Roteiro & Arte: Alex Alice
Ano de publicação dos originais: Volume Um (2007), Volume Dois (2009) e Volume Três (2011)
Editora: Dargaud
Tradução & Créditos Dos Scans: Ndrangheta & Deck'Arte
Sinopse:
Diretamente da lenda do Anel de Nibelungo, Siegfried é um dos vértices da fantasia heróica, um fascinante história que revive os mitos fundadores das lendas mais bonitas. Siegfried, é fruto do amor interrompido de uma deusa e um humano. Criado por um espectro da floresta e lobos, ele quer descobrir quem são seus pais verdadeiros e viver entre os humanos. No entanto, Odin, pai dos deuses nórdicos, decide enviá-lo para lutar contra o Dragão Fafnir que guarda o Ouro do Reno. Uma obra adaptada da Mitologia Nórdica e do 1º Ato da Ópera de Wagner pelo roteirista e desenhista Alex Alice.
Créditos da Sinopse: Ndrangheta & Yugifan
Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores!
O poema épico Nibelungenlied (A Canção Dos Nibelungos) veio à luz entre as regiões da Germânia, que viriam a formar a Alemanha, perto do ano de 1203. De Autoria Desconhecida, nele reside uma esplendorosa força narrativa em descrições de armas e vestuários; exibições do amor cortês que fez parte da Cultura Medieval; violência exacerbada em alto nível; e atos de vingança fulminantes. O impacto estrondoso da Saga na época tornou-o popularíssimo entre o público leitor do Século XIII ao XVI, fazendo-lhe figurar historicamente como um dos primeiros exemplares de escrita da nascente Literatura Germânica. No Século XIX inspirou a Richard Wagner a composição de uma ópera, cujo Ciclo Completo foi apresentado em Bayreuth, na Suíça, durante quatro dias consecutivos de agosto do ano de 1876. No Século XX, Fritz Lang tomou a épica história como inspiração para filmar Die Nibelungen, mostrado ao mundo no ano de 1924. Oito séculos de existência e a fenomenal narrativa contando a Ascensão e a Queda de Siegfried, assim como a terrível vingança efetuada por Kriemhild contra aqueles que conspiraram em seu assassinato, inspirou os mais diversos artistas, as mais heterogêneas obras e as mais variadas interpretações. Todas mantiveram-se fiéis ao material original, com alguns óbvios acréscimos para atender às perspectivas de criação de seus respectivos realizadores. Alex Alice recomeçou do zero e apresenta na obra que é o objeto da presente Resenha uma essencial releitura. Sem destruir a natureza épica do que secularmente era conhecido ou empurrando uma atualização forçada e tosca, ele estabeleceu um olhar ainda mais mítico do Herói em questão aqui.
Kriemhild, Brunhild, Gunther, Hagen e Etzel não estão presentes em nenhum dos três Volumes. O Dragão Fafnir, que não poderia ficar de fora do enredo, é apresentado de uma forma muito diferente mais perigosa do que no original. Aos leitores e leitoras que conhecem a Canção, digo que o estranhamento que vocês estão tendo com as informações acima é o mesmo que tive durante a leitura. Como que uma obra clássica tenha sido inspiração para uma versão sem seus personagens fundamentais? J. R. R. Tolkien, na altura da fama, deu a entender certa vez em uma declaração que uma adaptação de sua obra deveria conter elementos novos inseridos pelo adaptador e que simplesmente transpor linha por linha de seus livros não valeria a pena. Não que eu queira aqui comparar Alice com Tolkien, mas o primeiro reinterpretou a Saga da Canção inteira preenchendo múltiplos pontos em branco da trajetória de Siegfried e introduz uma novíssima visão. Usando agora de minhas concepções e convicções pessoais como Autor, concordo com o que foi realizado nesta obra em seu todo. Com certeza, o Autor Desconhecido da Canção concordaria efusivamente porque o texto de Alice rejuvenesceu amplamente algo que poucos conhecem ou lêem na contemporaneidade. Não sei se a intenção do Autor foi adequar ao público mais jovem o poema em forma de História em Quadrinhos, mas qualquer intenção que ele tenha tido resultou em algo de profundidade que resgatou muito da Mitologia Nórdica em seus Simbolismos Esotéricos.
