Review: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura



Como diria o famoso provérbio judeu: "A expectativa adiada faz o coração adoecer", meu coração ficou partido após ver um filme ao qual eu tinha tanta expectativa. Mas como é o filme? E quais são os meus pareceres? Segue a crítica e, vale lembrar, contém spoilers, então, leia por conta e risco!


Essa crítica contém spoilers!

Bem, na sexta-feira da semana passada, liguei para minha chefe no trabalho dizendo que tiraria meu merecido banco de horas na tarde da sexta-feira seguinte, pois "tinha um compromisso". O compromisso, lógico, era assistir ao filme do Dr. Estranho num cinema mais "econômico" da minha cidade - apesar de econômico, de muita boa qualidade, qualidade essa que só a Cinemais possui!



Bem, para a minha surpresa, eu vi que havia comprado online o ingresso para a sessão das 20:30 - o que ia contra meus planos e compromissos, então - impossibilitado de trocar o bilhete - tive de comprar outro lá mesmo no cinema - que obviamente, estava vazio devido ao horário. Cheguei lá com uma hora de antecedência e com isso, inverti a tradição do lanche pós-cine e fui ao McDonalds comer um delicioso McTatsy com Coca-cola. Aliás, um bom combo com batatas fritas que custou apenas R$ 30,00. Enfim, após o lanche, cheguei ao cinema e a bilheteria estava vazia, e o lugar deserto - eu já me preparava para o clima de horror que o filme que eu veria supostamente teria! Comprei o bilhete na cabine automática e subi para a sala de cinema - e na fila encontrei meia dúzia de crianças com seus pais, ao que eu imediatamente pensei: "Vai sair criança chorando daqui hoje". 




Para o meu desagrado, não foi o caso: o filme já começou com uma cena colorida e super-heroica do "Defensor Estranho" e da América Chavez correndo de Cytroak e falando em espanhol no espaço entre Terras. Vale dizer, o ângulo dessa cena passa uma sensação de breguice, bem como muita coisa no filme. - Nesse ponto, minha gerente me manda uma mensagem pedindo que eu ligue a um fornecedor nosso e agende um vôo para ele - no meu banco de horas não! - voltando: Temos em determinado ponto um close no livro de Vishanti, o que deixa claro que ele seria o McGuiver MacGuffin do filme. Defensor Estranho morre com uma facada e seu cadáver subitamente fica parecendo que ele morreu há dias. Apesar da boa intenção, não há nada de realmente asusstador aqui. America abre um portal e vemos a seguir o Dr. Estranho no casamento de sua ex, Christine Palmer. Nessa cena, ela pergunta se Strange é realmente feliz - pergunta essa que é feita a cada 30 minutos durante todo o filme, caso não tenha ficado claro na primeira vez que ela é feita que o Strange não é feliz. O casamento é interrompido pela aparição de Shuma-Gorath e America - ah, aqui vale ressaltar: a Marvel não possui os direitos do vazio que se fez carne, então ela criou um monstro igualzinho, que no marketing do filme se chama "Gargantos", mas cujo nome nunca é dito em tela - então, para todos os efeitos, é o Shuma-Gorath. Há uma batalha entre o monstro, Strange e Wong (falarei mais desse último depois). A batalha tem elementos que lembram muito Homem-Aranha 2 e isso é nítido. Como estou com preguiça de descrever, vou colar o texto que aparece no famigerado Legião dos Heróis:

"A batalha de Strange contra Gargantos se estende por um bom período e traz consigo várias referências a outro filme de heróis dirigido por Sam Raimi. Em Homem-Aranha 2, temos uma icônica cena onde o Herói Aracnídeo enfrenta o r. Octopus em um prédio, enquanto tenta salvar a Tia May.

Aqui, três momentos-chave lembram muito o filme: Quando America Chavez fica presa em um parapeito (assim como a Tia May no filme); quando o povo dentro do prédio se assusta com a visão de Gargantos (algo similar acontece com Octopus); e quando Wong e Strange são presos nos tentáculos da fera".

A batalha também é cheia de piadocas, principalmente por parte do Mago Supremo - e aqui não me refiro ao Strange, mas sim ao Wong (!). Agora preciso pausar e falar um pouco desse personagem - se é que pode ser chamado assim. O cara é o novo Mago Supremo, sucessor da anciã e não faz coisa alguma no filme, a não ser piadas sobre o Strange se curvar a ele. Nem sequer quando a Wanda ataca o Kamar-Taj, ele se dá ao trabalho de usar seus poderes novos para ajudar os alunos, ele só fica dando ordens desesperado e em tom de medo. O Mago Supremo é facilmente capturado pela Wanda e a única coisa que ele faz quando ela o joga do abismo é lançar uma cordinha mística para se prender - cordinha essa que falha, diga-se de passagem. Tudo que envolve Wong é uma piada. Não faz nem sentido ele ser o Mago Supremo e isso não interfere na trama. Se o Sr. Feige estiver lendo isso, permita-me fazer a sugestão de ter acrescentado dramaticidade a esse arco dele - colocando um possível rancor da parte de Strange por Wong se tornar o mago, Wong começar a abusar de seu poder, julgando e repreendendo Strange por suas ações em IW e NWH e até mesmo pavimentando um caminho para uma possível cisão entre os dois, resultante do feiticeiro ter se corrompido com o Darkhold ao fim do filme.

