A SAGA DA ENCRUZILHADA – QUANDO O DOUTOR ESTRANHO BANIU O HULK

 


A SAGA DA ENCRUZILHADA –  QUANDO O DOUTOR ESTRANHO BANIU O HULK

Um dos meus super heróis favoritos é o Incrivel Hulk. Além do o drama psicológico entre o Banner e seu alter ego brutamontes, um aspecto que me faz curti o personagem é sua imprevisibilidade. Dependo da história, ele pode ser retratado como um dos maiores heróis da Marvel, auxiliando outros como os Vingadores, ou um anti herói, se tornando antagonista para os heróis enfrentarem. Isso dá aos escritores uma variedade de direções que podem levar o personagem.



Um desses roteiristas foi Bill Mantlo, que trabalhou na revista do Hulk desde de 1980 a 1985. Durante esse período, ele realizou uma grande mudança no status quo do Hulk, com Banner conseguindo obter controle de sua outra personalidade e se tornando um herói aos olhos do público. Depois de muito tempo sofrendo, o Hulk finalmente tinha conseguindo uma fase de paz e estabilidade em sua vida.



Mas nada dura para sempre em HQs e o Hulk começou aos poucos a demonstrar uma perda de controle, com a gota d’agua sendo no Incrivel Hulk vol 1 n° 298 e 299 quando o vilão Pesadelo tentou manipula-lo para matar o Doutor Estranho. Apesar do vilão ter falhado, Banner, não suportando mais voltar a viver com o Hulk e se reprimiu em sua própria mente. 



Sem a personalidade de Banner em sua mente, o Hulk virou uma fera descontrolada, resultando num ataque a  Nova York e um conflito com os heróis da Marvel (tudo isso no Incrivel Hulk vol 1 n° 300).


A batalha terminou com o Doutor Estranho executando um feitiço que baniu o gigante verde para outra dimensão, onde ele não poderia colocar em  as pessoas da Terra ou a si mesmo em perigo.


Esse cliffhanger foi o ponto de partida para “A saga da Encruzilhada”, um arco que durou desde o Incrivel Hulk vol 1 n° 301 a 313, sendo o encerramento a fase de Mantlo e seus 5 anos escrevendo a hq do Hulk. Mas será que essas histórias foram uma boa conclusão para a fase de Mantlo, ou foram apenas histórias esquecíveis?



Eu vou responder isso em partes...

TRAMA



Após seu conflito com os heróis da Marvel, Hulk é banido pelo Doutor Estranho a Encruzilhada, um nexus dimensional, onde ele consegue ter acesso a portais para outros mundos. Incapaz de voltar a Terra, o Hulk passa a viajar pelas dimensões, tentando encontrar um lugar onde ele possa finalmente ficar em paz.

Infelizmente, a busca do Hulk não sai como esperado, com todas suas viagens levando o protagonista diante aventuras em cenários bem bizarros e novos inimigos.



Estando sozinho e não tendo mais a inteligência de Banner, como que esse Hulk selvagem vai sobreviver a essa jornada?

SAINDO DA ZONA DE CONFORTO



Como dá pra notar pela trama, esse arco é um ponto de virada na fase do Mantlo. No lugar das viagens do Hulk pelo mundo e interagindo com os personagens da Marvel, dessa vez o Hulk está num habitat completamente novo. Cada história tem ele visitando uma dimensão diferente, cada uma com um cenário bem criativo, seja um mundo habitado por criaturas simbiotes, um com estética bem medieval (lembrando a era hiboriana de Conan) ou até mesmo um mundo de gigantes.



Como esse arco sse trata de uma “história de viagem” o destaque não é bem o Hulk voltando pra Terra, mas sim a jornada até esse ponto, os lugares que ele visita, assim como os personagens que ele conhece.

 

O QUE DEFINE UM MONSTRO?

A inspiração por trás das histórias do Hulk foram filmes de terror, como Frankenstein, O Médico e o Monstro e Lobisomen. Em todos os exemplos, os monstros eram retratados como criaturas incompreendidas, sendo mais vítimas das circunstâncias e ações externas do que indivíduos completamente malignos, uma caraterização também apresentada pelo Hulk.





A saga da Encruzilhada aborda essa temática através dos personagens que o Hulk vai se encontrando em suas viagens.

Alguns deles possuem aparências monstruosas e cometem atos questionáveis, porém, tal como Hulk acabam se revelando como criaturas que são vítimas das ações de monstros piores. Um desses exemplos é Klaatu, o comedor de energia das estrelas, que já tinha aparecido nas hqs do Hulk antes desse arco. No entanto, essa história desconstrói sua imagem, revelando que o gigante na realidade é apenas uma criatura tentando fugir de seus perseguidores.




