Coringa: Delírio a Dois é um grande desrespeito com o personagem - Review com spoilers

 


Ontem, fui assistir à pré-estreia de Coringa: Delírio a Dois, sequência de Coringa, protagonizado por Joaquim Phoenix e dirigido por Todd Phillips, que foi provavelmente o filme mais comentado de 2019, tendo um alcance muito maior que o do público geek/nerd. Pessoas nada afeitas ao meio comentaram sobre o filme, que é basicamente a história de um psicótico que se transforma em psicopata.


Devo dizer que não considero o Coringa de Joaquim Phoenix uma versão adaptada dos quadrinhos, mas uma completamente diferente. Não é o Coringa das HQs de maneira alguma, apesar de ter algumas referências incidentais, como a cena no talk show de Murray Franklin, interpretado por Robert DeNiro, que lembra um pouco a cena do Coringa em O Cavaleiro das Trevas de Miller. No entanto, o Coringa de Phoenix não é um vilão como o das HQs, está mais para um anti-herói. A gente até vê o lado mais narcisista do Coringa, mas não o sádico.


Coringa: Delírio a Dois
se situa um pouco depois dos eventos do primeiro filme. Arthur Fleck está vivendo uma vida apática no Arkham, enquanto espera julgamento. Quem está nesse filme de coadjuvante é um jovem Harvey Dent, interpretado por Harry Lawtey, que quer pleitear a pena de morte para Fleck. Por sua vez, Fleck está em um estado letárgico e depressivo, apesar de demonstrar interesse em ser entrevistado, resquício de seu narcisismo. A advogada de Fleck, vivida por Catharine Keener, quer convencer o júri de que a personalidade do Coringa existe independentemente da de Fleck e que ele não tem controle sobre ela.


Eis que no Arkham aparece a interna Lee Quinzel, interpretada pela diva Lady Gaga, que é uma fã do Coringa, basicamente uma groupie de maluco, e começa a provocá-lo e a seduzi-lo, para que a personalidade do Coringa volte a aflorar. A descaracterização e a desconstrução do personagem já começam aí, pois é Lee quem manipula o Coringa e o controla, o transformando em um bobão, um completo pateta, mangina e gado. Ao contrário da animação e das HQs, em que o Coringa é quem manipula a doutora Harleen Quinzel, a fazendo enlouquecer e se transformar na Arlequina.

O filme na verdade é bem chato e enfadonho, com várias cenas de musical, em que Lady Gaga se destaca. Na realidade, não é um filme do Coringa, mas um filme da Lady Gaga. É também um filme de tribunal, várias das cenas se passam no tribunal, em que Fleck se transfigura no Coringa. Ao contrário do filme original, não há tantas cenas de violência, e a maioria das cenas violentas se passa na cabeça do Coringa, em seu delírio. Apenas mais no último ato é que há um pouco mais de violência, quando um grupo de “fãs” do Coringa explode o tribunal. E, também no último ato, quando Fleck é assassinado por um interno do Arkham. Ou seja, esclarece-se a dúvida: Fleck não é o Coringa arqui-inimigo do Batman, mas provavelmente este será o filho que ele teve com a Lee, depois de darem um bimbada rapidinha lá no Arkham. No entanto, tem muita coisa que não faz sentido, como o fato de Harvey Dent no filme ser adulto, e nas HQs ele ter mais ou menos a mesma idade do Bruce, que é mostrado como criança no primeiro filme. Está certo que se pode argumentar que o universo de Coringa é um elseworld, mas que não deixa de ser um elseworld ruim, e, vamos ser francos, a maioria das pessoas, que não são leitoras de HQs, não tem essa noção de elseworld. Quando se anuncia que é o filme do Coringa, elas vão achar que é o filme DO Coringa, e não DE UM Coringa.

Minha opinião sobre o filme: achei uma bosta. É um grande desrespeito ao Coringa. Sinceramente, não tem como alguém que é fã do Coringa (como eu) assistir a esse filme e gostar, pois ele reduz o personagem a uma versão patética, que é manipulada pelo pussy power da Arlequina. Se o Coringa no primeiro filme é red pill, nesse segundo ele é gado, betinha. No entanto, se a pessoa que assistir esse filme não gostar do Coringa, pode até apreciar. Na verdade, esse longa parece que não foi feito só para quem não gosta do Coringa, mas também para quem não gosta de homens. Público-alvo desse filme é a galerinha woke e feminista, que gosta de esculachar os homens.

Vamos ser honestos: o Coringa é muito maior que a Arlequina. O Coringa foi criado em 1940; a Arlequina, em 1992. O Coringa viveu mais de cinquenta anos sem a Arlequina e viveu muito bem. Ela é que é uma personagem sidekick, assessória, com bem menos importância. No entanto, parece que ela tem certa ressonância entre o público “feministeen”, que a acha empoderada.

O filme tem qualidades técnicas? Sim, tem. Direção, fotografia, cenografia, figurino etc. são de qualidade técnica inegável. Porém, o roteiro é um lixo, e as atuações estão ok. O próprio Joaquim Phoenix está atuando bem como o Coringa, mas não chega perto da atuação do primeiro longa, que é magistral. Outro ponto negativo do filme é sua duração. Quase 2h30 que fazem o filme ainda mais arrastado e enfadonho.

Enfim, Coringa: Delírio a Dois é um dos piores filmes do ano. Um grande desrespeito ao personagem. Quem é fã do Coringa que passe longe. No entanto, pode sim agradar a um determinado segmento, em detrimento da maioria. Um grande tiro no pé e uma piada sem graça. Nota 3 de 10.

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