Cavaleiro da Lua - Impressões do episódio-piloto


Como estou de férias e mais tranquilo de tempo, resolvi assisti ao episódio-piloto do Cavaleiro da Lua no meio da tarde, coisa rara de eu fazer no dia a dia. Obviamente, estava bem curioso (e com medo) do que Kevin Feige faria com o personagem, um dos meus preferidos da Marvel. Se me dissessem alguns anos atrás que uma série com o “Batman branco da Marvel” seria produzida, eu duvidaria, mas a verdade é que o Marvel Studios queimou ficha com seus medalhões e agora sobrou só os personagens de segundo e terceiro escalão, com exceção, claro, de Quarteto Fantástico e X-Men, que estão de volta à Marvel/Disney. Na verdade, temos de reconhecer que, exceto Homem-Aranha, X-Men e Hulk, para a common people, os “civis”, como também se diz, os demais personagens da Marvel eram tudo de segundo escalão ou desconhecidos mesmo, e isso até há relativamente pouco tempo, pouco mais de dez anos atrás.

Dessa forma, se até os heróis mais importantes da Marvel, a exemplo de Capitão América e Homem de Ferro, eram considerados de segundo escalão pelo povo, de modo geral, imagine então os personagens B raízes da Marvel, como o Cavaleiro da Lua. Falando assim, fica parecendo que até sou hater do personagem, mas essa é que é a realidade. O Cavaleiro da Lua é um personagem criado por Doug Moench para figurar na revista do Lobisomem da Marvel, a Werewolf by Night no 32 e, com o tempo, conseguiu ser título solo, escrito por Moench e desenhado pelo célebre Bill Sienkiewicz, na época em que imitava o traço de Neal Adams. E não é exagero chamar o Cavaleiro da Lua de “Batman branco da Marvel”, porque ele realmente era isso mesmo. Basta fazer a correlação: a identidade de Cavaleiro da Lua equivalia à de Batman; a do milionário Steven Grant, à de Bruce Wayne; a do taxista Jake Lockey, à de “Fósforos” Malone, disfarce do Batman no submundo. O Francês, ajudante do Cavaleiro da Lua, seria correspondente a Alfred. A nave do Cavaleiro da Lua equivaleria ao Batmóvel, e assim por diante. Com o tempo, houve um esforço para dissociar o Cavaleiro da Lua do Batman, e suas histórias tornaram-se mais experimentais, escritas por Brian Michael Bendis, Warren Ellis, Jeff Lemire e outros escritores que ainda tinham prestígio na hoje decadente indústria dos quadrinhos, que só serve como fazenda de propriedade intelectual para personagens serem adaptados para filmes e séries hoje em dia. Na verdade, a indústria de HQs serve para outra coisa também, mas prefiro não abordar neste texto, especificamente.

Um aspecto que eu apreciava no Cavaleiro da Lua mais raiz, quando era o “Batman branco da Marvel”, era o componente mais urbano de suas histórias e o fato de que Khonshu, o deus egípcio que supostamente agraciou com a “sorte” o mercenário Marc Spector, a verdadeira identidade do Cavaleiro da Lua, poderia na realidade ser apenas uma invenção da cabeça de Marc, o qual seria um homem com sérios problemas psicológicos e com dissociação de identidade; ou seja, um maluco. O Cavaleiro da Lua vivia em um universo um tanto à parte na Nova York da Marvel, interagindo relativamente pouco com os outros heróis da editora e tendo até uma galeria de vilões própria, que incluiria tipos como Bushman, Espectro Negro, Morpheus (nada a ver com o de Neil Gaiman ou o de Matrix) e outros. Posteriormente, as histórias do personagem perderam essa pegada mais urbana e se tornaram mais místicas, e foi revelado que Khonshu realmente existia e não era apenas coisa da cabeça de Marc.

Mas e a série? É boa? Bom, como assisti a apenas o episódio-piloto, chamado O Problema do Peixe Dourado, só poderei ter uma opinião definitiva quando a série enfim ser concluída, mas devo dizer que, sim, gostei do episódio, mas com algumas ressalvas. O episódio inicia-se com Steven Grant, interpretado por Oscar Isaac, vivendo como um empregado de um museu de história natural de Londres; essa versão de Steven não tem nada a ver com o dos quadrinhos, que era um espelho de Bruce Wayne, um bilionário playboy. A versão da série é de um bobão atrapalhado, que não entende porque tem sonhos em que se encontra em diferentes lugares do mundo, mas não se lembra de nada e até se acorrenta na cama. Steven está perto de ter um colapso e até evita dormir, ao mesmo tempo que vive uma vida medíocre e é humilhado pela chefe no trabalho.