Em contrapartida, o arco também apresentar personagens que se deixam serem corrompidos por suas tragédias e seguem por um caminho sombrio, como a princesa verde, que, após ser salva pelo Hulk, abandona sua inocência e cede ao desejo de vingança contra os opressores de seu povo.



Outro exemplo disso é Capitão Cybor, que após ter seu corpo destruído por Klaatu e sido reconstruído como um robô, se torna obcecado em matar comedor de energia das estrelas, mesmo que tenha que sacrificar sua própria tripulação (tendo clara inspiração no Capitão Ahab, da obra Moby Dick).



Pode-se dizer que esses personagens são reflexos do Hulk, com o ódio dele tendo levado a perda de sua humanidade enquanto o próprio Hulk ainda está recuperando a sua.

Falando nele...

A HUMANIDADE POR TRÁS DO MONSTRO



Normalmente o Hulk é retratado como um monstro incompreendido, que deseja apenas ser deixado em paz, mas acaba cometendo atos agressivos devido as ações de figuras externas como General Ross e seus soldados.

Claro que pode-se argumenta que esse lado simpático do Hulk é resultado da influência do Bruce Banner. Sem seu alter ego, o Hulk não teria nenhuma dessas características, sendo uma fera completamente incontrolável. Esse arco do Bill Mantlo coloca essa ideia a teste, mostrando como seria o Hulk, sem a influência de Banner.

De fato no início dessa saga, o Hulk é apenas uma criatura selvagem e guiada por instinto, não tem mais memorias ou traços do Banner em sua mente. 



Porém, mesmo com dificuldade de compreender o mundo ao seu redor, Hulk demonstra qualidades do personagem que conhecemos, incluindo senso para proteger oprimidos e compaixão por seus amigos.



O motivo desse comportamento é explicado bem na metade da saga, com a introdução da Tríade, um trio de personagens criados pela mente do Hulk, assumindo papel-chave em influenciar suas ações:

Brilho – Representa a razão

Guardiã – Representa o instinto de auto preservação

Goblin – Representa a fúria



A presença desses personagens foi um twist inesperado nessa saga de aventuras por dimensões, dando a essa história uma perspectiva psicológica em relação ao Hulk, conforme ele vai aos poucos recuperando sua humanidade.

Mas isso não é uma jornada fácil, com a Tríade tentando manter o Hulk vivo em suas jornadas, enquanto ele tem que relembrar do seu passado, incluindo lembranças que Banner ocultou de si mesmo.



ENCARANDO O PASSADO





Esse desenvolvimento do Hulk chega no seu ponto alto na edição 312, que se passa toda num flashback, contando a infância do Bruce, revelando que os abusos ele sofreu desde criança nas mãos do seu pai, Brian Banner, e como essas ações levaram o Bruce a reprimir toda sua raiva e frustação que levaria a personalidade do Hulk.



Essa revelação não só contribuiu para explica a origem da Tríade assim como o comportamento infantil do e seu ódio pelo Banner, mas também foi um ponto de redefinição do Hulk, com esse retcon complementando para o drama psicológico presente nas histórias do Hulk, tornando-o uma figura complexa e muito mais trágica.

Isso fica bem claro no final dessa história, com Banner finalmente retornando, mas agora estando ciente do seu passado, tendo que aceitar a dura realidade:  A vida sempre foi uma tragédia e o Hulk sempre foi parte dele, uma criação de seu pai, o verdadeiro monstro.


Também achei interessante como os flashbacks vão além da relação do Bruce com seu pai Brian, abordando também o primeiro encontro do Bruce com o General Ross e sua filha Betty, com a arte criando um paralelo entre os dois e os pais do Bruce, com a Betty assumindo o mesmo papel da mãe como a voz da razão para Bruce enquanto Ross, tal como pai do Bruce, é quem influencia sua raiva. 




Claro que existem histórias que abordaram esse lado psicológico do Hulk ou que redefinem o personagem, porém A Saga da Encruzilhada é um melhor quando se trata de criar um perfeito mix desse drama pessoal com elementos surreais das histórias em quadrinhos. Por isso que considero esse arco uma das melhores histórias do Hulk já feitas e uma grande recomendação para os leitores de HQs.

Então é isso! Concordam comigo? Discordam? Qual a opinião de vocês sobre A saga da Encruzilhada? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões nos comentários abaixo.





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