HELLRAISER: DO PIOR AO MELHOR

 


Não me considero um fã de terror, tirando alguns filmes. Mas um em especial sempre me chamou atenção quando criança na locadora, com um sujeito azul cheio de pregos na cabeça, eu com os meus idos 11, olhava para ele e sentia um profundo pavor, naquele olhar frio e inegociável, e só depois de adulto, lá pelos 20 e poucos anos que “tomei coragem” e resolvi buscar os filmes para ver, comprando DVDs piratas na feira e botando no meu até então funcional aparelho de DVD, em minha falecida TV de tubo de 29 polegadas. E ali no meu sofá pude ir juntando as peças desse quebra-cabeça e entender que tipo de recompensa todo tipo de gente, obscenamente insaciável, gananciosa e perversa conseguiu ao abrir a caixa. E cá estamos nós, onze fucking filmes depois... E devidamente colocados legendados naquela locadora de prateleira azul, para quem sabe, alguém também queira se aventurar...


 

Sendo assim: Descubra que não se deve abrir caixinhas sinistras que se acha na rua, aprenda que putaria sem limites não tem volta, veja que nem o Pinhead resiste a mandar o patrão se foder, se convença de que não vale a pena se casar com a linda Kirsty, por mais tentador que seja, aprenda que não se deve confiar em coroas que lhe pagam uma cerveja e lhe oferecem sexo fácil, e que se tem um monte de gente morrendo à toa por um sadismo ideológico, só pode ter a mão de um francês no meio.


 

Relaxem, sem spoilers, para não estragar para ninguém, vamos a lista!

11 - Hellraiser: Revelações (2011)


 

Dizem que não se pode julgar uma obra pela capa, mas olha essa capa, aposto que por essa capa você também já julgou, e se sentiu o fedor de merda, acertou em cheio. “Revelações” teve contra si já o hate de ser um remake – que de tão rejeitado, fingiram que não era – e ser o primeiro filme até então sem o Doug Bradley como Pinhead. A trama se passa quase toda em uma casa, o filme é arrastado, parecendo ter o dobro de sua projeção, e acredite, até hoje eu nem terminei ele, quitando enquanto ainda faltavam 30 minutos para acabar.

 

10 - Hellraiser III: Inferno na Terra (1992)


 

Primeiro vamos falar sobre o que há de positivo nesse filme, que é esse clipe:


 

Agora de negativo temos quase todo o restante do longa, embora há quem defenda que aqui as coisas ainda estavam boas, comparado com o que viria nos anos 2000. Conspira contra esse projeto a “decisão criativa” quanto aos principais cenobitas no filme anterior, bem como inserir uma nova protagonista, sem ligação direta com a até então querida do público, Kirsty. E a jornalista é uma protagonista ok, o que a atrapalha é o quanto o filme tenta emplacar ideias que na cabeça deles soaram iradas (talvez não na cabeça do pobre ator com uma TV na cabeça), e na prática soam ridículas, como alguns dos cenobitas ao final do filme, ou a “função” do Pinhead (ou a parte mal dele, já que a humana se foi, quem se importa?) que começa como um fliperama demoníaco que ao final se transmuta em algo como “mamãe, quero ser tão engraçado quanto o Freddy Krueger”.

 

09 - Hellraiser 8: O Mundo do Inferno (2005)

 


Quando não se sabe o que fazer com uma franquia e se está nos anos 90 (ou nos anos 2000, mas ainda na ressaca dos 90) você mira em duas direções: ou levar a história pro espaço sideral ou o virtual. Aqui temos o virtual (nem ouse abrir o sorriso, o sideral já vem logo abaixo) em uma trama que claramente é um slasher adolescente que like a “qualquer um dos filmes com jovens bonitinhos –feitos por pessoas de 30 anos- onde uma figura com algum gancho os persegue e no final te deu um plot twist”. Ainda consigo rever esse filme e me divertir com algumas partes, como uma emulação que ele faz de “De Olhos bem Fechados” (1999) e por ter alguns atores que se tornariam bem conhecidos, como nosso futuro Super-Homem, que na época era no máximo “o filho engomadinho do Conde de Monte Cristo”. A trama desse se passaria no “nosso mundo real” e Hellraiser é um jogo de PC como tantos outros que lotavam lan houses, mas que teria vitimado um jovem, e o pai deste, chama como quem não quer nada os amigos do filho para uma festa, como quem não quer nada...

