10 HQs fora do Marvel/DC - ROUND 4


Demorei, mas voltei! Aquela infeliz prisão no inferno tinha guardas muito burros. Deixando as coisas sérias de lado e brincando um pouco, esse é o último Round que eu vou fazer, ao menos esse ano. A minha ideia depois do primeiro era fazer pelo menos um por ano. Mas com a quarentena fui surpreendido e já teve três só em 2020! Acho que já está de bom tamanho. Apesar deles serem pequenos, dá um trabalho pra eu ler/reler tudo pra poder comentar e eu gostaria de fazer alguns posts diferentes. Mas não se preocupe, que é coisa bem legal que virá.



10-Graphic MSP

Não é meu caso, mas muitas pessoas são fanáticas por "Turma da Mônica" a vida toda. Essa coleção agrada bastante a galera, dando uma cara diferente pras aventuras desses personagens clássicos. Os desenhos costumam ser lindíssimos, passando uma ótima experiência. Só tenha em mente que você vai "ler" em poucos minutos, pois a maioria tem pouquinho texto. Se você conhecer alguém que gosta, não é tão caro, mas bem bonito, pode ser um bom presente. 


9-Big Guy e Rusty, o Garoto Robô

Dois nomes colossais da indústria, o Frank Miller (texto) e o Geoff Darrows (desenhos). Um monstro/demônio gigante, "a coisa", começa a atacar Tokyo com um nível de poder aparentemente imparável. O Rusty é um menino robô agente do Japão, aparentemente em homenagem ao Astro Boy, de Tezuka. Mas ele precisa pedir ajuda ao robô americano Big Guy para vencer o exagerado demônio. Tudo indica que nessa época o Miller já tinha começado a pirar, e surpreendentemente, seria melhor se os textos dele fossem apagados da história, bem no nível Stan Lee. Mas vale a pena conhecer a HQ pelos desenhos do Darrow, um dos melhores que existe, mas infelizmente não faz HQs tanto assim, trabalhando mais com Cinema. As poucas preciosidades que ele fez valem a pena ser conferidas.



8-Hurulla

HQ nacional produzida há alguns anos. Acompanhamos um andarilho de tempos medievais que lembram o mundo do Conan. Com um jeito meio temperamental, o Hurulla entra em confronto com monstros e criaturas paranormais. O que chama a atenção em qualquer página que você abra são os desenhos fenomenais do Clayton inLoco, é muito caprichado! Foram lançados dois volumes e cada um tem três histórias curtas que são independentes entre si. Os enredos são bem simples, mas de vez em quando há umas sacadas bem pensadas. Só sinto falta de cliffhangers que te prendam a querer ver a próxima história. O maior destaque são as paisagens e seres fantásticos muito bem desenhados, além da inesperada personalidade "foda-se" do protagonista, no mesmo estilo do Hellboy.


7-East of West

Eu não sei como começar a explicar "East of West", e acredito que pouquíssimas pessoas saberiam. Em poucas páginas o autor Jonathan Hickmann já te joga num avançado universo inédito com um monte de loucuras acontecendo. A história é focada em um Estados Unidos distópico, em uma realidade alternativa onde elementos místicos, como uma profecia, um projétil dos céus e os Quatro Cavaleiros do Apocalipse alteraram o andar de muitas coisas logo no século XX. O país então é dividido em sete partes governadas por líderes esquisitos, corruptos, autoritários e exageradamente característicos como grupos específicos da história cultural dos EUA. Alguns lembram cowboys, outros indígenas, imperadores asiáticos, banqueiros e líderes religiosos. Todos seguem o raio da Profecia do Apocalipse para orientar suas escolhas diante do próximo fim do mundo.


Não falta cenas de ação extremamente malucas. Apesar de ser possível fazer paralelos com a política do mundo real, é tudo tão estranho que você provavelmente não vai parar pra traça-los na primeira leitura. Os desenhos do Dragotta roubam a cena, com designs malucos e cenas de ação bem impactantes.


