Sonic 2 e o retorno da Sonic Mania



Existem poucas franquias que não pertencem aos gigantes como Disney e Warner ou que possuem uma importância fundamental para a construção das narrativas como antigas lendas e folclore que se reinventaram tanto quanto Sonic the Hedgehog.

 

Sério, esse ouriço teve diversas mudanças de visual, mudança de gameplay, inúmeras adaptações para quadrinhos, animações, já foi um cavaleiro medieval, um lobisomem (na verdade, loboriço), já jogou nos jogos olímpicos com o próprio Mario entre outras coisas.

 


E bom, em diversas dessas tentativas houve sucesso, em algumas não, claro, mas os quadrinhos do Sonic publicados pela Archie Comics faziam um sucesso insano nos Estados Unidos, e havia uma fanbase voltada especificamente para esses quadrinhos, com cerca de 290 edições sem contar

spin-offs e especiais publicados de 1993 até 2017, sendo cancelado apenas por uma polêmica que merecia um post próprio de tão absurda ocorrer, mas isso não impediu do ouriço continuar a ser um sucesso nos quadrinhos, com agora a IDW o publicando até esse ano (2022).

 


Possuiu diversas séries animadas como a polêmica Adventures of Sonic The Hedgehog que o tornava em uma versão mais leve do Pica-Pau biruta, o louvado Sonic Sat am (Por passar no sábado de manhã, não pelo Alan Moore colocar alguma referência de ocultismo na obra), que trouxe o personagem para uma realidade mais sombria que estou convencido que influenciou os temas de jogos como Sonic Adventure 1 e 2, o Sonic Underground que trazia irmãos para o personagem e a presença de poderes da música que acredite ou não vem da criação do personagem, já que planejavam para ele ter uma banda própria, temos o Sonic X, um anime que eu amava quando era criança e que pegava aquele personagem que eu curtia tanto e o levava para uma nova potência e trazia um estilo descolado para ele, tivemos Sonic Boom adaptando o jogo homônimo e trazendo um humor metalinguistico com a própria comunidade da franquia e… o Knuckles feminista. E recentemente tivemos o teaser da nova série animada Sonic Prime, pela Netflix, e nossa, esse ano temos um novo jogo do ouriço (Apesar de que os trailers recentes fazem ele parecer uma tech demo da Unreal Engine 4), um filme e uma animação, o raio azul está correndo mais que nunca!

 


Mas pois bem, o filme. A última fronteira para o Sonic era ser levado ao cinema, o live-action,a franquia que sempre se reinventa estava dando seu próximo passo, o primeiro filme do Sonic foi algo à parte, tinha-se muita, mas MUITA desconfiança do resultado final, afinal filmes de jogos já possuem baixíssima confiança de terem qualidade, ainda mais com uma obra que gera tanta desconfiança quanto o Sonic, que nunca foi sinônimo de qualidade constante, e claro… fomos “presenteados” com um trailer, tocando Gangsta Paradise estrelado não pelo Sonic, mas como o lendário Velberan apelidou… A ratazana de chernobyl!!!


Esse foi um dos raros momentos que as grandes empresas ouviram as reclamações dos fãs (e tipo, muitas, MUITAS reclamações, porque aquilo estava realmente complicado) e trouxeram uma mudança real, eles mudaram o visual do personagem de fato! Para algo igualmente cabível em um live-action e fiel ao visual moderno! E o mais legal foi que foi um desenhista dos quadrinhos do personagem e animador do jogo Sonic Mania que fizeram o redesign, Tyson Hesse! Assim,não descartaram totalmente a ratazana, né? Afinal… recentemente o agora conhecido “Sonic feio” fez seu retorno, porque absolutamente nada, nada, dessa franquia é descartado, e isso também é outra coisa que daria um post próprio.