Voltando ao filme, os dois e America vão para uma lanchonete, onde ela conta que está sendo perseguida por demônios dimensionais e tudo é narrado em tom de piada. Tem até uma piada com o Homem-Aranha. Vale ressaltar, que os eventos de NWH não tem impacto algum nesse filme e que a ideia de que "Wandavision", "No Way Home" e "MoM" formavam uma "Trilogia do Multiverso" é completamente falsa. Aliás, até mesmo quem não viu Wandavision consegue entender o enredo - muito embora fique confuso com as motivações da Wanda, mas nada que interfira na imersão. Logo, a lenda de que o UCM está se tornando como nas HQs, com uma acumulada e pesada mitologia sendo obrigatório ver vários filmes antes de ir ao cinema também é apenas isso: uma lenda. Lógico, vendo outros filmes antes a experiência será mais rica, mas não é de modo algum obrigatório (exceto, é claro, pelo primeiro filme do Strange. Mas já é de se esperar que para entender uma sequência você precisa no mínimo ter visto o primeiro filme, não é???).

Em meio a várias macumbarias, as quais incluem Strange enterrar seu falecido "outro eu" que morreu no início do filme em um terraço, Strange decide pedir ajuda para Wanda a fim de lidar com os demônios. Daí, corta-se para uma cena alto-astral da Wanda e seus filhos dançando, mas logo é mostrado que é só um sonho. Wanda vive em uma casa isolada e Strange chega para recrutá-la. Mas, em menos de 2 minutos de conversa, nas quais Strange revelou todas as informações importantes possíveis sobre America a uma mulher que claramente é emocionalmente perturbada e poderosa, é revelado que o lar de Wanda é um Hex e que tudo fora destruído por ela após usar o Darkhold - o fodástico e medonho livro milenar de feitiços proibidos - falarei mais sobre a frente. É revelado que Wanda é quem estava enviando os demônios atrás de America e ela vai e ataca o Kamar-Taj a fim de roubar os poderes dela para si a fim de sequestrar versões alternativas de seus filhos pelo multiverso. Aqui cabe um adendo: a Wanda nesse filme, desde o começo se parece a uma bruxa má de contos de fadas da Disney. Por mais que suas motivações sejam citadas a cada 15 segundos, não há profundidade ou ambiguidade e isso sequer é construído ao longo do filme. Ela é má desde o começo e pronto. Isso vai contra o desenvolvimento visto ao fim de Wandavision e tudo o que ela aprendeu lá. Um outro destaque também vai pro seu traje, que é quase igual ao que ela usava nos filmes anteriores, só que com uma tiara. Particularmente eu prefiro os visuais usados ao fim de Wandavision, com capa ou sem capa:

Esse visual encapuzado soa muito mais "Feiticeira" do que o usado no filme. eu só acrescentaria a tiara aí.


Já esse visual é igualmente bonito e não soa como "mais do mesmo", como o que vimos no filme do Strange