08 - Hellraiser IV: Herança Maldita (1996)


 

E aqui estamos no espaço. E no presente. E na França pós-Revolução Francesa? Até hoje estou tão confuso quanto você lendo isso, não me pressione. O filme tropeça nas próprias pretensões em querer mostrar um fim para os cachorrões da caixa, bem como estabelecer um certo Lemarchand, que seria o projetista original dela. Mas, acho que já deu para perceber que tentar fazer três filmes em um, com um orçamento e projeção menores, não daria muito certo, não é? A obra virou um filme sem pai, e você sente que ela tinha potencial de ser muito mais, principalmente por ter uns designs bem interessantes e ter sido o último projeto com o Clive Barker envolvido. Há quem sonhe com uma versão do diretor até os dias de hoje, mas “parece” ser inviável. Leia mais AQUI.

07 - Hellraiser (2022)


 

Sim, a tão hypada (?) produção que prometeu ser um remake da franquia, sendo o seu 11º filme, e que já teve resenha AQUI. A César o que é de César: o roteiro aprofunda a caixa, literalmente dando mais camadas a ela, reformula alguns cenobitas (que em sua maioria mais lembram armas biológicas de Resident Evil – e sim, eu sei que Resident se inspirou em Hellraiser em alguns “modelos” -), Pinhead agora é uma “mulher” e até que tem alguma imponência, mas fica bem abaixo do original do filme dos anos 80. “Ainn, Ozy, mas é mais parecido com o livro”, beleza, parceiro, mas o próprio Clive aprimorou suas ideias, e a versão com o Doug Bradley foi que a marcou. É tipo o Máskara, qual que ficou no inconsciente coletivo? A de um quadrinho que cinco pessoas leram ou a do filme que virou série animada e game, e que só lembrava visualmente a original? Voltando... Talvez daqui a cinco ou mais dez filmes, se mantiverem esse ator, ele faça sua marca. O longa tem um ritmo arrastado, que mostra a que veio mesmo no terceiro ato. A protagonista da vez é apenas chata e genérica, e seus amigos, idem. Mais parecem uma versão econômica da turma do Scooby-Doo. Tivessem colocado o empresário do começo do filme como o protagonista, acho que a história teria sido melhor.

06 - Hellraiser 7: O Retorno dos Mortos (2005)


 

Mais um roteiro adaptado, mas até que acho legal em alguns pontos. A repórter Amy Amanda Klein é um tipo de Lois Lane do mundo real – nada de Super-Homem, e sim cigarros, wiskey, gatos que solteironas (e o Neil Gaiman) amam ter em casa e um chefe que não liga se você tomou três tiros no caminho pro trabalho, ele quer tudo na mesa dele na Segunda – resolve investigar uma seita que é muito da trevosa (ui), que não se contenta só em ficar pintando olho de preto e escutando música emo enquanto fuma maconha na praia, mas em reviver pessoas. Use sua criatividade para deduzir onde a caixa entra nessa. Te dou um minuto.

05 - Hellraiser II: Renascido das Trevas (1988)


 

Uma sequência feita um maldito ano depois, que como tal, soa mais como uma DLC do primeiro filme, sem arriscar tanto. Muita gente superestima essa fita, até mesmo a colocando como melhor ou segundo melhor da saga, mas confesso que ela me decepcionou bastante, por um motivo muito pessoal: odeio histórias que me fazem de imbecil anulando as consequências da obra anterior, porque ficou com peninha de ter matado os personagens (Alô, Hannibal season 3). Indo parar num hospício, Kirsty tem que lidar o médico da instituição, que de fato é bizarro pra cacete, não obstante sua querida madrasta e tio Frank voltam a dar as caras, bem como agora o chefe das criaturas, o “Leviatã”, que parece não estar nada contente com seus subordinados e pretende botar ordem na casa. O filme, no quesito maquiagem e efeitos práticos, talvez seja o mais apurado de todos, sou obrigado a pontuar isso.