 


O primeiro filme… não é um desastre! É um filme nota 6, o que é bem melhor do que já se esperava, o Sonic é divertido, a animação do personagem funciona, Jim Carrey pode não ser o Doutor Eggman que estamos habituados dos jogos, mas ele reinventa o personagem para o fazer funcionar e acaba sendo a melhor coisa do filme, de alguma maneira fizeram um filme road trip do Sonic que funciona, diverte, e mesmo com muuuuitas licenças poéticas para o filme e personagens humanos inconvenitentes quando você só quer ver um ouriço azul de cgi e tênis vermelho correndo à Mach-5 contra o Ace Ventura, ele ainda estabelece bem o seu universo, e sinceramente aqueles que já tinham um certo apego com a franquia conseguiriam o curtir facilmente, digo, eu sei que esse filme tem muitos problemas, mas eu o vi no cinema com meus amigos, e todos nós crescemos com esse personagem, em jogos e desenhos, então não tinha como aquilo não possuir mais apelo para nós e a gente se pegar extremamente animado durante o filme e imaginando o futuro após o pós-créditos, foi uma experiência muito boa, mas ainda acredito que veridicamente é um filme que mesmo quem não curte a franquia consegue ver num domingo de tarde tranquilo, mas com consciência que é uma nota 6 pura… e aqui chegamos!!!

 

Sonic: O filme 2 (Sonic 2) foi lançado em 07 de Abril de 2022, dirigido por Jeff Flower e com roteiro por Josh Miller, John Whittington e Patrick Casey. O filme prometia adaptar muito mais os jogos, especialmente os segundos e terceiro jogos e a expansão do terceiro, trazendo Tails e Knuckles para o filme e os integrando ao seu elenco principal! Nisso posso dizer que o filme sucede muito bem, esse é um filme de videogame, e não um filme que por acaso tem um personagem de videogame alí, e isso tem vários motivos.

 

(Esse pôster foi épico)


Pois bem, no filme passado Sonic se encontra adotado por uma família humana, que obviamente luta por ter que lidar com a criança mais hiperativa de todos os tempos, Sonic começa o filme buscando sua identidade, ele está agindo como um vigilante e buscando um nome heroico e definitivamente assustando menos que o Batman, sendo menos eficiente que o Flash e ainda em formação para se tornar o personagem dos games, mas esse começo de filme é muito eficaz, ele traça bem o clima e a temática central do filme: Família. Tom, o personagem de James Marsden, retorna do filme anterior, mas enquanto naquele filme ele é colocado como protagonista junto ao ouriço, aqui ele possui uma figura de mentor, e de pai, o que pra mim é uma maneira melhor de colocar os personagens humanos, como suporte e não como protagonistas, ele coloca o personagem para refletir e é parte importantíssima para o arco do mesmo, Tom busca fazer Sonic perceber como ainda é uma criança, e como ele precisa assumir responsabilidades sobre quem é, mas também percebe que ele possui seus limites, e que além de um pai, Sonic precisa de um amigo.


E bom,aí que as coisas começam a melhorar! Jim Carrey retorna como Doutor Ivo “Eggman” Robotnik de novo, e dessa vez ainda mais confortável com o seu papel, me alegra muito que Jim tenha retornado para esse filme já que ele dificilmente faz sequências, e o seu peso aqui é muito maior quando esse é muito possivelmente o último papel da carreira do ator. Eggman se junta a Knuckles, o Equidna, personagem clássico e amado dos jogos e primeiro rival da franquia, e juntos, cada um buscando seu objetivo, se unem para ir atrás do Sonic, pois ele pode ser o único que pode os levar para a Esmeralda Mestra, um artefato ancião ligado ao passado dos personagens e com poder de tornar pensamentos em realidade, vendo isso de longe, a raposa Miles “Tails” Prower viaja para a terra para avisar Sonic quanto ao ocorrido, e então o filme se torna uma corrida de Sonic e Tails contra Eggman e Knuckles em busca da Esmeralda Mestre, e isso é absolutamente videogame, os conflitos do Equidna contra o Ouriço são levados como batalhas de chefe, ou para os mais saudosistas, uma referência à Sonic 3 & Knuckles, e assim temos uma sensação de jornada, que sim, poderia ser mais longa, mas que é definitivamente mais eficaz que o filme anterior.

 


O personagem de Jim é ao mesmo tempo mais fiel a sua contraparte dos jogos e ainda  mais Jim Carrey.

