendo quando esses ataques se devem a estas instituições (e seus fieis) tentarem retirar algum direito e/ou atacar alguém (como no caso da proibição do casamento gay) mas não me parece razoável quando estes ataques vão contra a doutrina em si e tentam coagir os outros a irem contra suas crenças pessoais (como no caso de multar cristãos que não queiram fazer um bolo para um casamento gay). Para muitos, parece que se a sua visão pessoal do mundo vai contra a visão de uma instituição milenar baseada na crença de uma verdade absoluta a respeito do universo e responsável pelo florescimento e avanço da civilização ocidental, então a instituição milenar baseada na crença de uma verdade absoluta a respeito do universo e responsável pelo florescimento e avanço da civilização ocidental deve mudar. É um posicionamento pretensioso e arrogante, além de autoritário.
 Sei que é um assunto delicado, afinal, muitos conhecem pessoas e casais homossexuais que são queridos e não querem arriscar diminuir essas pessoas (eu incluso) mas o que a sociedade moderna tem dificuldade em entender é que a religião não é um componente qualquer da sua visão de mundo, é a crença da verdade absoluta sobre a realidade e a moralidade. Nenhum religioso sério iria contra a sua própria crença porque alguém acha que essas crenças são inconvenientes. Além disso, é injusto pedir isso de nós, ainda mais quando se exige respeito a uma certa prática sexual. É a sua prática sexual mais importante do que a Religião alheia? No próprio texto de Pee Wee, ele diz ser errado dizer ao seu filho homossexual que as práticas homossexuais são erradas, mas com que direito você pode limitar um pai de explicar sua fé ao filho (claro que eu parto do pressuposto de que o pai não baterá, castigará ou amará menos o seu filho por causa disso, apenas explicará sua posição religiosa). Não que este seja o caso de Pee Wee mas hoje em dia me parece que muito se fala sobre a importância de se tolerar todas as religiões, exceto quando se fala do cristianismo.
Esse é um meme sobre protestantes mas me parece que se aplica bem aos que querem retirar a "crenças inconvenientes" do cristianismo.

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