Resenha: Hellraiser – 2022 (sem spoilers)

 


Esperando ansiosamente pelo lançamento do reboot, decidi reler o livro original do Barker pra ficar fresco na memória enquanto eu pudesse aproveitar o novo filme.

 

Tentando não ficar preso à memória afetiva dos filmes anteriores (dessa vez, vou sempre me referir apenas aos dois primeiros, passando batido por todos os oito seguintes ), que por mais que tivessem uma ambientação melhor, também eram cheios de furos e conveniências narrativas, o reboot do Bruckner pode ser principalmente aproveitado pelas razões inversas. Infelizmente, saiu com cara de filme de terror adolescente genérico - sendo esse seu único defeito -, no entanto, todos os outros pontos de qualidade foram trabalhados para compensar isso.

 


Agora o mythos do Enigma de LeMarchand tem estrutura, tem significado, tem uma mecânica por meio da qual as coisas acontecem, algo que nunca foi estabelecido nem no livro e nem nos filmes do Clive, em parte contribuindo pra atmosfera de terror por desconhecimento, mas em maioria pra justificar os eventos como "porque sim".

Além de que, originalmente, era uma história sórdida sobre um caso extra-conjugal que acaba atingindo distâncias sobrenaturais, onde a presença dos Cenobitas acaba sendo algo mais de fundo. Agora no reboot, que tem 2h de duração, você já é apresentado à abertura da caixa logo nos primeiros 20min.

 

Apesar da já mencionada ambientação adolescente, ainda foi mantida a essência pela qual Hellraiser ficou conhecido, de tratar sobre a busca por prazeres extremos, excedentes sexuais, ambição, conhecimento além-terreno, enfim, a ideia de que o mundo sedimentado por desejos (o nosso) só pode ser aplacado pelo mundo das sensações da carne (o deles).

 

"Após cruzar um limite, não existe recuo. Só o que lhe resta é buscar limites mais extremos."

 

E isso também significa que, ao inverso do que você tá acostumado a ver em terror genérico onde a trupe de adolescentes filhos da puta vencem o monstro (que costuma ser uma pessoa melhor do que eles) no final, Hellraiser é mais propenso a te mostrar o contrário disso.

 

Pra quem se preocupa com FX, realismo gráfico e tal (primo do cara do "só jogo jogos pelo gráfico"), também não deve se decepcionar, já que a maior parte dos Cenobitas foram feitos por props e não com CGI. Ponto extra pro Bruckner aí.

 

Você também pode já ir ouvindo a trilha sonora com antecedência porque os caras se ligaram que seria muito difícil fazer uma nova que fosse tão boa quanto a clássica do Christopher Young, então simplesmente reutilizaram ela. Você vai ver o filme novo com a sinfonia do antigo.

 

No mais, na verdade não é necessário sair repescando coisas em livro ou filmes antigos, é uma história totalmente nova feita justamente pra servir como porta de entrada. Se você só tá conhecendo Hellraiser agora, pode perfeitamente iniciar pelo filme do Bruckner sem olhar pra trás.

No meio de tanta porcaria que é lançada à rodo ultimamente, essa franquia renascendo (do inferno) é um sopro de qualidade e se for comparar com a média dos filmes de terror da década, pode ser facilmente considerada uma mestrepeça.

 


Cumpre o que promete, tem roteiro coeso e com renovações que não estragam a narrativa, mas ainda contribuem pra ela. O passo do filme é crescente e não tem picos de ação fora de hora. Trilha sonora nostálgica e efeitos convincentes o suficiente.

Nota 4/5.

 


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