Damares Alves Versus Lindinhas: Os Precedentes Que Isto Abre

Montagem feita com uma foto de Damares Alves colhida na Agência Brasil e o pôster francês de Lindinhas



Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores! 


Há dois anos atrás, quando me tornei um dos Autores deste blog, eu disse ao criador e administrador do mesmo, Ozymandias Realista, que não falaria aqui de Política. E assunto já trato com bastante ênfase em um dos meus blogs, O Mundo Inominável, e achei desnecessário postar aqui meus pensamentos acerca do que considero sobre o mesmo. Entretanto, assim como na minha postagem anterior aqui no blog, Disney, Mulan E A Ditadura Chinesa, mais uma vez volto ao assunto, interligado ao foco principal do trabalho deste blog, que é o de ser um campo de abordagens das Subculturas Nerd/Geek em 99% de suas postagens. Quando pessoas ou grupos envolvidos com Política se relacionam de modo positivo ou negativo com essas Subculturas, obviamente que, cada um de nós deve ter, sim, uma opinião, uma atitude e um pensamento firmes, sem ficarmos em cima do muro ou na base do relativismo. Tanto quanto o assunto que tratei na postagem anterior acima mencionada, este é um assunto que não permite permanecer em cima de muros ou ser relativista. O filme que é tópico deste artigo não é necessariamente ou essencialmente parte das citadas Subculturas, mas alcança os membros das mesmas devido ao alcance que a produtora do mesmo, a Netflix, possui. Uma merda foi o que esta fez divulgando-o com aquele pôster equivocado e pode-se culpar a mesma em 100% da confusão em torno da obra hoje.


Todos aqui já conhecem a Ministra Damares Alves e cada polêmica na qual ela se envolve deste o primeiro dia no atual Governo que preside os rumos deste país. Eu vou também diretamente criticar aquele que está acima dela, ao qual ela serve cegamente, já faço isso bastante lá no blog que foi anteriormente mencionado. No entanto, o ponto maior aqui é a concentração na guerra declarada da Senhora Damares ao filme Lindinhas (Mignonnes, França, 2020), que está gerando um mimimi escandalosamente assombroso em diversas partes do mundo onde a Netflix existe. Atendendo a pedidos de seus seguidores no Twitter (isto aqui não é mais uma Rede Social, mas um diretório virtual de partidos políticos com uma Verdadeira Babel de usuários conservadores, progressistas  e anarquistas), ela decidiu bater de frente com o filme e vai tentar retirá-lo do catálogo do serviço de streaming a qualquer custo. As más interpretações acerca do filme, geradas por imagens aleatórias e o vídeo da apresentação das meninas ao final do filme, retiradas do contexto crítico da película em si, geraram todo o escândalo que hoje chega ao nosso conhecimento. E a Incomodadíssima Ministra resolveu atuar "a favor da proteção da infância" contra a obra, sendo que ignorou certa piadinha podre feita pelo Pseudopresidente da República (me nego a chamar Jair Messias Bolsonaro de Presidente da República; e quero deixar bem claro que também em nada aprecio o ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva, caso alguém venha a me chamar de "esquerdista" em algum comentário por eu ter "ofendido O Mito") para uma menina de dez anos. Eu tenho bom senso e não vou postar aquela coisa grotesca aqui; se alguns de vocês ainda não o assistiram, dêem uma vasculhada no Google ou no YouTube para entenderem o que estou aqui mencionando. 


Baixando a fogueira da incômoda sensação causada por este filme, creio que abordagens críticas assim sejam necessárias para que neste texto eu possa contextualizar o meu pensamento. Já assisti vídeos no YouTube massacrando o filme, em sua maioria feitos por homens e apenas um por uma mulher. Já li e reli as revoltas de milhares no Twitter, em diversos blogs e sites, o "#CancelNetflix" contundente a arrebatar tantos. Uma galera intensa e delirante, de todos os espectros políticos, gritando enlouquecidamente contra o filme. Eu mesmo me senti incomodado pela abordagem estética um tanto quanto superlativa da exposição dos corpos das meninas e quase entrei na onda de ficar condenando eternamente o filme... Coisas da Internet que se replicam e que, se não tomarmos cuidado, acabam pegando desprevenidos os desavisados. Mas, Damares não é uma desavisada, ela sabe bem como manipular todos os meios possíveis para que a limitadora visão de mundo dela queira sempre predominar sobre outras visão. No caso aqui discutido neste texto, é o da atenção ao que superficialmente dizem que o filme seja sem tentarem sequer se ater ao que ele verdadeiramente critica. Atitude desonesta e rasteira de muita gente que anda se revoltando virtualmente por causa dele. 


