Alita: Anjo de Combate segue sendo a melhor adaptação de um mangá/anime por Hollywood



Alita: Anjo de Combate, lançado nos cinemas em 2019, apesar de todos os defeitos, provavelmente é a melhor adaptação de um mangá/anime para um live action de Hollywood. É óbvio que James Cameron é o cara mesmo, apesar de ter minhas ressalvas ao último Terminator, produzido por ele, e Robert Rodriguez já deu mostra de como pode ser um diretor versátil, desde Um Drinque no Inferno, passando por Sin City etc. O resultado final ficou muito parecido com o material-fonte, o mangá escrito e ilustrado por Yikito Kishiro. Claro que cortaram e resumiram muita coisa do mangá, mas, até por falta de outras boas adaptações de mangá/animes, essa realmente consegue ser mais competente e se superar.


O ponto fraco do filme realmente é o roteiro; creio que ele poderia ser mais lapidado. Há uns dramalhões da Alita, interpreta em CGI por Rosa Salazar, com o namoradinho dela que chegam a ficar melosos demais, mas isso também ocorre no mangá. No longa, entretanto, é exacerbado. Apesar de o roteiro de Alita ter problemas, são os mesmos que a gente vê nesses filmes da Marvel que o povo paga pau. A despeito de tudo, o roteiro de Alita consegue ser melhor que os roteiros de muitos filmes de super-herói. E, nesses blockbusters, a coisa menos consistente que a gente pode esperar são os roteiros. No entanto, se a história é fraca, o filme compensa nas cenas de ação e nos efeitos visuais, que estão impressionantes.



A captura de movimento para fazer a Alita é nível a do Cesar dessa nova franquia de O Planeta dos Macacos. Salazar, apesar de ser novata, consegue expressar bem o carisma e a inocência da personagem. E as cenas de ação têm aquela violência extrema que é característica dos mangás, com Alita destroçando seus oponentes sem dó, graças à sua técnica de combate, a devastadora Panzer Kunst.





A cidade-lixão de Alita lembrou-me esteticamente bastante algumas favelas do Brasil. Deve ter sido de propósito; é a contribuição da cultura brasileira em Hollywood. Há bons nomes no elenco. Christoph Waltz como o "pai" da Alita, Dyson Ido, está ok, mas só na medida. Jennifer Connelly é sempre Jennifer Connelly: lindíssima. O oscarizável Mahershala Ali interpreta o vilão Vector, também na medida. E, nos últimos minutos do filme, Edward Norton faz uma ponta como o maníaco Doutor Nova, que certamente seria o vilão em uma sequência do filme.

Por que Alita: Anjo de combate não foi tão bem-sucedido e não ganhou sequência? Bom, o filme arrecadou mundialmente mais de US$ 400 milhões, o que não é muito em comparação a um blockbuster de um filme da Marvel, mas, levando-se em conta que é um filme de um nicho de mangá/anime, foi muito bem. Para se ter uma ideia, o filme de Ghost in the Shell, com Scarlett Johansson, faturou apenas US$ 169 milhões.

Porém, para seu azar, Alita pegou uma conjuntura complicada, pois foi produzido pela Fox em seus últimos estertores, antes de ser adquirida pela Disney. Isso basicamente matou a possibilidade de haver uma sequência para o filme, pois ele é bem “fora da casinha” para os padrões da Disney. Está certo que os estúdios da Fox ainda continuam produzindo seus filmes, agora sob o guarda-chuva da Disney, mas há uma certa birra do Mickey com Alita.

Boa parte dessa birra deve-se à comparação que foi feita na época entre Alita e Capitã Marvel, que também teve seu filme no mesmo ano. Houve a defesa dos fãs de Alita que ela era, sim, uma protagonista feminina forte, mas que demonstrava emoções e, apesar de ciborgue, era mais humana que a Capitã Marvel de Brie Larson, que não era carismática, não expressava emoções e era uma “Mary Sue”. E, vamos combinar, é isso aí mesmo. Por sua vez, os “fãs” (bem entres aspas) da Capitã Marvel fizeram uma campanha virtual contra Alita; entretanto, não sei dizer até que ponto essa campanha foi efetiva. A bem da verdade, essa rivalidade nunca fez muito sentido, pois são filmes bem diferentes com públicos-alvo distintos. A única coisa em comum entre eles é o fato de terem protagonistas femininas.

O último ponto a ser destacado para o “fracasso” de Alita seria o próprio preconceito da audiência norte-americana (e, por tabela, da brasileira) com filmes baseados em mangás e animes. Há uma grande diferença cultural entre o Japão e o Ocidente, e ainda existe uma dificuldade em fazer com que personagens nipônicos sejam bem aceitos. Basta ver o caso recente de Cowboy Bebop, mas aí também temos de responsabilizar a Netflix por suas mancadas.

No entanto, considero Alita a melhor adaptação realizada por Hollywood de um mangá/anime, e talvez até mesmo a melhor adaptação ocidental, apesar de que há também Crying Freeman de Christopher Gans empate. Mas esse é um filme de produção bem mais modesta e também não é produção de um estúdio de Hollywood. Se não me engano, é canadense.

Apenas lamento que Alita não tenha vingado, pois a história do mangá é muito boa e poderia talvez ter rendido uma boa trilogia. E, com exceção de Matrix, isso comprova que filmes com temática cyberpunk também não vingam. Quem sabe um filme do Homem-Aranha 2099 talvez seja bem-sucedido, mas isso se daria mais por conta da marca do Aranha que da temática cyberpunk.

Nesta época saturada de Marvel vs DC, é bom ver uns filmes diferentes de vez em quando, infelizmente a possibilidade de uma sequência de Alita se torna cada vez mais remota. Apesar de que, sim, acredito que um dia os otakus ainda irão rir por último.

 



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