HORA DO DUELO – Frankenstein (1931) vs A Maldição de Frankenstein (1957)

 


HORA DO DUELO – Frankenstein (1931) vs A Maldição de Frankenstein (1957)

Tal como os filmes de super heróis dominam os cinemas hoje em dia, os filmes de terror fizeram o mesmo na década de 30/40, com a Universal tendo produzido várias obras de sucesso do gênero como Drácula (1931), Lobisomem (1941), O Homem Invisível (1933) e outros.



Desses filmes dessa franquia, o que é considerado um dos mais influentes é Frankenstein, de 1931.  Baseado no livro de Mary Shelley, o filme tem como foco o doutor Victor Frankenstein (cujo primeiro nome no filme foi mudado de Victor para Henry), um cientista que, em sua busca para criar vida, acaba criando um monstro, vivido pelo ator Boris Karloff.



Diferente de outros antagonista dessa franquia como Drácula de Bela Lugosi, o monstro de Frankenstein não era retratando como um vilão malicioso mas sim uma vítima, uma criatura ingênua e com falta de compreensão de suas ações e o mundo que vive, com a atuação do Karloff contribuindo pro público desenvolver uma simpatia pelo pobre monstro.



Desde de seu sucesso, Frankenstein se tornou um ícone na cultura pop, sendo a fonte de inspiração para vários criadores e artistas como Sam Raimi e Stan Lee.




No entanto, embora o filme de Karloff seja um clássico, existe uma adaptação da obra de Shelley que considero tão boa quanto a versão da Universal: A Maldição de Frankenstein, de 1957.



Produzido pelos estúdios Hammer, o filme, estrelado por Peter Cushing e Christopher Lee, é um remake, recontando a história de Frankenstein e de seu monstro. Embora a história tem suas diferenças com o filme da Universal, sua trama foi bem desenvolvida, com o filme se tornando um sucesso e marcando o início dos filmes de terror da Hammer, como Drácula e Múmia, que também tiveram Cushing e Lee nos papéis principais.



Mas, dessas duas versões do Frankenstein, qual foi o melhor? Qual deles conseguiu ter a melhor história representação dos personagens?



Vamos descobrir...

CINEMATOGRAFIA E EFEITOS

Um dos aspectos que os filmes de terror da Universal são lembrados são por seus visuais e ambientes góticos, sejam seus castelos antigos, regiões montanhosas, vilarejos, cemitérios com neblina, tudo conseguindo passar a atmosfera icônica de um filme de terror clássico. Frankenstein não é exceção a isso. Só de ver imagens como do laboratório do doutor Frankenstein ou do velho moinho de vento, já se identifica o filme que está sendo mostrado.



O filme da Hammer conseguiu recriar bem essa ambientação, tendo vantagem de ter coragem, maquiagem e efeitos um pouco mais avançados comparados com os dos anos 30, além de terem menos censura, conseguindo mostrar cenas mais violências e com sangue bem vermelho.



Só por isso o filme da Hammer deveria ganhar nessa categoria, mas o filme da Universal tinha uma vantagem: Técnica. Embora não abertamente violento com o da Hammer, o filme sabia detalhes como a falta de som no background ao seu favor, aumentando o suspense nos momentos de terror.

Melhor exemplo disso é a cena do Frankenstein com a jovem Maria no rio. O cenário silencioso ajuda a colocar o público num estado de ansiedade quando começam a ouvir os passos do monstro se aproximando da menina, e uma incerteza sobre o que ele fará com ela.



Por esse motivo, embora o filme da Hammer seja incrível, a versão da Universal continua sendo a melhor nessa categoria.

Vencedor: Frankenstein (1931)



ELENCO DE APOIO

Uma das diferenças entre o elenco de apoio do Frankenstein e o da A Maldição de Frankenstein se encontra no número de personagens. O filme de 1931 possui um elenco bem maior composto por personagens como o assistente corcunda Fritz, o sábio doutor Waldman, a noiva de Frankenstein Elizabeth e amigo deles Victor.  Já o filme da Hammer tinha um elenco bem menor, com os personagens mais importantes sendo Paul Krempe (mentor e amigo de Frankenstein), Elizabeth (a noiva do cientista) e Justine (criada e amante do Frankenstein).



Ambos elencos são bons, porém o do filme de 1957 dá um propósito maior para cada um de seus personagens, permitindo cada um deles ter um destaque na história. Por exemplo: Elizabeth nessa versão não está ciente dos experimentos de seu noivo, o que cria suspense pelo fato dela estar vivendo numa casa com um monstro no porão como também justifica Paul começar a criticar Frankenstein por estar disposto a realizar um experimento que coloca a vida de sua esposa em risco.

Falando no Paul, apesar de seu papel ser uma mistura do doutor Waldman e do Fritz, como um mentor/assistente para Frankenstein, ele tem um arco, indo de alguém que ajudou a tornar Frankenstein no grande cientista que ele é, para aos poucos se afastar de seu discípulo, vendo o quão obcecado ele se tornou a ponto de cometer atos questionáveis.



Enquanto o filme da Universal tem um elenco maior, o filme da Hammer tem um elenco mais desenvolvido e com um papel maior para a história.

Vencedor: A maldição de Frankenstein (1957)



O MONSTRO

Nesse ponto nem deveria ter discussão. O vencedor já tá na cara que será o Boris Karloff. Tal como Christopher Reeves como Superman e Robert Downey Jr como Homem de Ferro, Karloff foi o ator que definiu o o monstro de Frankenstein. Quando a maioria do público pensa na criatura com certeza pensam na imagem do Karloff.



