Dinho disse : "Eu me considero de centro-esquerda, eu seria um social democrata, se eu fosse europeu".
O moderado, sem usar de nenhuma moderação, não se cansa de cansar os outros com a exaltação constante de sua virtude de moderado. Ao assim se autodenominar, quer se dar ares de sábio, de um sujeito centrado, o equilíbrio personificado, um monge zen budista a um triz de atingir o nirvana.
O moderado, não se deixem enganar, nada tem de sábio. Tem é de covarde. Aliás, covarde, não. Que a coragem ou a falta dela não nos são opcionais, são atributos inatos, cada qual nasce com brios e têmperas diferentes. Tem é de velhaco e de hipócrita, o moderado, que é comportamento e postura adotados com planejamento e por vontade própria, de caso pensado.
Ele usa o mote da moderação não como justificativa para suas indecisões, inseguranças e dilemas. Se assim fosse, menos mal seria. Que indecisões, inseguranças e dilemas todos temos e deles padecemos.
Mas não. O moderado é puro duplipensar. Veste-se com o velocino da moderação para escapar às responsabilidades e às críticas por uma decisão que tomou com toda a segurança, com toda convicção, quando essa decisão se revela, claramente, equivocada e danosa. Principalmente, quando tal decisão pode desfazer ou manchar a sua tão cultivada imagem.
Assim, desconfie, desconsidere, despreze, até, toda frase ou recomendação que contenha a palavra moderação. Desconfie, desconsidere, despreze, até, qualquer um que se diga um moderado, que inclua a moderação em seu curriculum vitae, que a escreva em letras douradas em seu cartão de visita.
Hoje em dia, a moderação é o ardil, a muleta suprema do bundão, do isentão. O esfarrapado álibi dos de saco rosa, dos que não tem a necessária hombridade de dizer : fi-lo porque qui-lo. E pronto. Fim de papo. E, claro, assumir a parte que lhe cabe na desgraça que sua decisão venha a ocasionar ou, no mínimo, contribuir para isso.
O moderado nunca optou pela situação X, a qual ele também não considera – nas palavras nada confiáveis dele – satisfatória. O moderado nunca optou pela opção X em si, o fez em detrimento da situação Y, que ele considera pior. E não adianta confrontá-lo com o pragmatismo da verdade de que, pouco importando suas desculpas e racionalizações, ele optou sim pela situação X e não contra a Y. Ele morrerá jurando de pés juntos que não optou pela situação X. Mas pôs a todos nela. Isentão, o FDP.
Pensam o quê, esses caras? Que é mesmo possível escrever certo por linhas tortas e corruptas?
Esta falsa moderação carrega em si já uma espécie de arrependimento prévio pelo pecado que sabem que estão a cometer e, portanto, é um tipo de mecanismo de autoabsolvição. A moderação é um aplicativo íntimo de padre confessor do bundão, do cuzão.
É o assento ejetável deles. Quando a coisa fica feia, eles apertam o botão, são ejetados para fora da situação que provocaram, abrem seus paraquedas e pousam incólumes longe do desastre que causaram.
Beba com moderação. Fume com moderação. Coma com moderação. Trepe com moderação.
E, agora, e desgraçadamente, vote com moderação.
O que teve de gente, feito Dinho Ouro Preto, alegando moderação para votar no extremíssima-esquerda Lula não está escrito em nenhum gibi. Meu saco já está na Lua de tanto ouvi-los; em Io, lua de Júpiter.