Batman: O Impostor - Review

 


Batman: O Impostor trata-se de uma HQ do selo Black Label da DC, a qual alguns estavam declarando que se passava no mesmo universo de The Batman. No entanto, apesar de o escritor Mattson Tomlin ser um dos responsáveis pelo roteiro do filme, O Impostor dialoga sim com The Batman, mas não existe no mesmo universo, não obstante algumas semelhanças marcantes, sobretudo estéticas e de caracterização do Batman mais raivoso e imprudente, em certa medida.

O plot na realidade não é novidade, de que um falso Batman começa a matar criminosos e incrimina o Cavaleiro das Trevas. Já houve enredos parecidos em histórias do passado, como se demonstra nos exemplos a seguir.

O Impostor já se inicia com Batman chegando muito ferido e desfalecendo na residência da doutora Leslie Thompkins, e ela logo tira sua máscara e descobre a identidade de Bruce Wayne, a criança que tratou quando seus pais, o casal Thomas e Martha Wayne, foram assassinados diante de seus olhos. A Leslie de O Impostor tem o diferencial de ser negra e de ter a personalidade um pouco diferente da Leslie tradicional. Se bem que a personagem mudou muito ao longo dos anos: originalmente, era uma velhinha na história No Hope in Crime Alley, publicada em Detective Comics no 457; no pós-Crise, foi reformulada como uma médica amiga do casal Wayne.


Ao acordar, Bruce recebe o ultimato de Leslie: ou concorda em aparecer em seu consultório toda manhã, ou então ela revelará sua identidade e ele será preso. Bruce teria de provar a Leslie que não precisaria realmente de ajuda psiquiátrica, o que no caso dessa versão do Cavaleiro das Trevas é um tanto difícil. Vamos combinar que até o Batman tradicional não é um bem um homem que esteja em seu juízo perfeito; alguns roteiristas inclusive gostam de trabalhar as questões patológicas do personagem ou até mesmo sugerir que ele seja mesmo louco. O Batman de O Impostor é claramente mais perturbado que o tradicional, tem muito mais raiva. Tanto que até mesmo Alfred não aguentou e desistiu de ser tutor de Bruce, em razão da raiva e da irascibilidade do menino. Então, temos um Batman nessa história sem Alfred, que é justamente um dos personagens que mais providenciam esteio psicológico para o perturbado Cavaleiro das Trevas. E também temos um Batman sem Gordon, uma vez que na história Gordon foi exonerado da polícia de Gotham por ter ajudado o herói a deter as três grandes famílias do crime da cidade. Por causa disso, vários criminosos de Gotham tiveram de ser soltos, e a polícia não gosta nem um pouco do vigilante.

O Batman de O Impostor é uma versão mais agressiva e violenta do personagem, que não tem receio de quebrar ossos dos criminosos. E o desenhista Andrea Sorrentino mostra isso muito bem, ao ilustrar ossos quebrados sob a forma de raio-x quando o Cavaleiro das Trevas os golpeia. Também não tem receio de torturar se achar necessário, como faz com Otis Flannegan, o Caça-Ratos, para tentar descobrir o paradeiro do falso Batman.

O enredo da HQ realmente deslancha quando surge esse falso Batman que passa a executar os criminosos que foram soltos em razão da exposição da associação do herói com Gordon. Por mais que Batman realmente machuque bastante os criminosos, ele não os mata, e isso seria a gota d’água para ele ser caçado pela polícia do Gotham. Há outro fator também, que é a respeito de como os bilionários enxergam o Cavaleiro das Trevas, que em sua ação acaba por trazer muitos prejuízos materiais para a cidade. O mais representativo deles é o Sr. Wesker, que intima a detetive Blair Wong a descobrir mais a respeito do vigilante. Wesker também é pai de Arnold, o vilão do Batman conhecido como Ventríloquo, mas que nessa versão ainda não se tornou um criminoso.

A detetive Wong deduz que o Batman só poderia ser alguém que tivesse muito dinheiro ou que pelo menos conhecesse alguém assim, o que coloca Bruce como um de seus alvos de investigação. Ele, por sua vez, também tenta descobrir informações com Wong, e ambos se envolvem, até mesmo porque também tiveram em comum o fato de terem os pais assassinados. Isso de Bruce se envolver com uma mulher e ter o conflito de o Batman atrapalhar sua vida amorosa também já foi tema de várias histórias.



No geral, achei O Impostor uma boa HQ, que mostra um Batman mais cru e inexperiente, mas mais abalado psicologicamente que o Batman tradicional; essa é uma versão do Cavaleiro das Trevas que está próxima a ter um colapso e que é mais descuidada e se fere bastante. Senti muita falta de Alfred e também da de Gordon; são dois personagens coadjuvantes que realmente fazem falta. Apenas a Leslie não segura as pontas, tampouco a detetive Wong. Ao meu ver, há muitos personagens coadjuvantes desnecessários, a maior parte da Batfamília na verdade é, mas Alfred, Gordon e Dick são os coadjuvantes realmente mais importantes. Esse Batman de O Impostor nunca teria um Robin, por exemplo. Em primeiro lugar, por ser psicologicamente mais desequilibrado e por não poder ser centrado o suficiente por ser mentor de alguém. Em segundo lugar, porque pegaria mal um jovem adulto viver com uma criança ou adolescente em uma mansão imensa.

Vale dizer que originalmente Alfred não existia nos quadrinhos, mas surgiu posteriormente na primeira cinessérie do Batman, pois os produtores acharam que seria estranho um homem adulto morar com um garoto sem dar a impressão de pedofilia ou homossexualismo. Posteriormente, Alfred foi introduzido nas HQs e tornou-se um dos coadjuvantes mais importantes do Homem-Morcego. Com o tempo, a relação entre eles progrediu de mordomo e amo para pai e filho. Houve alguns períodos em que Alfred se ausentou, como quando foi “morto” nos anos 60 e foi substituído pela tia Harriet, que era a tia de Dick Grayson, o Robin, e não do Batman, como dizem. E ela também foi criada para que não dessem margem a ideias estranhas de Bruce e Dick vivendo sozinhos. Então, Alfred é um personagem que realmente faz falta na história, até mesmo se fosse uma versão mais casca grossa, como a do Alfred de Batman Terra Um. Poderiam ter criado uma caracterização mais próxima à desse Alfred ou à de The Batman, que combinaria mais com o Batman dessa HQ.

Apesar de alguns problemas narrativos ou de roteiro, O Impostor é sim uma boa HQ do Cavaleiro das Trevas e merece a conferida, particularmente por conta da arte de Andrea Sorrentino, que é muito boa, lembrando o estilo fotorrealista de Alex Maleev. Bom entretenimento, a despeito do plot já um tanto reciclado. Nota 8 de 10.

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