ESQUADRÃO SUPREMO – A LIGA DA JUSTIÇA DA MARVEL
Os anos 80 foram um período de mudança para as HQs de super heróis. O que antes eram histórias fantasiosas e voltadas para leitores jovens para ter um tom bem mais sombrio, lidando temas bem pesados, voltados para um público bem mais velho, e tendo protagonistas anti-heróis, personagens que realizam ações bem questionáveis, diferente do padrão de heróis idealistas como Superman e Capitão América.
Muitos apontam o início
dessa “era sombria” ao sucesso do Cavaleiro das Trevas de Frank Miller e
Watchmen de Alan Moore, porém as ascensão desse tipo de histórias já estavam
sendo realizadas muito antes do lançamentos dessas obras icônicas. Um dos
maiores exemplos é o Esquadrão Supremo de Mark Gruenwald. Lançado em 1985, essa
HQ foi uma minissérie de 12 edições, que buscou explorar ideia de uma abordagem
realista nos super heróis, como seria se essas figuras influenciassem o mundo,
algo que Moore exploraria uma década depois com Watchmen.
Mas como que essa
história explora essa ideia?
Vou explicar... Após eu
responder uma pergunta importante....
O
QUE É O ESQUADRÃO SUPREMO?
Para aqueles que não
sabem, o Esquadrão Supremo são personagens da Marvel criados para serem uma
representação Liga da Justiça da DC, permitindo a Marvel fazer histórias com
eles sem tecnicamente usar criações da concorrente. O grupo era composto por
Hyperon (Superman)
Falcão Noturno (Batman)
Princesa do Poder
(Mulher Maravilha)
Tufão (Flash)
Doutor Espectro (Lanterna
Verde)
Anfíbio (Aquaman)
Arqueiro Dourado
(Arqueiro Verde)
Rouxinol (Canário
Negro)
Águia Azul (Gavião
Negro)
Ogiva (Nuclear)
Tom Polegar (Elektron)
Arcana (Zatanna)
Apesar de terem
aparecido como vilões em Vingadores nº69, tendo o nome de Esquadrão Sinistro, a
estreia oficial do Esquadrão Supremo foi na edição 85, onde foram apresentados
como uma versão alternativa do Esquadrão Sinistro, sendo heróis de um mundo
paralelo que os Vingadores acabam visitando em ocasiões e tendo aventuras com
Esquadrão (tal como a Liga da Justiça com a Sociedade da Justiça na cronologia
pré-crise).
Em uma dessas aventuras, o Esquadrão acabaram sendo controlados mentalmente pelo vilão Onisciente, que os usou para tentar dominar o mundo.
No final eles conseguiram se
libertar, mas o dano já estava feito, com o mundo em crise e a população
perdendo a confiança nos heróis.
É a partir daí que
começa esse arco...
A
CONSTRUÇÃO DE UMA UTOPIA
A hq do Esquadrão
mostra as consequências do conflito dos heróis contra o Onisciente. Vendo a
situação do mundo e se culpando por terem sido usados no esquema do vilão, o
Esquadrão decidem ser mais ativos e buscar resolver os problemas no mundo, como
a fome, guerras, buscando tornar o mundo uma utopia.
Apesar de terem boas intenções,
o grupo vai se deparando com várias situações que fazem cometer atos bem
questionáveis para manter a segurança no mundo e que levam a consequências para
os heróis, suas vidas pessoais e seus relacionamentos.
Além disso, o Falcão
Noturno, não concordando com os métodos de seus colegas, deixa o Esquadrão e
começa a formar seu próprio grupo para derrota-los, o que, combinado com os
problemas do Esquadrão, levará a um conflito que tornará o sonho de uma Utopia
do Esquadrão num verdadeiro pesadelo, onde muitos pagarão o preço por suas
decisões.
A
CORRUPÇÃO DO PODER
Só pela descrição dá
pra notar que essa é bem similar a trama do Injustice da DC, se passando no mundo alternativo onde o Falcão
Noturno (o “Batman” do Esquadrão) se rebelando contra os antigos heróis liderados
pelo Hyperion ( o “Superman” do Esquadrão).
Tal como nessas histórias, a HQ abordar temática sobre poder e a responsabilidade que os heróis exercem, com o Esquadrão começando a história com boas intenções, buscando se redimir de seu fracasso e tentar criar um mundo melhor.
Porém, a cada edição mostra eles tomando decisões cada vez mais questionáveis para poder realizar seu sonho, cruzando cada vez mais a linha que acabam fazendo desviar de seus objetivos altruístas.
Um dos exemplos claros disso é na edição nº4 onde Tom Polegar cria um aparelho para "reprogramar" a mente de criminosos e fazer com que eles possam se redimir. Enquanto alguns membros enxergam como uma solução para diminuir a criminalidade outros julgam ser uma violação do livre-arbítrio dos criminosos, do seu direito de escolha.
A principio os membros do Esquadrão consideram fazer o tratamento ser voluntário, porém eventos acabam fazendo com que o Esquadrão use o aparelho em seus inimigos, fazendo com que eles se juntem a eles e ainda consideram fazer o mesmo com novos integrantes para "garantir lealdade ao grupo"
Quanto mais o Esquadrão fica cruzando essas pequenas linhas, mais fácil se tornar para eles cruzarem linhas que mais comprometem sua moralidade, com ritmoda narrativa contribuindo para tornar o desenvolvimento do Esquadrão bem mais natural, além de aumentar o suspense, com as ações do Esquadrão sendo o equivalente a contagem regressiva de uma bomba relógio, com muitos leitores curiosos para ver o que aconterá no momento da "explosão".