90% dos Volumes é narrado conforme o observador ponto de vista de duas personagens: A Valquíria, que tem um papel fundamental no destino de Siegfried (ela não tem um nome próprio e é chamada apenas como A Valquíria mesmo), a filha predileta de Odin; e Völva, uma Deusa da Natureza com Poderes vastíssimos que percorre o Passado, o Presente e o Futuro. A pedido da Valquíria, Völva mostra a trajetória de Siegfried desde antes do nascimento dele, com ele sendo fruto do relacionamento proibido entre a primeira dos filhos de Odin e um mortal. Odin submetia tudo no Universo à sua vontade, menos O Ouro, contido na forma de uma Pepita em toda sua Suprema Essencialidade. Poder Primordial Da Criação, O Ouro atraia a todos os Seres, mas sua Natureza assim determinava a quem desejasse possui-lo: Quem Busca O Poder Do Ouro Deve Renunciar Ao Amor. Não renunciando a Este, Odin o isolou no fundo do mais profundo dos rios e posicionou aquela primeira dos filhos dele como Guardiã. Contra esta, com interesse amoroso e de olho no Ouro, passou a investir Fafnir, apresentado por Alice como um Nibelungo, só que sendo o mais indigno e repulsivo destes. Repelido pela Guardiã, ele a vê com o amante e é sugerido que a mesma abandona a Guarda do Ouro, do qual o Nibelungo se apodera. O Deus Dos Deuses persegue os amantes e os pune com a morte na ponta de Gugnir (ou Gungnir), a Lança Divina que ele Porta. Ele mantém o fruto do amor entre a Deusa e o mortal vivo, porém; e, moribunda, aquela entrega a criança a Mime, um Nibelungo Ferreiro que passava pelo local onde Odin a punira e ao amante.
Odin aqui é participativo demais, fazendo-se Onipresente mesmo quando não aparece. Contudo, mesmo sendo Onipresente, ele não pode transgredir a própria Lei referente à Posse do Ouro, que nas mãos de Fafnir a este concede um incalculável desvio existencial. Propiciando um aumento significado na baixeza do Nibelungo, O Ouro torna-o Rei da Raça dele, a qual ele passa tiranicamente a tratar. Para conter objetivamente toda a Energia Incomensurável do Objeto Primordial, Fafnir incumbe Mime de forjar anéis em forma de dois braceletes; mesmo assim, entregando-se a excessos e atrocidades, o Rei Dos Nibelungos corrompe a própria sociedade que governava e promove um êxodo da mesma para fora dos espaços subterrâneos que ela habitava. E o Tirano passou por uma Metamorfose Física gradual conforme se entregava e integrava ao Ouro, transformando-se em um temível e poderoso Dragão que passou a ameaçar a existência da própria Terra, personificada como Frigga na Mitologia Nórdica, Esposa de Odin e Mãe Dos Aesires, a Raça Divina residente em Asgard. Obediente à própria Lei, que permitia a Posse do Ouro a quem pudesse tomá-lo, Odin precisava de alguém que não conhecesse Aquela para matar o Dragão e salvar sua amada Esposa. Siegfried foi O Escolhido pelo Deus para efetuar dita dificílima missão. No entanto, convencê-lo, da sua parte de Mime, interessado no Ouro e nada confiável, a aceitar o próprio destino foi uma verdadeira guerra.