 

E tudo isso se deve à forma que os personagens foram adaptados, Sonic, Tails, Knuckles e Eggman são a força desse filme, e todos possuem arcos bem definidos de personagem, não, não é algo absurdo, ainda é um filme para crianças e muita coisa é caricata, mas temos Sonic energético, brincalhão, cada vez mais no caminho de assumir a personalidade descolada que possui nos jogos, aprendendo o valor de uma amizade e da família, Tails, solitário e encontrando um verdadeiro amigo, que vê valor em sua pessoa e inclusive para aqueles que curtem a dublagem original, ele é dublado por Colleen O'Shaughness, a dubladora dos personagens dos últimos 10 anos, e por falar em dublagem…, Knuckles!!! Agora dublado por Idris Elba e extremamente ingênuo, estoico e decidido, enquanto Sonic é a velocidade ele é a força, um rival que eu consigo me imaginar criança pirando de ansiedade pelos conflitos desses dois que graças a Deus não foram poucos, trazendo um contraste ainda maior com o protagonista e tendo suas crenças quebradas durante o filme, tendo que se reformar ao final deste, e sim o Eggman de Jim Carrey não se desenvolve como personagem ou muda, mas ao menos para esse filme ele não precisa, ele precisa ser um bom vilão, ser divertido e criar situações para os outros personagens enfrentarem, e nisso há sucesso absoluto! Aqui temos um amálgama do Robotnik do filme anterior de Carrey e o próprio dos jogos, e isso cria uma versão muito divertida do personagem, que me faz querer mais dele, todavia, visivelmente se o personagem for utilizado desta forma novamente, como a principal ameaça e com tanta liberdade no roteiro, acabará sendo um demérito para o filme e o universo que está sendo construído, mas, se essa foi sua última participação, valeu a pena. Vale destacar que falo isso mediante as propostas desse filme, não o analisando como algo que busca ser muito profundo ou coisa assim, de forma que dentro do que este filme propõe, apenas o arco de Tails sinto que deveria ter um claro polimento, mas em geral está tudo muito bom. E sim, esses são os três personagens jogáveis dos jogos clássicos, os ver juntos em tela é constatar oficialmente que a corrida de Sonic no cinema provavelmente está apenas começando.

 


É através desses personagens que o filme ganha força, suas interações, suas diferenças e conflitos, claro, ainda temos personagens humanos que são inofensivos para o filme, como Maddie, a esposa de Tom, temos personagens humanos que até mesmo acrescentam ao filme como o próprio Tom e o Agente Rocha, fiel escudeiro e fanboy de Eggman, e no geral esse filme posiciona e justifica muito melhor os seus humanos comparado ao filme anterior… no geral.

 


Acho muito que um personagem como o Agente Rocha seria bem vindo nos jogos, para Eggman ter mais interações para demonstrar sua personalidade que não antagonizando Sonic e seus aliados.


Porque sim, os humanos em geral estão melhor posicionados, mas ainda temos momentos desnecessários com eles que visivelmente o estúdio colocou pressão para estarem lá, semelhante a necessidade de humanos em filmes de monstros, mas o mais gritante é a personagem Rachel, irmã de Maddie, que tem uma sequência inteira de filme voltado para a personagem dela! Eu sinto que essa atriz apenas aceitou voltar se tivesse certa importância nesse filme, porque minha nossa, 12 minutos de sequência ininterrupta a envolvendo, sendo que a parte mais fundamental para a trama e para o universo do filme já havia passado, tudo por um humor no mínimo… duvidoso. Na real tem isso de duvidoso não, era zuado pra caramba, e essa sequência poderia toda ser retirada do filme e isso o iria melhorar, isso diminuiu a qualidade do longa, achei engraçado porque umas crianças no cinema quebraram de rir com as cenas dela, mas eu sinto que definitivamente as cenas apresentadas não eram para crianças, ou ao menos não prioritariamente feitas para as crianças as entenderem, digo isso porque esse filme tem até que uma quantidade grandinha de piadas que você só pega se já tiver malícia, enfim, essa cena é prejudicial para a narrativa sem brincadeira, por sorte, após isso o filme engrena novamente e mais videogame ainda!

 

Rachel é a verdadeira vilã desse filme


Os últimos 35 minutos deste filme parecem uma cutscene estendida dos jogos do começo da era moderna do ouriço!!! Isso é algo que a gente tem que tirar o chapéu para a equipe do filme, eles conhecem a sua fanbase, no filme anterior já tivemos referência ao Sanic, o que mostra que eles estão sim atentos para a sua comunidade, tanto que me surpreendi por não ver um Ugandan Knuckles (ainda que sim, colocaram uma sutil referência ao meme lá) ou alguém confundindo o Tails por fêmea nesse filme, por serem memes universais da franquia, mas nisso de ouvir os fãs eles trouxeram então diversas sequências diretamente transcritas dos jogos, principalmente no terceiro ato, onde existem transcrições de fases e chefes dos jogos, referências ao gameplay em geral, combates que ocorrem em outras mídias que foram transcritos para a tela e uma coisa que se você jogou Sonic só estava esperando para acontecer, e se aquele for o futuro da franquia… Está relativamente promissor.