Após a batalha do Kamar-Taj - que devo admitir que é boa, mas nem de longe assustadora - America e Strange vão parar numa outra Terra. Lá, ela rouba umas comidas e diz que somente na Terra-616 (a "nossa" Terra) que a comida não é de graça - uau, uma crítica ao capitalismo feita por um filme de Hollywood que arrecadou milhões de dólares, saindo da boca de uma atriz milionária! Bravo, esquerda, bravo! Nessa Terra também, vemos as memórias de America "matando" suas "mães" - se é que é possível ter mais de uma, mas ok. Essa cena foi a famosa que deu polêmica na Arábia e que exigiram que fosse cortada. Infelizmente, ela é importante para o desenvolvimento da trama. Mas dá para entender o porquê de quererem cortá-la. Além de todos agirem com naturalidade com o fato de ela ter duas mães (isso poderia facilmente ser resolvido com o Strange fazendo uma cara de "wtf" ou de confuso com ela ter duas mães ou em uma linha de diálogo em que ele pergunta: "Duas... mães? Como assim?" e ela responde: "É, eu sei, é confuso". Isso já bastaria para dar visibilidade a quem gosta desse tipo de coisa, mas ao mesmo tempo deixaria claro para as crianças que não é o comportamento padrão da humanidade), a cena mostra as duas trocando carinhos e amor entre si, e fica a um triz de mostrarem ambas se beijando - o que é um tremendo desrespeito ao consumidor que não concorda com esse tipo de ideologia e que quer privar seus filhos de ver um mundo completamente de ponta-cabeça. Nessa mesma Terra, somos apresentados aos Illuminatti e aqui cabe dizer que o filme sofreu muito com os vazamentos e excessos de trailers. Se nada tivesse vazado (ou: se eu não fosse curioso e tivesse visto todos os vazamentos) eu ficaria completamente surtado (no bom sentido) com a presença do Reed Richards do Krazinsky, da menção as Incursões, ao Raio Negro, Professor X, Maria Rambeau e Capitã Carter. Confesso que fiquei empolgado quando apareceram, mas a falta do elemento surpresa fez perder o "fator uau". Aqui destaco que Krazinscky é de longe o melhor Richards de todos os tempos e espero que ele seja o Sr. Fantástico da Terra principal também. Pode ter certeza que é ele quem salva a nota desse filme. O Raio Negro por outro lado, é bastante cartunesco e quando a Wanda vai atacar os Iluminatti, ele cruza os braços e faz uma cara de mau que chega a dar vergonha alheia. Mas, via de regra, os Iluminatti salvam o filme. Inclusive, o Black Bolt se redime na cena em que usa seus poderes contra Strange.

O visual do Raio Negro, por mais que seja fiel as HQs, fica parecendo um CGI inacabado ou que foi tirado de um pôster fan-made, principalmente a máscara

Nem tudo são flores. Na cena em que os Iluminatti são apresentados, Strange faz questão de fazer piadocas com o nome de cada integrante do grupo, e com o próprio grupo - o que faz com que o expectador perca o respeito por eles, algo que não é legal. Mas, como eu já disse, isso é compensado mais tarde.

Um ponto que achei interessante é que a Christine Palmer nomeia a Terra de Strange como 616. Isso é um tapa na cara dos fanboys da Marvel, que dizem que o MCU não é uma adaptacção das HQs, mas sim apenas mais uma Terra do multiverso Marvel (Terra-19999, nomeclantura inventada pela galera da Marvel Wiki, escrita por fãs, mas que os fanboys juram que é oficial) e usam isso para "justificar" as descaracterizações grotescas que a Marvel faz com a maioria dos seus personagens. Essa desculpa já não colava antes, e agora menos ainda: o MCU não faz parte do multiverso das comics e é sim uma adaptação (pouco fiel, tal qual a Fox) da Terra-616. 

Wanda então faz uma macumba para possuir sua versão daquela Terra - a famosa cena do trailer em que ela está levitando com as velas. Só que no trailer, a cena é limpa. No filme, ela fica em dupla exposição com outras cenas, parecendo algo de novela dos anos 90. Ela encontra seus filhos naquela Terra e, confesso que a cena é bem emocionante. Só que o implacável Darkhold é destruido após ser rasgado por uma faca de uma maga aleatória (?). Sim, meus amigos, o Darkhold, o livro dos condenados é destruído assim facilmente. Isso faz com que Wanda sequestre o Mago Supremo Wong e o leve até Wundagore, onde temos o templo da Feiticeira Escarlate, em que há demônios que a servem. Por quê? Aliás, o que é a Feiticeira Escarlate e por que ela tem esses poderes? Se nem na série dela isso é explicado, não vai ser aqui que será.

Nesse ponto, dois meninos de rua que estavam vendo o filme (não sei como), me interromperam perguntando as horas - eles estavam doidos para acabar, e confesso que eu também estava achando o filme demorado. Depois disso, Strange, que avisou 800 vezes aos Iluminatti sobre Wanda sente a presença dela - e a bruxa chega mesmo e mata os Iluminattis todos - nota para o Richards, que revelou o ponto fraco do Raio Negro e tentou dar um soco nela. Enquanto isso, Strange e Mordo - o daquela Terra, claro. O do MCU foi relegado a apenas uma menção. Abre parêntesis: já repararam como a Marvel gosta de criar hypes e cliffhangers que não vão pra frente? Tipo o Mordo em Dr. Estranho 1 - fecha parêntesis. Strange, América e a Christine Palmer desse mundo fogem e pegam o livro de Vishanthi, a antítese do Darkhold, que é destruído com a mesma facilidade.Nessa hora, America e Strange são separados. 

