Vladmir Adrem OU A GRANDE DIVAGAÇÃO DO SANDROZO


Nota do Ozy: Achei esse texto entre meu monte de arquivos. Foi me enviado acho que há uns 7 anos, por MSN, e seria publicado na Fênix Fanzines #2, que nunca ganhou vida. Perdi contato com o autor, assim como com quase todos que participaram do projeto, mas resolvi publicar por aqui, já que o “zine” se foi. 

Corações humanos carregam desejos inescrupulosos.
            Porém, com o passar dos anos nos ensinam a aprisionar nosso raciocínio ao ponto dele se tornar domesticado o suficiente para um convívio social harmonioso, assim qualquer atividade fora dos padrões convencionais serão julgadas como proibidas ou apenas liberadas quando encontrar-se solitário e com a absoluta certeza de que não há ninguém por perto filmando, é exatamente esta a fresta que possibilita o afloramento das nossas vontades latentes e escondidas sem que você se torne um louco de atitudes condenáveis, é por essa razão que, em certos momentos da vida, buscamos refúgio dos olhos alheios para libertar, ainda que instantaneamente, nossas próprias loucuras.
            A dilatação incontrolável disso pode tornar-se um problema.


            Desde os tempos remotos da minha sobrevivência venho acumulando umas obsessiva paixão pelos insetos voadores, não exatamente ao seu modo de vida peculiar, à isso cabem os biólogos idiotas e felizes pelas descobertas inúteis feitas com o microscópio, meu fascínio está apontado para os segundos finais antes de uma palmada assassina e o posterior dilaceramento de seus membros não mais articuláveis, obviamente recuso a utilização dos instrumentos tecnológicos desenvolvidos pela sociedade no decorrer dos anos, tudo aquilo só foi inventado para mantermos a economia rodando e não paralisamos a incansável produção de lixo, além de tudo deve ser horrível morrer envenenado por jatos de spray perdendo toda a poesia lírica presente no contato direto entre as diferentes espécies, este é o ciclo perfeito da natureza, os insetos vêem, sugam meu sangue, saem por aí voando como se fossem bêbados alegres, e pronto, ali está ele esmagado caído no chão dando seus suspiros finais enquanto é dilacerado por formigas devoradoras de cadáveres famintas e meu próprio sangue ali, de volta e espalhado pelas palmas das mãos enquanto uma risada confortante arde em meu coração. Imagine-se caminhando pelas ruas com a barriga cheia e de repente deparar-se com um animal incrivelmente maior que com suas patas imensas vai te destruir em uma fração de segundos e ainda dirá "a vida é isso meu chapa, termina como um ponto final inesperado em uma frase que ainda nem havia completado um sentido sólido". Assim passarão os anos e toda a espécie começara a acumular um medo exacerbado pois as ameaças daquele troglodita assassino começarão a aumentar e tornarão se cada vez mais implacáveis pois o desconhecido passou toda sua vida dedicando-se a isso e inevitavelmente tornou-se um gênio  na arte de matar.
            Alguns vão creditar isso aos meus traumas de infância, mas isso não passa de baboseira ridícula  dita por psicólogos sedentos por realizar suas aspirações homossexuais, outros relacionarão a localização dos astros na hora do meu nascimento, a estação do ano na qual meu pai nasceu e a posição da minha mãe antes do parto e concluirão que meu comportamento é típico de um virginiano com ascendência em escorpião, mas qualquer pessoa com a capacidade de pensamento não limitada percebe que tudo isso não passa de merda vomitada junto com pedaços do fígado nos momentos de embriaguês com a única diferença que isso foi teorizado e puplicado em livros até se tornar convincente para umas bichas depravadas.