 

Inclusive o tema do Sonic toca nesse filme, o que me esperança de que finalmente usem temas dos jogos, digo, a trilha é boa, mas tirando a final e as que emulam os jogos, não marcantes, e se após esse filme o próximo não tocar Live and Learn, Open your Heart ou City Scape… desperdício brutal de oportunidade!!!


O filme também é muito bem humorado, e não, não são piadas que te fazem gargalhar até passar mal ou coisa assim, mas tirando as da Rachel, elas funcionam e dão um clima leve, existem algumas referências bem colocadas à cultura pop, e sinceramente, não acho que incomodam, Sonic lendo gibi do Flash no filme anterior era algo mais que bem vindo, então as feitas aqui também são.

 

Gosto como esse filme deixa MUITA coisa preparada para o futuro do personagem, especialmente por ele se aprofundar ainda mais principalmente nos Equidnas, a origem da Esmeralda Mestre, a origem do Sonic, a aparição de novos personagens e aquele

pós-créditos que minha nossa, mas no fim ele ainda funciona contido em si, como disse, o filme tem um tema muito conciso de família, o que facilmente reverbera comigo, me faz lembrar de jogar Sonic junto ao meu irmão mais velho no Master System 3 que era dele, e o tema de família, de conexões, não fica limitado aí, mas de alguma maneira todos os personagens estão envolvidos nessa temática, e isso para um filme descompromissado desse é muito eficaz, e muito bem vindo, e torna a presença dos humanos mais suportável, porque eles estão mais ligados a temática que o próprio Sonic está passando quando comparamos ao filme anterior.

 


O que me deixou muito feliz foi ver quantas crianças novas estão sendo atraídas por esse filme, como a fanbase está se renovando, e talvez vejam os jogos, os desenhos, e no futuro outra versão do personagem alcance outras pessoas, e essa franquia que se recusa a morrer continue por aí, já anunciaram uma série Spin-Off do Knuckles, e bom, o Knuckles é o personagem com mais Lore de todos alí, então creio que muita coisa boa pode vir daí!!!

Para a série do Knuckles aposto ou nos Chaotix ou na exploração de Angel Island e a tribo Equidna e sua relação com as Esmeraldas do Caos.

Sonic: O filme 2 não é um filme absurdo, não reinventa a roda ou dá o exemplo final de como jogos devem ser adaptados para as telas, possui um roteiro simples, porém bastante eficaz, direção ok, trilha sonora ok, uma sequência humorística em seu meio muito ruim, mas possui muito coração, personagens marcantes e bem definidos, sequências de ação e aventura empolgantes e que utilizam muito bem seus personagens, um tema muito bem definido e que conduz a todo o filme (inclusive muitas pessoas comparam esse filme a um filme da Marvel, mas ei, a mensagem de família desse filme do Sonic ficou muito mais forte que por exemplo o da série do Gavião Arqueiro kkkkkjjj) e um terceiro ato épico para o personagem! Além de conseguir de maneira consciente estabelecer ganchos para o futuro sem atrapalhar o que está sendo trabalhado nesse filme em si, referências muito boas para quem é fã dos jogos ou das mídias em geral do personagem, e conciso o bastante para agradar aqueles que conhecem tangencialmente o personagem.

 

Sonic errou muitas vezes em sua trajetória, essa não foi uma delas, e se o terceiro filme realmente adaptar o jogo que creio que vão, o cenário humano será mais um benefício que um demérito e teremos Sonic voltando cada vez mais para o estilo anime Shounen que o começo dos anos 2000 estabeleceu para o personagem. Podemos estar testemunhando o retorno da Sonicmania.



Nota… 7/10!!!

 

Agradeço ao Ozy pela oportunidade, fiquem bem, sintam-se livres para concordar ou discordar e comentar, fiquem com Deus, esperem pela segunda parte desse post onde falarei do impacto cultural e as partes incríveis e bizarras da franquia… e joguem Sonic Generations!!!

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