Todas as opiniões, no entanto, possuem visões sobre o que hoje se toma como o mote das discussões acerca da Pedofilia, o ponto focal determinado pelos eternos detratores do filme que estão cancelando a Netflix. Mas, quase não gerou revolta, TORNO A REPETIR, aquele vídeo bizarro do indivíduo que ocupa agora a Cadeira Presidencial de nosso país fazendo piadinha sexual com uma YouTuber mirim de dez anos... E a malhação de Judas, por assim dizer, apenas fixa-se neste filme. São coisas assim que me levam a pensar se realmente a hipocrisia e a cegueira de certa parcela do povo brasileiro leva apenas a ficar focando um lado sem enxergar o outro. Só posso falar da realidade brasileira em relação a este filme, que até foi banido na Netflix da Turquia e está causando furor nos Estados Unidos. O que se vê nele é o mesmo tipo de hipersexualização que desde os anos 90 adultos fazem as crianças passarem. E todo mundo acha "bonitinho", "lindinho", a ponto de não atacarem com toda força o Excrementíssimo Pseudopresidente da República do Brasil que fez aquela piadinha de duplo sentido com uma menina de dez anos. A piadinha com esta foi algo "bonitinho", "lindinho", "ah, foi apenas uma brincadeira", alguns andam dizendo... Uma normalização da Pedofilia bem mais visível do que a vista neste filme, não concordam? E a nossa cara Damares Alves o que fez? Se revoltou? Pediu para cancelarem o chefe dela? Pediu demissão do cargo por se sentir horrorizada com a piadinha dele? Não, ela sequer tocou no assunto e ficou "horrorizada" apenas com um filme que critica a normalização de algo como a piadinha de um tiozão escroto escrita para menininhas que nada entendem da malícia de nojentos desse tipo. 


O problema não está em Lindinhas, é algo além deste filme que permeia toda a Cultura Contemporânea, seja aqui no Brasil ou lá na França. Um problema bem antigo chamado hipersexualização das crianças, que para alguns é "bonitinho", "lindinho", como foi na época do É O Tchan, Companhia do Pagode e outros bizarros grupos musicais nascidos nos anos 90 neste nosso país. Hoje temos Anitta, Luiza Sonsa e afins a mais igualmente bizarros com seus modelitos replicados por muitas meninas de dez ou menos anos com o consentimento dos pais ("bonitinho", "lindinho"). Uma cínica Sociedade hipersexualizante de crianças é a nossa, na batida do Axé e do Funk perpetuando o que tristemente é há muito tempo normalizado. Algo que é perpetuado, uma doença da nossa sociedade que a Dona Damares não tem nenhuma força para combater de verdade, a julgar pelo que inventa uma vez ou outra no cargo que possui. Essa perpetuação negativiza sempre o debate e concorda mais com aquilo que quer combater do que em propor uma solução. Vide o que há pouco tempo fizeram com aquela menina de dez anos que engravidou e teve que ir para o hospital fazer um aborto, tendo sido exposta daquele modo vil por aquela neonazista escrota disfarçada de "boa moça bela, recatada e do lar", uma tal de Sara Geromini, aka Sara Winter. Damares se mostrou contra o aborto, mesmo que a menina morresse e hoje declarou que preferia que a mesma "passasse por uma cesariana"... Sara, caso alguns não saibam, foi uma das assessoras da Pasta de Damares… Na boa, gente, como levar a sério alguém que contrata uma retardada mental como essa neonazista para trabalhar junto consigo? E qual o contexto do trabalho de Damares, com tantas escolhas erradas como esta feitas, para vir a guerrear contra um filme que está fazendo um trabalho muito melhor do que ela? Pois, seja positivamente ou negativamente, a Pedofilia está sendo discutida com todos os lados abordando a temática. O poder de um filme está em sua capacidade tanto de provocar quanto de instigar as pessoas a reflexões. O poder da Arte está a favor de ser uma voz para manifestações de tudo de Sublime e Grotesco que reside na Alma Humana. Damares e a turba que protesta veementemente contra o filme, sequer compreenderam a mensagem dele e jamais seriam capazes de compreender a Arte. Esta não é obrigada a agradar a todos, quando genuína e provocadora, o que Mignonnes comprova. 


Voltando ao assunto da menina que teve que ser operada, ao invés de discutirem sobre a vida física e psicológica dela, conservadores e progressistas promoveram um verdadeiro filme de Terror desnecessário e deprimente. É o mesmo que ocorre com este filme, o qual pode até entrar para a disputa do Oscar 2021, se eu estiver enganado. Já imaginaram o escândalo vindo de todos os lados, maior do que agora, se alguma premiação ele recebesse? Como Melhor Direção, Melhor Filme Estrangeiro ou Melhor Filme? Viajando no tempo agora, através da perspectiva de um cenário assim que pode estremecer o mundo inteiro... Uma grande oportunidade que Hollywood não deveria deixar passar pelo que o filme traz de essencial para o debate acerca do assunto nele tratado. Quanto valeria, então, cada grito de revolta, de ódio, desesperado e ridículo, que tanta gente pelo mundo afora está destilando aqui no mundo virtual e fora dele? O hipotético panorama do filme ganhando o Oscar pode até não ocorrer, mas seria interessante ver a reação de cada brasileiro defensor da "moral e dos bons costumes", "as pessoas de bem", "os guerreiros a favor da Família", atrelados a Damares, na guerra que esta ergue neste exato momento. Neste exato momento em que uma criança pode estar sendo estuprada. Neste exato momento em que uma mulher pode estar sendo vítima de um estupro coletivo. Neste exato momento em que tantas dores e injustiças podem estar ocorrendo, já que a Pasta dirigida por ela também trata de Direitos Humanos diretamente. E a cidadã se importa em combater um filme ao qual ela deveria apoiar por expor toda a problemática da hipersexualização infantil que assola o Mundo Contemporâneo na Revolucão Digital constantemente em vigor? 


