Jair Bolsonaro e a Espiral do Silêncio

Imagine-se, seja no seu ambiente pessoal ou profissional, na seguinte saia justa, ou melhor, na seguinte cueca apertada, que quem usa saia ou é padre, ou é escocês, ou militante do PSOL : que o seu posicionamento sobre uma certa questão, digamos, às vistas dos tempos atuais, em quem votar para o mandatário supremo da nação na próxima eleição, destoe antagonicamente da opinião vigente do bando que o cerca.

Nesse caso, há três opções. 

1) Você faz um juramento de Galileu e diz que seu voto é o mesmo do rebanho; só que não;

2) Você expõe a sua real opinião, confronta o bando e corre o risco de ser alvo de recriminações por parte dele, de ser isolado por ele, cancelado, o que não seria de todo mal. Antes só. Mas o castigo não se limitaria apenas ao seu ostracismo, você também seria submetido a sessões de tortura e tentativas de lavagem cerebral, seria atacado com todo o tipo de catecismo ideológico e proselitismo canalha; tentariam lacrar para cima de você;

3) Você fica em silêncio, alheio ao assunto. Não diz nem que sim nem que não, faz cara de paisagem, finge demência e evita o embate inútil e sem fundamento. Toca a sua vida como faz o sábio carteiro tangamandapiano Jaiminho, e evita a fadiga.

A maioria das pessoas nessa situação opta pela terceira via (aqui, pelo menos, ela é possível), fica em silêncio. Não manifestam suas opiniões ou, no máximo, se coagidas a tal, dão a entender, tacitamente, que concordam com seu inquisidor.

Essa parcela silente da população compõe a chamada Espiral do Silêncio, termo cunhado pela cientista política alemã Elizabeth Noell-Neumann, cuja ideia central é que os indivíduos omitem suas opiniões quando elas são conflitantes com a opinião dominante, devido ao medo do isolamento, da crítica, ou da zombaria.

O pesquisador e cientista político brasileiro Antônio Lavareda acredita que há uma grande espiral do silêncio a envolver as declarações de intenção de voto em Bolsonaro nas atuais pesquisas eleitorais.

As pesquisas, apesar do blá-blá-blá de que seguem os mais gélidos e robóticos métodos científicos, são elaboradas e conduzidas por seres humanos e, portanto, nunca são totalmente imparciais. Até porque não são feitas de graça, são sempre sob encomenda de algum órgão ou grupo interessado. E quem é que não quer agradar ao cliente?

A depender de como é construída a pergunta, ela pode induzir - e induz - a essa ou à aquela resposta pré-determinada, pretendida pelo idealizador do escrutínio.

Para Antônio Lavareda, muitos eleitores de Bolsonaro se escondem nessa espiral do silêncio e que as atuais vantagens dadas ao ladrão Sapo Barbudo pelas recentes pesquisas venham de um subnotificação dos votos dessa espiral do silêncio a favor de Bolsonaro.

“Bolsonaro tem crescido regularmente nas últimas pesquisas, chamando atenção para a hipótese de subnotificação do voto em Bolsonaro em alguns segmentos, especialmente naqueles de menor renda e escolaridade. Esse fenômeno é conhecido como ‘espiral do silêncio."

A reforçar sua fala, Lavareda cita as pesquisas feitas por telefone, nas quais Bolsonaro atinge melhores resultados, pois os entrevistados se sentem mais à vontade, sem medo do "constrangimento público".

Acredita que, quando em grupo, essa espiral do silêncio fique um pouco mais ruidosa, como se vê nas ruas à cada aparição do Mito, com milhares de pessoas a acompanhá-lo, o que está a ser chamado de Datapovo. Também na audiência dos programas de TV e podcasts, todos mostrando ampla vantagem ao Cavalão. Ainda nas inúmeras enquetes realizadas nas redes, o Cavalão arrebenta com o Seboso de Caetés, mesmo quando realizadas por veículos tradicionais ou blogueiros esquerdopatas. 

A espiral do silêncio é a turma do come-quieto, são brasas dormidas, que só sairá de seu silêncio, que só levantará suas labaredas, no ambiente supostamente indevassável das urnas.

Que Antônio Lavareda esteja certo. Que a espiral do silêncio grite bem alto em outubro. Que berre em uníssono : Lula nunca mais. Lula, só na cadeia.



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