Feriadão bom e barato

Feriadão. E no meio da semana. Pra professor, é uma maravilha. Ontem, os "estudantes" deste nosso Brasil dantes mais varonil já emendaram, fizeram um "paredão", como costumávamos dizer na minha época de apedeuta. E, se tudo der certo - se der errado, não será por falta de reza docente -, emendarão amanhã e depois.
Feriadão. Lapsei-me. Esqueci-me de que o supermercado perto aqui de casa não iria abrir suas portas. Ele quase nunca fecha. Apenas em uns três ou quatro feriados no ano. O de hoje, um deles.
O alimento para o estômago, o antepasto, não foi o problema. As provisões na geladeira - arroz, feijão, frango grelhado, salada de berinjela, macarrão com calabresa, brócolis, tomate-cereja e manjericão - são suficientes até para o fim da semana, para a sexta-feira.
Mas e o alimento para a alma, a cerveja, o sacrossanto etanol? Nem me atinei para o feriado. Não estoquei latinhas de cerveja para o apocalipse do 1º de maio, para o blecaute do dia do trabalho.
Como assistir aos telejornalísticos do meio-dia com a Andréia Sadi, aos programas de culinária (recomendo muitíssimo o Comidas de Praia com Kate Lee - não as comidas de praia, que quero que os camarões e as manjubas se fodam, mas sim a Kate Lee) e aos documentários turísticos sem uma latinha ao lado, bebericando e beliscando um tira-gosto?
Lancei-me à rua. À rua Henrique Dumont, a aorta comercial do bairro. Fui subindo-a à procura de um estabelecimento cujo  gerente fosse o Al Capone e que teimasse em abrir na lei seca do 1º de maio. Subi mais de dez quarteirões e fui recompensado.
Um posto de combustíveis sem bandeira conhecida, de bandeira branca, gasolina cristã, batizada. E daí? Que se fodam os motoristas e seus apêndices fálicos, os seus carros. Entrei na loja de conveniência e dei de cara com inúmeras geladeiras com altíssima densidade demográfica de cervejas, das mais variadas marcas. Surpresa ainda maior e melhor : preços melhores que os do mercado.
Para a minha esposa, fui incumbido de comprar Subzero. Elas estavam lá. Quatorze centavos por lata a menos do que pagaria no supermercado desertor. Escrutinei as geladeiras em volta para ver qual levaria para mim e lá estava ela : a Dama de Vermelho - garçon, olhe pelo espelho, a Dama de Vermelho que vai se levantar; note que até a orquestra fica toda em festa quando ela sai para dançar...
Lá estava ela, a Dama de Vermelho, a Lokal Bier. Exposta por detrás do grosso vidro da geladeira, sob a sua luz fria. Uma prostituta  nas vitrines de Amsterdã. E o melhor : sem cobrar em euros ou em florins. Em reais. Em pouquíssimos reais. 
R$ 1,69, o latão de 473ml!!!!
O transtorno do mercado fechado levou-me a uma grata surpresa e à economia de uns reais. Como dizem, há males que vêm pro bem, quando deus fecha uma porta, abre uma janela e outros blás-blás-blás conformistas.
A Lokal é boa. Não é, claro, uma puro malte. Mas tem mais gosto de cerveja que a maioria das cervejas de pobre mais consumidas. Tem mais amargo de lúpulo do que, por exemplo, a Subzero, a Kaiser, a Itaipava, a Bavária e, óbvio, a superestimada Skol, cuja composição é 50% de milho e 50% de propaganda enganosa.
Boa, a Lokal. Fabricada em Teresópolis, região serrana fluminense de famosas, cristalinas e cervegênicas águas.
Ei-la, meus caros, a Dama de Vermelho, a 1,69 o latão!!!

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