Uma grande discussão Mignonnes traz. E enquanto o mundo precisa de atenção para tantas e tantas e tantas outras coisas... A senhora Damares tem o nítido desejo de estar nos holofotes atacando algo que dê visibilidade a ela. Entre uma menina pobre da periferia vítima de Pedofilia e um filme produzido por uma grande empresa, ela prefere mirar no que faz dar mais visibilidade a ela. E aqui está centrado um caminho de raciocínio válido sobre essa atitude dela, uma clara intromissão de algo que faz parte do Estado em um produto artístico. Algo comum em regimes totalitários, autoritários, inimigos das liberdades de pensamento e de expressão. Porém, nós não estamos na Indonésia, na China, na Turquia, na Rússia ou onde quer que o Autoritarismo vigore. Não somos um país democrático? Ou é uma ilusão a Democracia Brasileira? Sendo assim, o que lhes faz pensar, leitores virtuais, que seus livros, filmes, séries, animes, mangás e tudo que você culturalmente consome estejam livres de um ataque como este filme sofre advindo agora de uma Autoridade Política? Alguns de vocês podem nem estar ligando para o que significa esta atitude de Damares, mas a mesma é muito séria e abre diversos precedentes para a interferência política no meio cultural e subcultural de nosso país. Se uma obra que vocês apreciem não seguir a cartilha do que qualquer pessoa do Governo atual defende ou preconiza, qualquer um além de Damares, for atacada na mesma proporção que estão atacando Lindinhas, como seria a sua reação? Porque, logicamente, neste atual mundo de problematizações e cancelamentos nos quais estamos hoje inseridos, tudo pode ser vítima de um ataque como o que podem ver acessando as Redes Sociais ou pesquisando. O caminho se abre, mesmo que alguns não percebam ou pensem que eu estou a exagerar, para que outras obras sejam atacadas se não seguirem a cartilha do que é "bom, correto e virtuoso". Isto vai além das crenças religiosas da Senhora Damares e ela mesma, se pensarmos bem, é apenas uma pecinha dentro de uma grande máquina perseguidora do Livre-Pensamento. E alguns dos criadores de tudo que consumimos culturalmente, lendo ou assistindo, são Livres-Pensadores, como Alan Moore e Grant Morrison, citando apenas dois exemplos. Então, se no futuro algo que te agrade acompanhar for vítima de uma perseguição como a discutida neste artigo você aceitaria e ficaria de braços cruzados? 


Guerra em um meio como o nosso já existe há muito tempo, como sabem, através de pautas várias que estão retirando o prazer de, simplesmente, apreciar algo. E se políticos como Damares cada vez mais se intrometerem em nosso meio, como Marcello Crivella fez naquele caso da revista dos Vingadores ano passado, os resultados não são nada agradáveis a longo prazo. Para finalizar, esclareço que, deixando de ser uma "Maria vai com as outras", penso que o filme deve ser analisado acerca da MENSAGEM que ele transmite e, não, por imagens aleatórias que foram jogadas na Internet. Mudando de opinião, pensando por conta própria, podemos deduzir que estamos julgando todo o filme por algumas cenas jogadas ao acaso na Internet, não é mesmo? Não há nada bom em ser extremista a tal ponto de nem querer saber o significado real do filme, a mensagem que ele repassa. Fica aqui este texto para reflexão, apenas isto, mais para o opróbrio do que para os aplausos. Liberdade de pensar e de opinião, para mim, vem junto com o senso de não querer agradar ninguém. E contra absurdos surreais como o da Ministra Damares, intrometendo-se em algo que ela poderia utilizar positivamente para chamar a atenção acerca da Pedofilia, minha atitude é sempre ser duro e direto como fui aqui. Autoritarismo e intervenção política no meio cultural lembram uma época nada feliz para quem como eu e alguns de vocês livremente pensam. Um tempo que nenhum de nós, no geral, quer de volta. 


Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores! 



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Imagens Originais





Anexo I


Neste vídeo, a diretora de Lindinhas, Maïmouna Doucouré, explica os objetivos do filme. Do Canal Oficial Netflix Brasil no YouTube. 




Anexo II


Para ser democrático e ampliar o debate, posto um vídeo de uma crítica contundente e pesada ao filme, do Canal Eu Amo Falar no YouTube.  A minha primeira opinião sobre o filme, influenciado pelo que recebi via terceiros, está lá postada em comentário (que não vou apagar), caso interesse acessar direto o vídeo lá.





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