Demolidor de Ed Brubaker – Essa fase é boa...Mas podia ser melhor

 


Demolidor de Ed Brubaker – Essa fase é boa...Mas podia ser melhor

Normalmente na indústria dos quadrinhos, quando um escritor termina sua fase em uma revista de determinado personagem, ele encerra todas as tramas que criou e restaura o statuos quo, de forma que o próximo que assumir possa contar sua história sem preocupar com tantos detalhes da continuidade e seu trabalho possa ser um novo ponto de partida para os leitores.

Mas existem exceções a esse padrão. Uma delas tendo sido o Demolidor de Brian Michael Bendis. Como explicado no meu texto anterior sobre as histórias do Homem sem Medo, toda essa fase girou em torno do Matt tendo sua identidade exposta e, em resposta, tomando decisões questionáveis, incluindo se tornar o Rei do Crime da Cozinha do Inferno.



Visto essas grandes mudanças, era normal assumir que esse arco iria concluir com Matt reconhecendo seus erros e voltando a ser um herói mais otimista. No entanto, essa não foi a conclusão que Bendis entregou: A última história terminou com o protagonista se deixando ser preso pelo FBI, aceitando encarar a punição de seus crimes.



Esse cliffhanger com certeza deixou muitos leitores curiosos em saber o que aconteceria em seguida, mas também criou uma dúvida: Quem poderia assumir o lugar de Bendis e manter a qualidade de sua fase tão popular?

Ed Burbaker.



Conhecido por seus trabalhos em revistas do Capitão América e Gotham Central, Brubaker, em parceira com o artista Michael Lark, assumiu as hqs do Demolidor da edição 82 a 119 e 500, do ano de 2006 até o final de 2009. Durante esses 3 anos que escreveu o Homem sem Medo, Brubaker deu continuidade as tramas estabelecidas por Bendis e, ao mesmo tempo, aplicou sua própria abordagem ao personagem, colocando-o diante novos desafios e dilemas que exploram Matt Murdock e sua falibilidade.



TRAMA

 O primeiro arco de Brubaker, “Demônio no Pavilhão D” (uma das minhas histórias favoritas do Demolidor por sinal), começa onde Bendis terminou, com Matt Murdock tendo sido preso na Ilha Ryker e tendo que sobreviver aos vários inimigos que prendeu, enquanto seus amigos travando uma batalha jurídica para garantir sua liberdade. 



Porém, quando Foggy Nelson é assassinado, Matt, tomado por uma fúria, jura encontrar o assassino.



Essa decisão leva Matt a nova jornada que o colocará em diferentes cenários, de vários cantos do mundos aos becos mais sombrios de Nova York, onde ele confrontará inimigos, tanto velhos quanto novos, e dilemas que o levam a encarar duras verdades sobre si mesmo que ele próprio não está preparado para aceitar.



DE DRAMA MAFIOSO PARA MISTÉRIO NOIR...E DEPOIS ARTES MARCIAIS.... 

Por ter que continuar a história que Bendis estabeleceu, é fácil de assumir que o roteiro Brubaker ficaria limitado, com ele tentando se manter na direção do Bendis e não conseguindo apresentar suas próprias ideias. Por sorte, esse não foi o caso, com Brubaker mantendo consistência com o tom da fase anterior, mas realizando umas mudanças bem sutis no tipo de história.

Enquanto a fase do Bendis era mais um drama de crime organizado, a fase do Brubaker tem um tom mais noir, cheios de mistérios, suspeitos e reviravoltas, com o Demolidor sendo o protagonista detetive tentando juntar os pedaços desse quebra-cabeça enquanto lida com capangas, femme fatales e manipuladores.



A escolha desse estilo se mostra um dos destaque dessa fase, com Brubaker criando vários arcos bem interessantes que prendem a atenção dos leitores. Isso não é surpresa visto a experiência do autor em trabalhar em histórias de mistério e investigação policial (melhor exemplo sendo Gotham Central e sua fase do Capitão America).




