Eu Vi O Diabo




Publicado originalmente em
aos 26/11/2020




Título original: Ang-ma-reul bo-at-da
Título em Inglês: I Saw The Devil
Gênero(s): Ação, Crime, Drama
Duração: 141 min
Estreia no Brasil: 12 de Agosto de 2010
País: Coreia do Sul
Idioma: Coreano
Diretor: Jee woon Kim
Roteirista: Jee woon Kim
Elenco: Byung hun Lee, Min sik Choi, In seo Kim, Kap su Kim, Bo ra Nam, Ho jin Chun, Gook hwan Jeon



Sinopse

Kyung-chul (Min-sik Choi) é um perigoso psicopata que mata pelo prazer de ver o sofrimento que causa em suas vítimas. Ele já cometeu muitos crimes hediondos, que ninguém consegue sequer imaginar. Suas vítimas vão desde jovens mulheres até crianças inocentes. A polícia vem procurando o sujeito faz tempo, mas nunca conseguiu pegá-lo.

Uma noite, a filha de um policial é encontrada morta. O noivo dela, Kim Soo-hyeong, vendo a incapacidade da polícia em resolver os casos decide perseguir e capturar o assassino. Uma promessa de retribuição sanguinária contra o homem que lhe roubou a noiva.





Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores!


O Cinema Extremo Oriental possui obras com densidades e atmosferas que sempre englobam a Ultraviolência, o Gore e o Fetichismo como partes essenciais de suas premissas. Variando em qualidade, visto não serem todos os filmes deste Gênero obras-primas cinematográficas, seu alcance se propõe a atingir apenas os iniciados com estômago forte apreciadores dos mesmos. Mas, quando digo "apreciadores", no meu entender, não se tratam de mulheres e homens que sintam prazer ou gozo assistindo a filmes extremos. Somente alguém extremamente doentio é capaz de sentir isso assistindo dolorosas e abomináveis cenas que mostram o Horror e o Terror encarnados por um monstro como o criminoso deste filme a ser nesta postagem analisado. O mesmo não é uma obra-prima, mas é honesto na abordagem crua, dura e visceralmente impactante da trilha sanguinária de um psicopata perseguido por um policial em busca de vingança pelo assassinato da noiva. 


Eu Vi O Diabo é um filme que condensa elementos dramáticos com ação desenfreada, pausas momentâneas e ritmo claustrofóbico que se agiganta a cada cena, tanto nos momentos agitados quanto nos calmos. Típica história que poderia ser levada para caminhos mais simples, ela opta em se ampliar para definições que se aplicam ao inesperado. O diretor e roteirista Jee woo Kim transformou o jogo de gato e rato clássico entre o mocinho e o bandido em uma eletrizante obra que não dá trégua nem nos citados momentos de pausas. O "mocinho", no entanto, com uma interpretação segura de Byung hun Lee vai demonstrando, no desenvolvimento da história em si, uma gradual mudança conforme o ódio pelo vilão do filme cresce. Este, um grande papel do formidável Choi min Sik (o que confere certa alta qualidade à obra), se mostra dentro de seu papel psicótico mesmo tendo se tornado uma presa nas mãos do agente secreto que se tornou o predador. 


O vingador tornado predador de Byung, Kim soo Hyeong, inicia com o Kyung-chul de Choi um jogo de dor e tortura lenta, o que faz o psicopata sentir na pele o que provocou em suas vítimas. O conhecimento de técnicas marciais sofisticadas da parte de Kim a este dá vantagem, acima do convencional em filmes onde tais jogos ocorrem, no jogo que joga com o psicopata. A lenta e metódica tortura se expande por diversos cenários, diversas situações e diversos caminhos de exploração da violência aplicada naquele que ele quer punir. É possível sentir toda a dor de Kim na expressão do ator que o interpreta, assim como a mudança dele que, ao fim, acaba por torná-lo um verdadeiro monstro tão idêntico ou pior do que o monstro que persegue. 


E ao ser perseguido e sofrer, acuado como um animal brutalmente caçado, Kyung-chul não se diminui, nem demonstra temor e, muito menos, qualquer tipo de leve arrependimento pelos crimes que cometeu. E demonstra ser muito mais do que um louco assassino, cujo modus operandi mostrado no início do filme não vou comentar aqui para não entregar spoiler. É brilhante a performance selvagem, naturalista e macabra de Choi neste grande papel de sua carreira. Uma carga de densidade sombria ao personagem que encarna é notável, assim como uma tendência a fazer o mesmo se tornar muito mais real do que qualquer outro Serial Killer que ultimamente conheci nos últimos vinte anos assistindo filmes deste Gênero. 


A trilha sonora contagiante auxilia muito no trabalho de composição do jogo narrativo e do jogo de perseguição recheado de conflitos e reviravoltas vivenciado pelos personagens. A opção por uma trilha que ambientasse os dois homens em guerra em constante ebulição e evolução se fez a todo momento muito oportuna. É uma trilha que completamente posiciona o espectador dentro da narrativa, uma imersão através do som que, combinada com as imagens e a intensa movimentação abarcada por uma Fotografia obscura, acabam por dar ao filme uma espécie de sensação de se estar dentro de um pesadelo sanguinário. 


Por não ser perfeito, o filme peca na composição estrutural e apresentação de todos os personagens secundários, sempre rasos a todo instante em que surgem. Não há uma construção narrativa que ligue os personagens principais a nenhum daqueles diretamente ligados a eles. Seria a intenção do diretor dar a ideia de que os dois fossem homens que, apesar de relações sociais possuíam como identificação o fato de não muito se identificarem com os demais? Ou essa escolha em não dar uma tridimensionalidade aos outros personagens foi algo deliberado? Pode ser mesmo uma falha do diretor, o que leva-nos a pensar que o filme inteiro poderia prescindir de outros personagens. Entretanto, estes, mesmo desfilando como imagens quase etéreas diante do onírico festival grotesco de sangue e dor, esta nas mais diferentes formas, e bem fracos, tornam o jogo entre Kim e Kyung-chul mais estranho e perturbador ainda. 


E o jogo não termina nada bem para nenhum dos dois, sendo desnecessário contar aqui o final do filme. Somente digo, sem spoiler, que é um final onde a maior lição está dentro do que o espectador pode perceber de errado na conduta do perseguidor, mais do que na do perseguido, por mais absurdo e incrível que isto possa parecer. Os últimos instantes são de uma crueldade ímpar, advinda do "herói" do filme, o que apenas afirma este meu pensamento bastante pessoal: o Ser Humano possui dentro de si uma Besta capaz da consecução das piores atrocidades sem ter a mínima consciência das consequências diretas e indiretas da mesma. O título em Inglês e Português do filme justifica bem a natureza do mesmo e o efeito de tal visão naquele que o espectador julga ser melhor do que o monstro sendo acuado, espancado, humilhado e barbarizado. Kim se tornou pior do que aquilo que caçava, um percebimento que, na última cena, o atinge estrondosamente. E quem, ao fim, viu O Diabo na face um do outro dentro deste terrível jogo sanguinário? 


Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores!


















 











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