E de novo, a crianças me perguntaram as horas (não é zoeira, isso aconteceu). Ela é capturada pela Wanda(-la) e Strange, junto com Palmer vão parar numa dimensão afetada por uma incursão, na qual o Strange enfrenta uma versão maligna sua em uma batalha musical (?) e o mata dessa forma. Depois disso, ele faz uma macumba para possuir aquele Dr. Estranho que morreu lá no começo - e aí a breguice atinge o seu maior ápice. Com direito a trovões no fundo e câmera contra-luz, vemos o cadáver saindo do túmulo zumbificado, ao melhor estilo dos filmes de terror trash dos anos 90. Ele vai voando até Wundagore, onde enfrenta sua algoz que está fazendo algum feitiço para roubar os poderes de América. Mas antes, as almas dos condenados tentam enfrentá-lo, e ele as derrota e as usa como capa - ok, foda-se, eu admito, isso foi épico pra cacete, merece até foto:



Mas no fim, quem derrota mesmo a Wanda é a América, que aprende a controlar os poderes após o Strange fazer um discurso motivacional (ao melhor estilo The Flash) e daí acontece o que eu considero a cena mais épica, gloriosa e incrível de todo o MCU, que entrará para os anais dos fãs e haters desse universo: America está batendo na bruxa má da Branca de Neve Wanda e de repente abre um portal para a dimensão onde os filhos da feiticeira estão. Eles ficam horrorizados e começam a atirar coisas nela. Ela chega a agredir a verdadeira mãe dos meninos, mas cai em si ao vê-los com medo. Como diria o ilustre Azarão: PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIta que pariu! É isso mesmo, o MCU AGORA TEM SEU PRÓPRIO SAVE MARTHA! Será que os haters de BvS vão hatear esse momento também ou vão dar uma desculpa bem feita para defendê-lo? De qualquer forma, a Wanda após cair em si destrói o castelo e os Darkholds do multiverso, se matando no processo. Quando o castelo cai nela, uma luz vermelha aparece. Alguns entenderam isso como sinal de que ela se teleportou... pra mim foi só o poder saindo dela após ela morrer. Strange ainda deixa claro que ela não sobreviveu. Mas, em breve as viúvas dela vão aceitar isso. No fim do filme, Strange se ajoelha perante Wong (uma piada recorrente do longa, que poderia muito bem ser um momento dramático) e no fim, ele sai de casa todo feliz até que ele cai na rua e abre um terceiro olho- indicando que ele foi corrompido pelo Darkhold. Então temos uma cena pós créditos que também é o Strange saindo de casa (de novo) e se encontrando com Clea, que mais parece ter vindo de algum programa infantil do SBT e ela diz que ele causou uma incursão. 



Ela abre um portal pra dimensão sombria e Strange entra com seu terceiro olho sem questionar, deixando assim mais um cliffhanger para o herói sendo que o do primeiro filme (Mordo) não foi resovido até hoje. O filme tinha uma segunda cena pós-créditos que não vi, pois eu tinha certeza absoluta que seria o Bruce Campbell batendo em si mesmo (piada que acontece em certo ponto do filme). Dito e feito! Eu pesquisei na internet e era isso mesmo! Essa Marvel está ficando previsível.

Bem, após o filme, eu saí do cinema e fui tomar o sorvete que eu tanto queria - comprei um milk shake no Burger King - meio transtornado pela sensação agridoce (mais puxado pro amargo) de ter visto esse filme e perdido meu banco de horas. O milk shake também não estava lá essas coisas, e fui descendo a pé até o ponto de ônibus que ia para minha academia, onde eu encontraria minha namorada para malhar. Nesse mei-tempo, tentei conseguir o vôo solicitado pela minha gerente para o fornecedor, mas não havia em um preço amigável. O ônibus demorou e fui a pé - tomando bronca da minha gerente, que ficou com cagaço da gerente dela por eu ter falhado em conseguir um vôo barato naquele prazo absurdo - Ah, o doce gosto da hierarquia!

Enfim, essa é minha crítica. Apesar de ter apenas 2:06 horas, o filme parece muito maior. Seu ritmo é acelerado demais, ele tem uma atmosfera quase espírita e estranha (dãããããããã) e sofre com o excesso de piadas da Marvel e de breguice do Sam Raimi. Cheguei à conclusão de que esse diretor deveria ter ficado em nossas memórias como bom, pois seu estilo de filmagem funcionava bem melhor nos anos 90 e 2000. Hoje, o filme já nasce datado. Mas o filme tem bons aspectos, como a referência aos quadrinhos, os Iluminatti e a preparação pro arco das incursões me deixou bastante animado para uma vindoura Guerra Secreta - a não ser, claro, se as incursões não forem só uma referência interna, como todo o resto da Terra-838.

Minha nota? 3,8 e tá de bom tamanho!

Mas e você? O que achou do filme? Comenta aí!


Leia minhas reviews da franquia Homem-Aranha (inclusive, tá chegando os reviews dos filmes faltantes da franquia)

Leia também:




Postar um comentário

0 Comentários