Mas isso não significa que Christopher Lee tenha sido ruim no papel. Muito pelo contrário. Tal como Drácula, ele conseguiu dar ao monstro uma presença forte e assustadora, e a maquiagem dele é fantástica. No entanto aí que está o problema: O monstro do Lee é muito selvagem e instável, não tendo a mesma inocência que a versão do Karloff.



Tem também a questão das expressões do monstro. Enquanto Karloff, apesar da falta de diálogos conseguia transmitir o que a criatura estava sentindo e pensando através de suas expressões e gestos, Christopher Lee era mais frio e reservado, agindo mais como um zumbi assassino do que um indivíduo curioso e confuso com o mundo ao seu redor.

Isso fica evidente no momento em que a criatura escapa do castelo/casa do Frankenstein. Na versão do Karloff ele se demonstra curioso com o mundo que está vendo pela primeira vez. Quando conhece Maria, uma garotinha brincando perto do lago, ele sorri ao sentir o cheiro das flores e quando acidentalmente mata a menina ele se mostra confuso com a morte da garota, não conseguindo compreender o que fez, tudo isso bem representado pela atuação do Karloff .



Já versão do Lee, ao escapar do laboratório de seu criador, se encontrar com um velho cego e o mata, não demonstrando uma emoção sequer diante suas ações.



Por causa dessa falta de expressão, a versão do Lee acaba não se igualar a versão do Karloff, que continua ser o monstro mais icônico dos cinemas.

Vencedor: Frankenstein (1931)



O CIENTISTA

As duas versões do Doutor Victor Frankenstein são vividos por atores excelentes, mas suas representações diferentes como o dia e a noite.

No filme da Universal, Colin Clive retrata o doutor Frankenstein(como um cientista que começa filme obcecado em criar vida mas logo percebe seu erro após ver o caos causado por seu monstro, assumindo a responsabilidade de elimina-lo.



Já no filme da Hammer, o cientista é vivido por Peter Cushing, cuja versão é muito mais sociopata que a versão de Clive, cometendo um atos cada vez mais cruéis, nunca reconhecendo o erro de suas ações. Mesmo quando o monstro se demonstra fora de seu controle e mata um inocente, o Frankenstein de Cushing se recusa a mata-lo e abrir mão de seu experimento, ainda achando que pode "conserta-lo".



Logo, a melhor versão depende do que você prefere: Um personagem capaz de se redimir ou um personagem antipático e irredimível?

Nesse caso, em minha opinião, embora eu curta a versão de Colin Clive, eu acho que Cushing é muito melhor. Além de ser um dos meus atores favoritos, ter o Frankenstein sendo essa pessoa terrível tornar o momento em que o monstro se vira contra ele muito mais merecedor, representando a consequência dos atos do cientista louco finalmente se manifestando, com o monstro que ele criou sendo aquele que o leva a sua ruína.

Vencedor: A maldição de Frankenstein (1957)



A HISTÓRIA

Superficialmente história é a mesma: O Doutor Frankenstein cria um monstro que se vira contra ele, forçando a encarar as consequências de seus atos. A diferença está no foco e na forma como retrata o desenvolvimento do cientista e sua criação.

No filme de 1931, o foco é mais na criatura, com a adaptação destacando seu lado simpático e mostrando-o mais como uma vítima incompreendida, cujas ações o levam a ser rejeitado pelo seu criador e temido e caçado pela multidão. Já no filme de 1957, o foco é mais no cientista, mostrando a história de Frankenstein e como ele foi de um jovem admirador da ciência para um sociopata egocêntrico obcecado por seu projeto.



Sabendo desse detalhe, é natural muitos acharem que o vencedor deva ser a versão da Universal pelo foco dado no monstro, o personagem que o público veio ver. Isso é ponto justo, porém eu sinto que filme da Hammer tendo um destaque no doutor Frankenstein, ajudou a trama a se aproximar mais da proposta da obra original  e enriquecer as temáticas presentes nela, sobre humanidade, obsessão e os pecados de uma figura paterna (Frankenstein) sendo passado para seu filho (A criatura). 



Isso é representado não só pela forma como Frankenstein manipula o monstro, mas também na relação do doutor com Paul, vendo o garoto que ele educou virar esse cientista cruel e insano, disposto a cometer atrocidades para realizar seu projeto. Embora as cenas de Frankenstein culpando Paul pelos atos seu monstro possam ser vista como exemplos de sua arrogância, tem certas verdades em suas palavras. Afinal que foi Paul quem o educou na ciência, ajudando Frankenstein nesse caminho que o levaria a se tornar o criador do monstro. Isso condiz com a ideia da história sobre quem é o verdadeiro monstro: a própria criatura o aquele que a criou?




Outra grande diferença entre os dois está no final. Enquanto no filme de 1931, Frankenstein tem sua redenção e se torna o protagonista, a adaptação de 1957 não dá ao cientista o mesmo tratamento, com ele pagando o preço por suas ações, um castigo para o homem que se deixou ser corrompido por sua obsessão.

O filme de 1931 é realmente um clássico da cultura pop, mas eu acho que A maldição de Frankenstein consegue trabalhar bem melhor com as temáticas da história, criando algo novo mas também pessoal, representando bem a essência da obra que a fez ser essa história ser tão lembrada e adorada pelos fãs. Portanto o campeão desse duelo é A Maldição de Frankenstein de 1957.

Campeão: A maldição de Frankenstein (1957)

 


Então, vocês concordam com minha opinião? Acham que o resultado deveria ter sido diferente? fiquem a vontade para expor suas opiniões nos comentários.

 


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