Guerras
Asgardianas - Quando X-men conheceram o reino dos deuses
Um dos fatores que contribui para o sucesso dos X-men como personagens é a forma como suas histórias combinam aventuras e conceitos fantásticos de super heróis com temáticas bem profundas sobre tópicos como identidade, busca por comunidade e luta contra preconceito e opressão.
Isso pode levar alguns assumir que as histórias dos X-men se limitam apenas
a Terra, com eles lidando com problemas mais “pé no chão” como grupos
anti-mutantes. Porém essa é uma visão subestima o potencial criativo das hqs.
Enquanto algumas delas
podem ter os X-men em casos abordando o confronto entre humanos e mutantes na
Terra, outras podem leva-los a cenários bem mais surreais, ainda conseguindo
transmitir fortes mensagens filosóficas.
Não importa se a trama envolvia os X-men lutando contra Magneto e os
Sentinelas na Terra, ou eles indo para o espaço e enfrentando ameaças como a
Ninhada ou o Império Shiar, suas histórias sempre tinham algo importante a dizer em seu
contexto.
É por isso que
histórias como Saga da Fênix Negra, Dias do Futuro Esquecido ou Deus cria, homem mata, se mantém como as
maiores histórias do grupo até os dias de hoje.
Nesse texto, irei falar
sobre um desses arcos, um que não chega ser tão falado pelos fãs, exceto por um
momento específico que é referenciado em várias histórias. Me refiro as Guerras Asgardianas, uma saga, escrita
por Chris Claremont (sem dúvida o roteirista mais importante dos X-men), cuja
trama principal gira em torno dos X-men tendo que enfrentar Loki, o deus da
trapaça, que busca usar os mutantes em seus esquemas para dominar Asgard.
Mas o que torna essa
história tão especial? É apenas uma aventura divertida dos Filhos do Átomo no
mundo dos deuses ou tem algo mais profundo em seu roteiro?
Vamos descobrir....
Trama
Diferente de outras
histórias que analisei, Guerras Asgardianas se distingue por ser, na realidade,
composta por duas histórias distintas mas ao mesmo tempo similares.
Dádiva (publicada em X-men and Alpha Flight 1-2): Voltando de uma viagem, o avião de Scott e sua esposa Madelyne é pego numa tempestade misteriosa nas montanhas do Canadá. Sentindo seus amigos em perigo, os X-men e a Tropa Alfra decidem investigar.
Sua busca os leva a reencontrar seus amigos vivendo numa cidadela, onde a maioria se tornaram super humanos.
É revelado que ela
contém uma fonte de energia que concede poderes para humanos, o que poderia
representa esperança de finalmente encerrar os problemas do mundo, incluindo as
os conflitos entre humanos e mutantes.
No entanto, quando
figuras como o Shaman e a Pássaro da Neve começam a demonstrar sintomas
estranhos, os X-men e seus amigos percebem que seu desejo não poderá ser realizado
sem um grande sacrifício.
Não há lugar como lar (publicada em New Mutants Special Edition nº1 e X-men Annual nº9): Enquanto espionava os mortais, Loki desenvolve um interesse pela Ororo, a Tempestade (que na época tinha perdido seus poderes).
Vendo a mutante como um instrumento para lhe ajudar a conquistar o trono de Asgard, o trapaceiro envia Encantor para sequestrar a heróina. No processo, ela acaba acidentalmente, capturando também os Novos Mutantes.
Para salvar seus
amigos, Illyana, a Magia, usa sua habilidade para transportar seus amigos,
acidentalmente, fazendo eles irem parar em diferentes partes dos reinos. Agora
sozinhos e separados um do outros, os Novos Mutantes teriam que sobreviver a
vários perigos enquanto tentam se reunir e impedir Loki de transformar Ororo em
sua deusa do trovão.
X-men
fora da zona de conforto
Só pelo resumo da
trama, dá pra se ter uma ideia da viagem que é esse arco.
Ao invés de enfrentarem
Sentinelas e vilões mutantes na Terra, os X-Men são levados a um mundo de
aventura e fantasia, estilo Senhor dos Anéis, com o roteiro se aproveitando do
cenário para criar momentos marcantes como Tempestade se tornando uma deusa do
trovão e enfrentando a deusa da morte Hela, Mancha Solar ficando amigo dos Três
Guerreiros, o breve mas fofo romance da Lupina com Hrimhair, entre outros
Pode não ser algo
esperado numa história dos X-men, mas é algo que Claremont soube usar para se
divertir com os personagens.
O desafio de Loki
Além de Guerras Asgardianas terem muita ação e aventura de hqs de super heróis, também possui, em sua trama, uma história profunda sobre escolhas, sacrifícios e busca por paraíso.
Por serem mutantes, os X-men sempre são vítimas de rejeição e discriminação pelos humanos que tanto protegem. Mesmo após terem salvo o mundo, nada parece mudar a relação entre os dois grupos. Naturalmente, isso faz alguns deles se sentirem alienados e desejarem encontrar um lugar onde eles possam ser aceitos.
É aí que o papel de
Loki como antagonista ganha significado. Ele não é tratado como um vilão para
os X-men espancarem. Seu desafio é mais ideológico.
Em ambos encontros,
Loki busca manipular os X-men, oferecendo chances poderem escapar de seu
tormento, seja transformando os humanos em deuses ou deixando os X-Men viverem
em Asgard.
Porém, o mal sempre
traz presentes. As ofertas de Loki não são feitas de boa vontade (é tudo
esquemas para ele obter mais poder) e todas elas dadas tem preço: Sua fonte
mística pode tornar humanos em deuses, mas a custo não só da criatividade do
seres humanos, como também das vidas de usuários de magia. Já a estadia dos X-men
em Asgard só pode ser feita se todos concordarem em ficar, incluindo aqueles
que desejam voltar para Terra.
Ambas histórias concluem com os X-men tomando decisões que demonstram como a busca deles por um mundo melhor não se trata de seu bem-estar ou só da raça mutante, mas sim o melhor para todos os seres vivos.
Considerações
finais
Por causa de seus
tópicos complexos e relacionáveis, é comum assumir que histórias como os X-men
devem ter seus conceitos fantasiosos limitados, que suas histórias precisam se
passar na Terra e envolver eles se limitando a enfrentar apenas mutantes e
humanos extremistas.
No entanto, arcos como Guerras Asgardianas demonstram o quão
incorreto essa visão é. Uma história ser mais fantasiosa não impede grupos como
os X-men de continuar a ter boas histórias, que desenvolvem seus personagens e
abordam suas temáticas. São as formas como autores e artistas exploram esses
tópicos realistas nesses conceitos fantasiosos que torna hqs dele (e de várias
outras hqs em geral) obras tão fascinantes.
Por isso considero Guerras Asgardianas uma das melhores
histórias dos X-men e uma recomendação para muitos fãs, especialmente aqueles
que desejam ver os Filhos do Átomo em uma aventura nova e diferente do que
estão acostumados.
Nota: 10/10
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