Entretanto, Steven começa a despertar em situações estranhas, aparentemente em missões em que Marc Spector está atuando, e ele não faz nenhuma ideia do que está acontecendo. E ainda descobre que está em posse de um escaravelho dourado que está em posse de Arthur Harrow, outro vilão da galeria do Cavaleiro da Lua, cujo papel éfeito por Ethan Hawke. Harrow é o líder de uma seita de fanáticos que servem a uma deusa egípcia maligna. Para sobreviver, Steven Grant deve permitir que Marc Spector assuma o controle e também se transforme no brutal Cavaleiro da Lua.

Achei esse episódio-piloto com alguns problemas; o mais evidente dele é a classificação indicativa. Vamos ser franco, o Cavaleiro da Lua deveria ser trabalhado como um personagem mais sério e sombrio, pois a pegada de suas histórias é mais pesada. Porém, como é uma série da Marvel/Disney, parece não se decidir para que direção vai. Em alguns momentos, há uma ambientação de suspense psicológico e até mesmo terror, como na cena em que Khonshu aparece no elevador. No entanto, essa mesma cena tem uma quebra cômica, com Steven tendo um momento embaraçoso com uma velhinha. Para uma série da Marvel, até que há um pouco de violência, mas é uma violência editada: Steven apaga e quando acorda vê os corpos dos capangas de Harrow mortos, mas não presenciamos ele realmente matando os caras. A classificação indicativa máxima do Disney Plus é de 14 anos, e você não verá nenhuma cena que transgrida essa classificação. Não vai ver nada com relação a mortes e violência e muito menos a sexo. Nas histórias antigas do Cavaleiro da Lua, Marlene, a namorada do herói, figurava várias vezes nua ou seminua, em cenas calientes. Porém, como hoje qualquer coisa relativa à sensualidade virou sexualização na Marvel e DC, você nunca mais verá esse tipo de cena nem nas HQs.

O episódio também contém muito do humor característico da Marvel nos filmes e séries; Steven Grant é praticamente um personagem galhofa e atrapalhado saído de uma comédia de Adam Sandler. Nada contra Oscar Isaac, que está fazendo apenas sua função de ator; ao meu ver, sua atuação é sim competente. Não é o tipo de característica que gostaríamos de ver em Steven Grant, mas para diferenciar as personas de Grant e Marc Spector, a opção foi a de fazer com que Steven fosse um bobão. O espectador presencia as cenas pelos olhos de Steven, quando ele apaga e Marc assume, não ficamos sabendo direito o que aconteceu. Isso quer dizer que a Marvel acha os espectadores de Cavaleiro da Lua uns bobões? Bom, tirem suas próprias conclusões.

Enfim, no geral, esse episódio-piloto foi ok, serviu para ambientar o espectador e gerar curiosidade. Ainda não dá para dizer que é a melhor série da Marvel porque esse episódio foi apenas uma amostra; pode ser que a série melhore ou piore significativamente daqui para a frente. Se piorar, realmente será uma pena, pois o Cavaleiro da Lua é um personagem bem interessante, mas há de se levar em conta as limitações de classificação indicativa e as necessidades de adaptação. Claro que você verá um monte de reviews dizendo que foi um episódio de explodir cabeças, com Steve/Marc transformando-se em Cavaleiro da Lua e arrebentando um monstrão na porrada, dizendo que é a melhor série da Marvel etc., mas ainda não chegou a isso. Na verdade, Cavaleiro da Lua está sendo a série da Marvel que teve o episódio-piloto pior avaliado no Rotten Tomatoes, com 79%. No entanto, o IMDb deu uma nota muito boa, 9 de 10. Bom, pessoalmente, considero o episódio-piloto de Cavaleiro da Lua melhor que o de WandaVision e de Gavião Arqueiro, que achei bem fracos. Em suma, começou ok, mas espero que progrida. 

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