Pandemia Gourmet

A pandemia,
Arquitetada e teleguiada,
Da Peste Chinesa
Está pelo seu fim
(terei que me reacostumar, que readquirir a tolerância e os calos ao cheiro e às vozes de gente).
 
Está pelo seu fim,
Ou, pelo menos,
Teve os seus estertores finais
E o seu coma induzido,
Decretados e publicados em Diário Oficial
Pelas autoridades governamentais.
 
As mesmas que
Até ontem
Decretavam loquidaus.
E que,
Depois de terem nos inoculado com placebo,
Disseram : vão na fé.
 
Reclassificaram a Peste Amarela
Como uma "gripezinha", agora.
Como um outro, 
Talvez um visionário,
Talvez só menos hipócrita,
Dissera dela desde o início.
 
Bares, restaurantes e biroscas,
Academias, barbearias e salões de beleza,
Salões de festas de prédios e condomínios,
Voltaram a operar em capacidade máxima.
 
A tribo,
A tropa,
A turba
Voltou a se acarrapatar
Em volta das fogueiras paleolíticas,
Das churrasqueiras gourmets com wi-fi e bluetooth,
A bater seus tambores
Transgressores da Lei do Silêncio das 22 às 06 horas da manhã,
A compartilhar a cuia cheia de aguardente de mandioca,
A devorar,
De deixar a gordura escorrer pelos cantos da boca,
A coxa do inimigo
Assada na brasa
Enrolada em folha de bananeira,
A catar e a comer
Os piolhos uns dos outros.
 
O balanço de tudo,
O frigir dos ovos :
Morreu muito pouca gente,
Muito pouca gente,
Desgraçadamente,
Muito pouca gente.
 
Não foi o suficiente.
Ficou longe de.
 
A Morte, 
Antes pantagruélica,
Agora,
Pelo visto,
Deu também para só degustar. 
 

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