In Memoriam: Alan Grant



Faleceu ontem, 20 de julho, o lendário escritor dos quadrinhos Alan Grant. Fui encarregado de escrever um texto in memoriam para esse grande autor. Particularmente, sempre achei Grant um dos melhores escritores do Batman, e as histórias que ele escreveu foram as que li quando criança. Então, ele é uma das grandes referências de escritores do Cavaleiro das Trevas para mim, até mesmo em nível emocional.

Nascido em Bristol, no Reino Unido, e criado em Newtongrange, na Escócia, antes de enveredar no meio dos quadrinhos, Grant passou por diversos tipos de emprego e até viveu do Seguro Social. Sua vida mudou quando conheceu John Wagner, o criador de Juiz Dredd, que introduziu no meio das HQs, particularmente nas de gênero de ficção científica, como escritor e editor na D.C. Thomson. Não demorou para que Grant se tornasse um proeminente escritor da 2000 AD, que se tornaria a principal revista em quadrinhos do Reino Unido, muito por conta de ser a casa de Juiz Dredd. Grant começou sua carreira de autor de HQs com o personagem Starlord e logo passou para outros como Blackhawk.



Em parceria com John Wagner, Grant escreveu muitas histórias do Juiz Dreed, em que alternava histórias curtas e de humor negro, praticamente paródias, do juiz mais durão de Mega City 1 com histórias mais sérias e grandes sagas. Alan Grant foi um dos escritores de A Guerra do Apocalipse, uma das sagas mais importantes de Dredd.




A sorte sorriu para Alan Grant, pois ele, com John Wagner, fez parte do que ficou conhecido como “Invasão Britânica” dos quadrinhos americanos, particularmente da DC. Após o sucesso de Alan Moore no Monstro do Pântano, vários escritores britânicos desembarcaram nas revistas da DC; entre eles, Grant Morrison, Neil Gaiman, Jamie Delano, Peter Milligan, entre outros. E Grant e Wagner também foram nessa onda. A dupla primeiro assumiu o roteiro da maxissérie Outcasts, e, após isso, foram contemplados com a oportunidade de escrever Detective Comics, o título mais antigo do Batman, a partir do no 583. Quem assumiu a arte da revista foi o canadense Norm Breyfogle, que se tornaria um dos preferidos dos fãs dos Cavaleiros das Trevas.

Grant e Wagner, os dois primeiros britânicos a escreverem HQs do Batman, que antes apenas tinha sido escrito por norte-americanos, deram um sangue novo ao Cavaleiro das Trevas. O Batman de Grant e Wagner era bem detetivesco, eles conseguiam criar tramas elaboradas em que o herói tinha de usar suas habilidades de investigação e dedução. Era também um Batman mais “cívico”, digamos assim. Tinha histórias em que ele, além de bater nos bandidos, ainda dava esporro e lição de moral em uns moleques que quebraram um telefone público, por exemplo.









Outro destaque que deve ser dado a Grant foi a criação de alguns dos vilões contemporâneos mais marcantes do Cavaleiro das Trevas. Entre eles, podemos citar Scarface, o Caça-Ratos, Cornelius Stirk, Mortimer Kadáver, Victor Szasz e Amígdala. Grant também foi o responsável pela criação de Jeremiah Arkham e, aí é bem polêmico, da tenente Renee Montoya. A atribuição a Grant por ter criado Montoya é polêmica porque naquele ano, 1992, ela também havia debutado na série animada do Batman, mas nos quadrinhos ela fez sua estreia em Batman no 475, também em 1992. Então, dá para dizer que a Montoya foi criada por Alan Grant e Norm Breyfogle igualmente. E Grant e Breyfogle também foram responsáveis pela primeira história em que Tim Drake assume o manto do Robin, em Batman no 458.


Também em 1992, Grant assumiria os roteiros de Shadow of the Bat, que foi praticamente uma revista do Batman criada apenas para ele, uma vez que Doug Moench se tornou responsável pelo roteiro de Batman. Chuck Dixon tinha assumido Detective Comics, e Grant ficou com Shadow of the Bat, que era a quarta revista mensal do Batman nos anos 90. Havia ainda Legends of the Dark Knight, que tinha uma equipe de criadores rotativa.







Grant também teve a atribuição de escrever os quatro crossovers do Batman com o Juiz Dredd, em coautoria, com John Wagner. O primeiro, Julgamento em Gotham, foi publicado em 1991, em que Batman e Dredd se trombam e, depois de se estranharem, tem de unir forças para enfrentar a ameaça do Espantalho e do Juiz Morte. Em seguida, viriam mais três crossovers, em que o Cavaleiro das Trevas e o juiz de rua teriam de lidar com o Scarface, o Charada e o Coringa e os Juízes do Apocalipse, respectivamente. Grant ainda escreveu o segundo crossover de Batman com o Demolidor e o segundo crossover de Batman com o Spawn, em coautoria com Chuck Dixon e Doug Moench.






Outro dos trabalhos mais lembrados de Grant foi como coautor de L.E.G.I.Ã.O., ao lado de Keith Giffen. O título apresentava a equipe que antecedeu a Legião dos Super-Heróis, sob o comando do manipulador Vril Dox, o antepassado de Brainiac 5. Um dos membros da L.E.G.I.Ã.O. era justamente o último czarniano Lobo, que foi forçado a trabalhar para Dox em circunstâncias específicas. Óbvio que um personagem que tinha grande apelo comercial nos anos 90 como o Lobo não poderia ficar sem ter um título solo, e, após uma minissérie, escrita por Grant e Giffen e desenhada por Simon Bisley, o mercenário mais letal da DC ganhou sua revista. Isso sem contar minisséries e edições especiais como Lobo vs Papai Noel, Lobo Está Morto e Lobocop. O Lobo na época era uma espécie de Deadpool da DC. Vale lembrar também a HQ Batman e Lobo, um elseworld insano escrito por Alan Grant e ilustrado por Simon Bisley. E ainda o crossover Lobo e Juiz Dredd, com roteiros de Grant com seu velho amigo John Wagner.

Enfim, ficam aqui meu lamento e uma breve retrospectiva do trabalho de Alan Grant, um dos escritores que mais tempo trabalharam com o Batman, mais de dez anos, e que na realidade é um tanto quanto subestimado, nem sempre lembrado quando fazem uma relação dos grandes escritores do Cavaleiro das Trevas. R.I.P.

 



Postar um comentário

0 Comentários