            Eis que surge mais um levantar do sol, o despertador rasga meus devaneios com sua buzina desgraçada, me traz a força para o plano real enquanto grita no meu ouvido "levanta Vladmir, você tem mais um dia de merda para enfrentar" poucos minutos depois ali estava eu me equilibrando diante da privada, segurando meu caralho mole e com a cara de quem acabava de levar uma surra do próprio travesseiro quando me deparo com um legítimo anófeles vlactuporium africano, ali na minha frente com seu maravilhoso corpo tracejado de linhas paralelas alternadas entre preto e branco e seu exuberante par de asas, dançando suavemente sobre o vaso, provavelmente estava doente, mas antes de sucumbir decidiu atravessar o atlântico para morrer como todos insetos gostariam, diante de um profissional da morte. Aquilo era perfeito, eu segurava meu pau com força enquanto calculava a ação, iria esperar friamente pelo momento certo até disparar um jato de urina letal sobre o infeliz, aquilo molharia suas asas e ele cairia lentamente nas águas do vaso sanitário, terminaria de mijar e então abaixaria meu rosto até a ponta do nariz tocar naquele misto de água suja e mijo e sussurraria nos seus ouvidos "é isso meu camarada, a vida definitivamente é uma merda e só tende a piorar" enquanto ele se engasgava com a urina letal vinda do pinto de um mutante que habitava um planeta distante e desconhecido, depois apertaria, sem nenhuma gota de piedade o botão que aciona a descarga derradeira que o  levaria ao mundo merda, o lugar onde a sociedade deposita seus excrementos antes de eles serem canalizados e despejados em algum córrego de um bairro pobre, afinal é lá onde moram os fodidos e os fodidos não se preocupam, com o fato de serem vizinhos de um monstro adormecido feito de lama, bosta e xerume. Definitivamente aquilo era perfeito, tudo estava friamente arquitetado em meu cérebro delinquente e psicótico e a arma carregada, pronta para apertar o gatilho, naquele momento a adrenalina borbulhava nas veias, estava tremendo e um suor gelado encharcada meus lábios secos, precisava manter a calma, tinha que calcular exatamente o ato, considerar os efeitos da gravidade e os desenhos que o inseto fazia no ar, não havia chances para falhar, heróis de verdade nunca falham, se quer titubeiam, são sempre certeiros com seus poderes avassaladores, e em um momento de indecisão se aquela era realmente a melhor hora disparei o mijo da destruição, porém, em um ato de sorte, ele conseguiu se esquivar com uma leve inclinação a esquerda e o tiro manchou a borda da privada, antes dele completar o movimento, disparei o segundo jato e foi direto no papel higiênico, nesse momento o instinto de sobrevivência animal o alertou de que estava em um ambiente hostil a sua sobrevivência e iniciou uma fuga em alta velocidade pelo apartamento, sai correndo para a captura com o pinto latejando apontado para a presa enquanto ela me driblava com movimentos transversais rápidos, estava desesperado, precisava atingir o inimigo e  não desperdiçar a restrita  munição, agora eu já não tinha o menor controle da situação, era uma catástrofe, e estava atirando sem mira e de longas distâncias, até que o humilde voador africano pousa delicadamente na parede, estava exausto e torcia para estar em um ambiente seguro, me aproximo calmamente enquanto o observo com os olhos dos predadores de sangue frio e quando a distância entre ele a a cabeça cuspidora de urina letal está próxima aos cinco centímetros apertei com toda a força que me restava os músculos mutantes e tudo que saiu foi um tímido assopro de vento inofensivo, então uma imensa fúria me dominou no momento e mandei  um soco direto espremendo o bichinho contra a parede, soltei-o e ele caiu no chão já debitado, me ajoelhei e disparei mais cinco porradas com o punhos fechados e os olhos fervendo de tanta raiva, depois levantei, apontei o dedo para ele e berrei  com os pulmões entupidos "MORRA FILHO DA PUTA" então cuspi sobre sua carniça fragmentada, observei os cômodos, estavam cheios de urina e fediam como a bunda de um mendigo, virei as costas, e fui embora, estava aliviado, afinal, foda-se, o que são um pouco de mijo em um mundo de merda.

Vladmir Adrem (Sandrozo?)


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