6-Bone

Um dos quadrinhos infantis mais famosos do Ocidente. Jeff Smith começou a publicar a aventura dos primos Bone independentemente, após ser desprezado pelas grandes editoras. Os três personagens com aparência de fantasminhas estão perdidos em um deserto depois de terem fugido de sua cidade-natal, Boneville. Após ficarem um tempo perdidos em uma floresta, encontrando com animais falantes e algumas criaturas puramente fantasiosas (como dragões), eles encontram uma cidade e tudo começa a se desenvolver. Os personagens são claramente uma mistura de cartuns famosos, como uma síntese de Mickey, Donald, Pateta e Tio Patinhas. Pra um quadrinho tão bem falado, admito que esperava mais. O desenvolvimento me desapontou um pouco, e às vezes até os desenhos. Mas há momentos bem competentes. Se você gosta de histórias de fantasia na pegada meio "História Sem Fim" e "Senhor dos Anéis", Bone mistura tudo isso com esse estilo de cartuns da Disney, com algumas referências ficando bem claras.


A última republicação no Brasil foi colorida, diferente do original em preto e branco. Foi um total de 3 volumes, tem um box com tudo.


5-Star Wars: Obsessão

Hoje a série "Star Wars" voltou a ter seus quadrinhos publicados pela Marvel, mas quando eu era moleque e o Universo Expandido tinha uma coerência respeitável, a editora era a Dark Horse. Essa série iniciou uma linha de revistas brasileiras na época que o "Episódio III" estava pra sair nos cinemas, em 2005. Apesar de ter durado só cerca de um ano, as histórias contidas eram muito boas.  Em "Obsessão", temos o jovem Obi-Wan Kenobi perseguindo a sith Asajj Ventress, que supostamente havia sido assassinada pelo Anakin no desenho das Guerras Clônicas.


É um quadrinho de ação. O bacana é como aparecem os melhores personagens dessa fase das Guerras Clônicas, em algumas sequências que são bem empolgantes e superam tranquilamente os filmes. Uma memória da juventude que eu ainda tenho aqui em casa, e apesar de não acompanhar mais nada dessa marca, ainda me divertiu reler (15 anos depois). O mix brasileiro contou também com "Temporada de Caça", que mostrava a origem do Jango Fett.



4-Democracia

Quis imediatamente conferir este trabalho por envolver um dos responsáveis por "Logicomix", outro quadrinho grego que comentei no Round 2 dessa série. Aqui retorna o Papadatos e a Di Donna, envolvidos no roteiro e nos desenhos. Infelizmente a propaganda "dos autores do bestseller Logicomix" é semi enganosa, porque os dois maiores créditos na propaganda do Logicomix são de outras pessoas, o Doxiadis e o Papadimitriou. Mas não se desanime, "Democracia" é muito bom. Um soldado ateniense, Leandro, começa a contar sua história para um colega na noite anterior a um ataque. Junto da história de sua vida pessoal, Leandro narra os acontecimentos sociais que antecederam a criação do sistema democrático. Começa quando Leandro era um adolescente seguindo os passos do pai como comerciante. Ficando mais velho ele passa a ser mais cético, crítico e se segura nos sonhos e ensinamentos que recebeu de sábios no passado sobre uma sociedade que seria mais justa.


Os elementos da cultura da época são constantes, como precisam ser em uma história do tipo, e também vemos um pouco de paranormal, havendo interações com os deuses que eram reverenciados na época. Eles conseguem variar bem entre o simples, o intimo e pessoal até o extremamente sério e com pertinência atemporal, como são as questões da luta pelos direitos da população. Terminando as duzentas páginas há 30 de comentários, glossário ilustrado e explicações. É bem claro, eu pretendo reler acompanhando pelo glossário para ter uma experiência mais completa. Eles não se preocuparam de referenciar, como os trabalhos do brasileiro Marcelo D'Salete, mas ficou muito bom mesmo assim. Vale o valor mais alto do que o de um gibi médio para os interessados por História e Política.



3-Tom Strong

Logo na primeira edição já fica claro que a origem de Tom Strong é uma mistura das influências do Tarzan e do Quarteto Fantástico, revistas que o autor Alan Moore já disse várias vezes ser apaixonado durante a infância. O Strong cresce em uma tribo indígena africana, mas pode usar seu grande intelecto e tecnologia deixada por seus pais geniais para criar recursos impressionantes. Em uma grande sequência de histórias (36 edições) você se diverte enormemente com a criatividade de Moore pra fazer aventuras de fantasia, raras vezes deixando escapar seu sadismo e humor negro. Há ideias muito inteligentes e os coadjuvantes são muito divertidos, no geral sendo uma boa coleção que todos deveriam conferir. Leia apenas a primeira edição, ela é tão divertida e inteligente que você vai ter que resistir pra não conferir o resto. Infelizmente é subestimada, mas muitas das melhores mensais que o Moore fez foi nessa série.