MENOS
AÇÃO, MAIS DISCUSSÃO
Outro aspecto que a
ajuda essa histórias se destaca em relação a outras que trabalharam com a mesma
temática é foco se concentrar não ação e lutas mas sim discussões sobre as
questões morais e éticas das ações dos heróis no mundo.
Sempre que eles tem que tomar uma decisão, não é feito às cegas, com cada personagem expressando sua opinião com argumentos bem válidos. Por meio dessas discussões a revista coloca os leitores na mesma posição que os personagens, fazendo com que participem das mesmas reflexões que a história provoca e também os ajuda a conhecer melhor os personagens e suas motivações.
É aí que a HQ revela
seu ponto forte principal...
OS
HUMANOS POR TRÁS DOS DEUSES
Embora fosse fácil
retratar o Esquadrão como vilões facistas, a história faz algo completamente
diferente. Os membros do Esquadrão não são mostrados como maus mas sim
equivocados, querendo fazer a coisa certa pelas pessoas, mas se metem em
situações que não podem ser resolvidas facilmente, a ponto de recorrem a
métodos que comprometem sua moralidade.
O roteiro de Gruenwald
consegue trabalhar o drama dos personagens, dando cada um seu arco pessoal e
momento de destaque seja Tom Polegar tentando encontrar uma cura para cancêr e salvar os pais doentes do Ogiva, Doutor Espectrum sendo apresentado como um cara imaturo e zoador que
aprende duras lições de responsabilidade ou a expulsão do Arqueiro Dourado após ter feito uma lavagem cerebral na
Rouxinol para que ela aceitasse seu pedido de casamento para depois perceber seu
erro, encarar as consequências e tendo uma chance de redenção.
Embora os dramas dos
personagens sejam diferentes, são todos conectados pelo fato dos heróis, vistos
como modelos que inspiram o melhor nas pessoas (tal como os heróis da DC),
encarando situações onde eles não tem controle e aprendendo duras lições de
humildade. Apesar de serem vistos como “perfeitos”, os membros do Esquadrão são
tão falíveis e capazes de cometer erros e terem limitações como qualquer
humano. Mesmo que o leitor não concorde com os personagens, é possível compreender suas motivações e perceber como as dificuldades do Esquadrão encarar esses erros e vulnerabilidades que, aos poucos, vão levando a trágica queda de cada um dos heróis
Esse assunto e sua ligação com a temática da HQ é melhor refletido pelos dois personagens no centro do principal
conflito ideológico: Hyperion e o Falcão Noturno.
A TRAGÉDIA DO CONFLITO ENTRE HERÓIS
Um dos problemas que noto com histórias de lutas entre heróis, principalmente em histórias recentes é que os autores acabam em ocasiões ignorando que esses heróis são AMIGOS. Eles tem sido aliados por décadas e são capazes de conversar um com outro. Só que nesses tipos de histórias, muitas situações que poderiam ser resolvidas com dialogo e interação são imediatamente convertidas em lutas e os personagens raramente demonstram remorso pelo mal que fazem um ao outro.
Por causa da falta de atenção a esse detalhe, o conflito acaba sendo forçado e os personagens acabam sendo descaracterizados e retratados como idiotas impulsivos ou completos vilões (como aconteceu com Homem de Ferro e o Reed Richards na hq da Guerra Civil).
No caso Hyperion e do
Falcão Noturno, a HQ segue uma direção bem diferente. Para começar a história
não tornar os conflitos deles em sua atração principal, mas sim no clímax da
história, com cada edição levando ao momento onde esses dois amigos vão se
reencontrar em lados opostos, dando aquele suspense do que vai acontecer.
Isso é reforçado pela
forma como a primeira edição estabelece a forte amizade que tem entre os dois,
com Hyperion não ficando agressivo pela opinião do Falcão e sua decisão em
deixar o Esquadrão, tal como o Falcão, mesmo querendo impedir o Esquadrão, se
recusando a matar o Hyperion.
Conforme a história vai
se desenvolvendo é mostrado como apesar das diferenças ideológicas, ambos
heróis tem semelhanças: Apesar de acreditar que suas ações são necessárias para
o bem do mundo, Hyperion não é teimoso, demonstrando certo remorso e dúvidas
sobre quando ele e seu grupo passam do limite e são vítimas das consequências
de suas ações.
Já o Falcão Noturno,
mesmo querendo impedir a ascensão do Esquadrão ao poder, acaba se deparando com
situações onde é forçado a cruzar linhas, comprometendo seus valores, tal como
Hyperion e o Esquadrão tem feito.
São esses momentos que
ajudam a tornar o reencontro do dois uma grande ironia: Enquanto todos heróis e
vilões lutam entre si, Hyperion e Falcão Noturno simplesmente tem um verdadeiro
debate, tentando convencer o outro de seus ideais com base em suas
experiências. O conflito entre os dois é ideológico ao invés de físico. É a luta entre seus aliados que acaba levando o debate a uma
trágica conclusão, com os heróis presentes vendo o preço que pagaram por seus
atos.
"Esquadrão Supremo" é realmente um tipo de história que em assuntos bem complexos mas ao mesmo tempo não abre mão de momentos de leveza e humanidade dos heróis, tornando seus dramas bem interessante e relacionáveis. Por isso que eu considero Esquadrão Supremo uma das HQs mais subestimadas e uma das minhas favoritas da Marvel da década de 80.
Então é isso! Qual a opinião de vocês sobre a HQ do Esquadrão Supremo?
Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões nos comentários abaixo.
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