No entanto, enquanto maior parte da fase é fantástica e bem roteirizada, ela acaba tendo uma queda de qualidade em seus últimos arcos, com vários incidentes acontecendo de forma apressada. O estilo muda drasticamente de um mistério de ritmo lento e bem construído para uma história de ação e artes marciais, com tudo girando em torno da volta do Tentáculo e o Demolidor sendo recrutado por um velho cego chamado Inzo (que evidente era pra ter sido o Stick, porém Brubaker não pode ressuscitá-lo) para enfrenta-los.



Essa mudança acaba afetando a qualidade história que Brubaker estava contando, dando uma sensação de que ele queria contar algo maior, com mais arcos, mas foi forçado a encerrar seu trabalho de forma prematura.

HOMENAGEM AO PASSADO

Outro aspecto presente na fase de Brubaker era o retorno de vários personagens fantasiosos da mitologia do Demolidor, que estiveram ausentes na fase anterior Bendis, onde o foco era dado para a mafiosos e traficantes (até personagens como Mercenário e Mary Typhoid tiveram visuais mais realistas).

Nessa abordagem, Brubaker mostrou o Demolidor enfrentando vários vilões clássicos de sua galeria subestimada, como Gladiador, o Matador e Sr Medo. Todos eram representados de forma menos galhofa e condizente com o tom mais sombrio. Isso permitiu Brubaker manter consistência em sua grande história e, ao mesmo tempo, fazer homenagens e referências aos quadrinhos clássicos do Demolidor.









Mas Brubaker não se limitou apenas vilões clássicos. Ele também criou antagonistas novos como a misteriosa e fatal Lady Bullseye, uma assassina que não só possui uma ligação com Mercenário e o Tentáculo, mas tem um papel importante no desenvolvimento de personagens como Matt e o Rei do Crime.



A PENITÊNCIA DO HOMEM SEM MEDO

Como todas grandes histórias do Demolidor, a temática principal dessa fase é são os questionamentos do herói sobre sua natureza: Ele é uma pessoa boa lidando com problemas do mundo ao seu redor ou é uma figura sombria tentando ser bom e justo? Suas ações fazem uma diferença positiva nas pessoas, ou apenas as prejudicam ainda mais? A resposta muda dependendo do roteirista.




No caso de Ed Brubaker, ele continua a abordagem de Bendis, mostrando Matt como um homem problemático, capaz de tomar várias decisões imprudentes e egoístas, o que resulta na vida sendo arruinada. Mesmo quando tenta consertar as coisas, ele apenas torna as coisas piores, dando continuidade a esse ciclo de tragédia e raiva em sua vida.



Por isso, é triste mas apropriado que os arcos nessa fase pareçam punir o Matt por seu comportamento destrutivo forçando-o reconhecer essa verdade sobre si mesmo.



Isso tudo culmina no arco final “O Retorno do Rei”, onde o Rei do Crime retorna a Nova York e propõe uma aliança com o demônio da Cozinha do Inferno para destruir o Tentáculo. Porém, Fisk está secretamente planejando assumir controle da organização e ganhar mais poder e influência. Para impedir isso de acontecer, Demolidor toma uma decisão ousada, que tem um grande preço em sua vida pessoal, mas fornece a chance de salvar a todos.

 


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por causa da mudança de tom e ritmo, fase do Ed Brubaker não chega no mesmo nível da fase do seu antecessor, mas continua sendo uma trama boa, que continua o desenvolvimento do Demolidor e seu mundo.

É uma boa narrativa de mistério e drama que faze tributo as histórias passadas da mitologia do Homem Sem medo enquanto move sua história para frente, mantendo a essência do personagem que o tornou tão admirado pelos fãs. 

Nota: 8/10

 


Então é isso! Qual a opinião de vocês quanto a fase do Demolidor do Ed Brubaker? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões nos comentários abaixo...


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