2-Locke and Key

Essa série só havia tido o primeiro volume publicado no Brasil, pela Geektopia. Mas como houve a recente adaptação pro Netflix, eles trouxeram o segundo volume, fica o mistério se chegará até o final (acho que não, ainda mais com o valor caro, 60 reais por 170 páginas). De qualquer forma, eu li a primeira leva de histórias e curti bastante, gostaria de terminar um dia! Do que se trata? Uma família acabou de se mudar para a mansão Lovecraft (tsc, tsc) para tentar iniciar uma nova fase na vida. É uma mãe com três filhos. Em pouco tempo, algumas características da mansão (que lhe trarão deja vus de histórias de terror) vão entrando em contato com um dos filhos e os problemas vão chegando.


O roteiro do Joe Hill, ao menos no início que eu li, é um terror básico, mas extremamente competente, você sai muito satisfeito. O Gabriel Rodriguez é a mesma coisa, não é nada que você abra e fique "ooooooooooooh" impressionado, mas além de fazer bons designs de cenários e personagens, ele também utiliza bem alguns recursos básicos da narrativa de quadrinhos, sempre que há a oportunidade ele e Hill brincam com a estabilidade da grade de quadros e o movimento dos personagens, tornando a narrativa sempre curiosa. No final do primeiro encadernado ficou a promessa de que tudo estava apenas começando, com a entrada de várias chaves que têm habilidades diferentes. Se eu terminar de ler posso voltar pra dar uma impressão mais completa pra vocês, mas em mídia física no Brasil, vai ser improvável.



1-Marvelman

É uma desgraça essa ser a única das grandes HQs do Alan Moore que não pode ser facilmente encontrada pra compra. Mesmo trabalhos menores dele, como Halo Jones, vêm sendo republicados de tempos em tempos. Mas a proibição que o roteirista conseguiu colocar de publicarem com o nome dele, deixando apenas "Autor Original" provavelmente facilita em parte com isso. Eu adoraria ter um encadernado dessa série pra guardar e ler de tempos em tempos. Mas vamos lá! O Marvelman era um personagem bem bobinho com todo o estilo do Capitão Marvel. Ao dizer as palavras mágicas "Kimota!" ele conseguia poderes quase que absolutos de um super-ser.


Mas quando começa a série com Moore e Davis, Michael Moran acorda ao lado de sua esposa, quando apenas sonhava que era Marvelman. Na verdade ele é só um coroa cabisbaixo, com uma enxaqueca que não passa nunca. Claro que as coisas não vão ser tão simples, e eu jamais seria um monstro de passar spoilers pra você. O que posso te dizer é que você confie que esse foi o primeiro experimento realmente notável de, "se super-heróis existissem, como isso seria?!". Sem a sátira debochada que veio décadas depois com séries como "Kick-Ass" e "The Boys", Moore trata a existência de poderes mágicos entre humanos de forma grandiosa e dramática, com belo destaque para o lado psicológico de todos os envolvidos.


É o início de dois fatores da melhor fase dos trabalhos do Moore nos anos 80, com "V de Vingança", "Watchmen" e "Monstro do Pântano": 

1.histórias grandiosas, tratando de muitas reflexões sobre a condição existencial do ser humano, 

2.mostra que as histórias em quadrinhos de super-heróis podem abordar experiências tão boas quanto é possível.

Com exceção de alguns vilões secundários meio bobos e uma passagem racista (coisas que não se repetiriam no resto de sua obra), Marvelman é uma história obrigatória. Você dificilmente vai encontrar em volume físico, mas se for fã de super-heróis tem o compromisso de conferir o arco de "Marvelman" pelos Alans, porque todo mundo que faz parte desse nicho adora. É um trabalho que você nunca esquece.


Caso queira conferir, deixo aqui link das outras partes, que também têm muitas recomendações legais...



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