Siegfried foi criado livre e selvagem, na companhia de lobos e demais animais da floresta interminável, para ele, da qual desejava sair. Mime não demonstrava externamente qualquer tipo de carinho ou amor pelo filho adotivo, vendo-o apenas como um estorvo aceitável para suas pretensões em relação ao Ouro. Preferindo a companhia dos lobos à dele, que fisicamente nada tinha a ver com ele, o Herói cresceu alimentando o desejo distante de conhecer uma terra onde encontraria outros da mesma Espécie. Nibelungo e Humano tiveram estranha relação, que com o avançar da história é mostrada com alguns momentos de humor e recortes dramáticos. Aceitar ser um Herói sem saber exatamente o motivo o fez duvidar, temer e até pensar em renunciar ao caminho que lhe era aberto durante a caminhada com Mime em direção ao subterrâneo da Morada Dos Nibelungos, onde se encontrava Fafnir. A construção equilibrada da personalidade heróica dele foi tratada com sensibilidade e naturalíssima beleza por Alice. Sem nada forçar, vemos a cada página a delineação de alguém que verdadeiramente será capaz de matar um Dragão. Este, como no poema original, é realmente morto; porém, a maneira como o feito foi realizado não será aqui descrita.
O papel protuberante e providencial da Valquíria também não será delineado nestas linhas, assim como as demais ocorrências capitais do Roteiro. Somente afirmo que, ao fim do terceiro Volume, somente um Poder se tornou maior do que tudo o mais que foi sendo anunciado e sugerido com o decorrer da narrativa: O Amor. Amor Puro. Amor Viável. Amor Crescente. Amor Pulsante. Amor Movente De Cada Astro E Estrela Da Criação, parafraseando Dante Alighieri. Amor Que Nem Mesmo Os Deuses Podem A Si Mesmos Negar, eu o digo agora. Amor: Expressão Viva Do Movimento Das Mortes E Dos Renascimentos. Amor: Sentimento Sublime Quando Extremamente Evolutivo E Realizador. Amor: Eterníssimo Fogo Maior Pertencente A Todas As Histórias. Épicos sobrevivem e são escritos ainda hoje baseados no Amor. O Nibelungenlied, tirando toda luta e toda vingança, tem em seu centro narrativo O Amor. Nada de criminoso foi feito nesta recriação do poema nas mãos de um excelentíssimo Autor, que agiu na execução desta obra-prima guiado pelo Amor.
A Arte atenta-se a fazer apaixonar-se pela história. Este Siegfried é um daqueles Quadrinhos lidos em Scans que pretendo um dia fisicamente ter em minha coleção. Como uma Dança Das Runas, cada ambiente, personagem e cena estabelecem uma Linguagem Mística que me deixou em Transe durante a leitura. Se você, leitora e leitor, busca Verdadeiramente Sentir o Ser de uma história, Siegfried é a obra mais do que perfeita para você. Mannaz, Gebo, Ansuz, Othila, Uruz, Perth, Nauthiz, Inguz, Eihwaz, Algiz, Fehu, Wunjo, Jera, Kano, Teiwaz, Berkana, Ehwaz, Laguz, Hagalaz, Raido, Thurisaz, Dagaz, Isa, Sowelu e Wyrd, As Vinte E Cinco Runas, Dançam nas entrelinhas dos Volumes... Alex Alice demonstrou conhecê-las bem porque o Sentido Esotérico de cada uma delas enriquece perfeitamente O Texto, A Arte e A Alma da obra que lhe é filha. Quantos exemplares da Nona Arte que vocês leram ultimamente lhes fizeram sentir a Presença de uma genuína Alma?
Lembram dos personagens do poema original citados no segundo parágrafo? Se Alex Alice produzir uma continuação de Siegfried uma deles será complicado de ser introduzida. Quem conhece a Saga, sabe de quem estou falando; e se eu falar um pouco mais, posso acabar entregando um tremendo Spoiler do final. Leiam o original, outras versões e tudo que até recentemente já foi produzido em torno da Canção Dos Nibelungos, recomendo aos que desta nada sabem quando for possível. E se transportem para esta interpretação original de Alex Alice, matando os Dragões da preguiça e da resistência em relação aos Quadrinhos Europeus.
Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores!
BIBLIOGRAFIA
O Livro Da Sorte. Editora Nova Cultural Ltda, São Paulo, 1985.
Os Grandes Mistérios Do Passado. Reader's Digest Brasil Ltda, Rio de Janeiro, 1996.
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