Venho, mais uma vez, escrever um post por uma razão triste, o falecimento do grande cartunista Ziraldo, ontem, 6 de abril, aos 91 anos, o Picasso brasileiro, o verdadeiro “imbroxável”. Se disser que estou surpreso com sua morte, estarei mentindo. Ele estava com idade avançada e teve já um infarto e alguns AVCs. No entanto, já o botava no rol dos imortais que acabaram por morrer, como Niemeyer, Derci Gonçalves, Stan Lee e Godard.
Mineiro de Caratinga,
nascido em 1932, Ziraldo Alves Pinto chegou a estudar no Rio de Janeiro e formou-se
em Belo Horizonte, na UFMG. Ziraldo tinha um irmão famoso na época, o jornalista
e também cartunista Zélio Alves Pinto. Porém, foi no Rio de Janeiro que
construiu sua carreira de cartunista, trabalhando para jornais e revistas como Folha
da Manhã, O Cruzeiro e Jornal do Brasil.
Alguns de seus personagens
sem dúvida caíram no gosto do público. É o caso por exemplo de Jeremias, o Bom, o qual na realidade era uma paródia do cidadão modelo, que provavelmente seria
cancelado hoje em dia nestes tempos tão polarizados por ser um “cidadão de bem”.
Supermãe, a mãe superprotetora, também se tornou uma personagem de grande
sucesso.
Em 1960, Ziraldo
criaria a primeira revista em quadrinhos infantil nacional, A Turma do Pererê, pois queria ter no mercado
uma HQ que se contrapusesse às HQs infantis norte-americanas, com as da Disney,
Luluzinha e Bolinha, Pinduca etc. A Turma do Pererê fez sim certo
sucesso, mas foi engolida pela Turma da Mônica de Maurício de Sousa. Ziraldo
tinha uma concepção indianista e folclórica de um gibi infantojuvenil; porém, a
Turma da Mônica dialogou melhor com as crianças, pois seus protagonistas eram
crianças de um núcleo urbano, viviam no Bairro do Limoeiro em São Paulo, e eram
lidos por crianças que também viviam no núcleo urbano e com quem se
identificavam.
Evidentemente que se
deve destacar a atuação de Ziraldo em O Pasquim, um periódico de humor
inspirado no periódico francês Charlie Hebdo,
que durante os governos militares, os “anos de chumbo”, foi sobretudo de oposição
e sátira. Além de Ziraldo, havia outros jornalistas e cartunistas de renome,
como Paulo Francis, Jaguar, Flávio Rangel e Sergio Cabral (o pai do Sergio
Cabral político, ex-governador do Rio e condenado e preso por corrupção).
Com a redemocratização,
Ziraldo passou a exercer o ofício que mais lhe deu notoriedade nas últimas
décadas, que foi o de autor de livros infantojuvenis. Seu primeiro livro do gênero
foi Flicts, em 1969; porém, foi apenas com O planeta lilás e,
principalmente, O menino maluquinho, em 1980, seu maior sucesso editorial
até hoje, que ele deslanchou de vez. Após esses, vieram outros grandes sucessos
editoriais como O bichinho da maçã, O menino marrom, Uma
professora muito maluquinha e outros.
Não que Ziraldo também
não tenha tido algumas decisões editoriais duvidosas. No final dos anos 90, ele
foi um dos editores da revista Bundas, um nome que é uma óbvia paródia à
revista de fofocas Caras. Com remanescentes do Pasquim, ele quis
fazer uma revista de oposição ao governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso;
a diferença é que se viviam tempos democráticos. Nos anos 90, os petistas liam duas
revistas, a Carta Capital, que infelizmente continua a ser publicada até
hoje, e a Bundas. Não que eu seja contra fazer humor e paródias
políticas; acho que é válido tanto em tempos autoritários quanto em tempos
democráticos, mas se pegarmos a Charlie Hebdo, por exemplo, apesar de
eles fazerem um humor bem pesado, esculacham todo mundo, da direita à esquerda.
Depois que o governo Lula começou, a Bundas chegou ao fim, pois só servia
para criticar o governo de FHC.
Nos últimos anos,
Ziraldo estava semiaposentado, em razão de seus problemas de saúde, porém
vários de seus trabalhos foram exibidos em mostras, como a Zeróis, uma paródia
dos super-heróis norte-americanos. Além disso, vez por outra, ele participava
de eventos literários e fazia aparições públicas, mas estas foram ficando cada
vez mais raras.
Enfim, fica aqui minha
homenagem a esse que inegavelmente foi um dos grandes cartunistas brasileiros do
século passado e também deste. Vale dizer que Ziraldo é pai da famosa cineasta Daniela
Thomas. R.I.P.
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