04 - Hellraiser: Caçador do Inferno (2002)


 

Entendo quem na época se decepcionou com esse pelo bait de ter a volta da Kirsty, só que como coadjuvante, já que o enredo gira em torno do marido dela, que a perdeu em um acidente de carro e durante esse infortúnio perdeu boa parte de sua memória. Desde então o pobre diabo parece o Esteban, lá do Kubanacan nesse sentido, encontrando um monte de gente perversa e aleatória que tinha combinado altas paradas com ele, diálogos cabulosos... Depõe contra esse filme, ter tido um final muito semelhante a outro da saga, mas considero ele um filme competente, trás uma boa dose de tensão, e até nostalgia.

03 - Hellraiser: Julgamento (2018)


 

O tão “odiado” ou mesmo desconhecido filme... Eu mesmo só vim assistir há poucos dias, e talvez não tenha maturado ele o bastante na mente, e você possa contestar essa posição dele nos comentários. “Julgamento” é antes de tudo o que teve o (segundo?) menor orçamento de todos, um valor tão ridículo que parece até pegadinha de 1º de Abril dizer que alguém conseguiu realizar um longa americano e distribuir com isso, meros 350 mil dólares, e sendo lançado direto pro streaming (acho que antes que alguém mudasse de ideia e mandasse recolher). Apesar disso, o filme transita ainda por vários cenários, tem uma maquiagem muito bem-feita, e faz algo que há muito tempo era esperado: renovação e aprofundamento sobre a mitologia dos cenobitas. Somos apresentados a um novo cenobita (que se tornou um dos meus preferidos da franquia) datilógrafo, que registra com o próprio sangue do interrogado algumas das passagens mais sombrias da vida do mesmo, tudo isso com um invejável deleite. O filme tem uma crítica sutil sobre o mundo ter ficado tão degenerado, que eles e a caixa ficaram obsoletos, e precisam ir se reinventando para cumprir suas respectivas funções. O final é defensável até determinada parte... E a trama do assassino em série meramente protocolar. Ainda assim, quero pelo menos uma minissérie nos quadrinhos sobre esse datilógrafo para ontem. E o Pinhead daqui é muito bem interpretado, pena que não foi mantido.

02 - Hellraiser: Renascido do Inferno (1987)


 

Sim, o original e venerado, onde tudo começou. Curiosamente, alguém me corrija se eu estiver errado, “Hellraiser” seria o título do John Constantine nos quadrinhos, mas perdida a patente, teve que se contentar com Hellblazer, no ano seguinte, e é até perceptível uma influência de Jamie Delano no longa, principalmente em uma cena lá pelas 10 primeiras edições, onde John está no hospital todo enfaixado e recebe uma visita de Nergal... Voltando ao filme: Acompanhamos a história de Kirsty, uma menina aparentemente ingênua e normal indo passar o tempo com o pai e a madrasta, nem fazendo ideia dos literais esqueletos que estão no armário, como o seu “tio Frank”, um badboy que abriu a caixa, já tendo feito de tudo um pouco, esperando encontrar todo tipo de prazer... E encontrou, mas não para ele, mas sim com ele. Só que o desgraçado não morre, o que ele sobrou dele dilacerado “renasce do inferno”, e precisa ir consumindo sangue humano para ir se reconstruindo, no melhor molde de body horror que os filmes dos anos 80 tão bem faziam. Mesmo não tendo tantas cenas com os cenobitas, de longe as desse filme são as mais tensas, bem como o visual deles o mais marcante. Gordão tarado de óculos, você jamais será esquecido.

01 - Hellraiser V: Inferno (2000)


 

Como ousa não pôr o primeiro em primeiro lugar? Site lixo. Racionalmente, sei que em aspectos técnicos esse filme é inferior ao primeiro, embora tenha sido a estreia de ninguém menos que Scott Derrickson, quem? que um dia seria famoso dirigindo o primeiro filme do Doutor Estranho. Esse filme ele tem um significado mais forte para mim, considero o terror dele, não nas imagens explicitas, mas em tudo o que fica subentendido, o mais forte, totalmente avesso a finais felizes e onde toda a falha humana é punida com maior severidade. Acompanhamos uma semana na vida de um detetive fodão que tem quase tudo sobre controle na vida, que basicamente começa a película ganhando uma partida de xadrez onde ele claramente estava vários lances à frente, e da mesma forma ele toca  sua vida, sempre usando tudo e a todos, até que o caso de uma assassinato de uma garotinha começa a tirar todo o seu senso de lógica conforme ele vai investigando, com vários direções o levando a um tal “Engenheiro”... Outro personagem muito bom na franquia, que poderia ter sido melhor explorado.

 


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