Democracia Para Quem Precisa, Democracia Para Quem Precisa de Democracia

Havia feito a autopromessa de que nada comentaria a respeito das manifestações do Sete de Setembro. Contudo, se eu não cumpro nem com as promessas que faço aos outros, que dirá com as feitas a mim mesmo. 

Não fiquei, é óbvio, o dia todo por conta de acompanhar os discursos de Bolsonaro e os mugidos prós e contras dos rebanhos verde-amarelos e vermelhos. Tenho mais o que fazer num feriado : cozinhar, tomar cerveja, ouvir uma musiquinha e ir dormir à tarde com o bucho cheio.

Vi pequenos e aleatórios instantâneos das manifestações. Ora pela CNN; ora pela Band News, ora pela Record News (onde descobri estar - ele, sim, um mito - o grande Heródoto Barbeiro), ora (mea culpa, mea maxima culpa) pela GloboNews.

Basicamente, supus que veria, ao longo do dia, transmissões das manifestações dos dois lados da mesma moeda, as a favor e as contra Bolsonaro. A compará-las numericamente. Que tentariam, sobretudo a GloboNews, contrapor imagens de manifestações pró-Bolsonaro de locais onde elas tivessem se dado de forma mais rarefeita com imagens de manifestações contrárias de lugares onde elas tivessem ocorrido de forma mais intensa. Comparar os lugares de menor adesão a Bolsonaro com os de maior rejeição a ele, para corroborar a sua queda de popularidade tão alardeada pelas pesquisas de intenção de votos para 2022.

Pois a grande mídia não teve nem mesmo como fazer essa comparação parcial e tendenciosa. Tão maciças foram as aglomerações pró-Mito e tão pífios e anêmicos os ajuntamentos vermelhos que não houve como negar ou minimizar os primeiros, nem como maquiar e otimizar os segundos. As transmissões do Sete de Setembro contradisseram total e cabalmente todos os resultados divulgados pelos tais Institutos de Pesquisa a respeito da queda de popularidade e da crescente rejeição ao governo Bolsonaro. E não estou dizendo que isso seja bom ou que seja ruim. Tão-somente foi o que se mostrou.

E creio que os milhares de pessoas nas ruas sejam um espaço amostral muito mais abrangente e significativo estatisticamente que as usuais duas mil, duas mil e quinhentas entrevistadas nas tais pesquisas.

Se não pode vencer o inimigo, junte-se a ele, certo? Porra nenhuma. Se não pode vencer o inimigo, desqualifique-o.

Foi o que restou à GloboNews e ao seu time de jornalistas, órfãos desmamados e viúvas dos governos Lula e FHC, desqualificar a vontade popular. O tempo todo - e foi algo que até ultrapassou o limite do ridículo - foi pisado e repisado que as manifestações verde-amarelas carregavam “pautas antidemocráticas”.

Não sei quem convencionou que democracia é manter uma população de mais de 200 milhões de habitantes refém de 513 parlamentares, ainda que sejam sequestradores, em tese, escolhidos por suas vítimas. Beeeeemmmm em tese : em 2018, apenas 27 parlamentares (5,26% da corja) foram eleitos apenas pelos próprios votos; os outros, a reboque do tal quociente eleitoral, votos da coligação e outras mumunhas. Ou seja, 94,74% não representam nem mesmo quem pensa diferente de você, caro leitor; só representam a si mesmos e aos interesses de seus partidos. Democracia? 

Ou, ainda, 200 milhões de reféns de uma malta de 11 juízes cujo maior mérito (se não o único) é serem apadrinhados de algum político.

Posso estar errado - e geralmente estou -, mas me parece que os ataques dos manifestantes verde-amarelos não sejam tanto às instituições democráticas, sim à canalhada que as compõe, e ao poder quase que absolutista dado a ela pela "Constituição Cidadã" do dr. Ulisses. Pessoalmente, não quero, de forma alguma, ver o STF ser dissolvido, mas que eu adoraria ver a exoneração dos 11 que atualmente o formam, isso eu adoraria.

Mas vá lá, vá lá que seja (e agora farei o papel que mais me agrada, o de advogado do diabo) : consideremos que vivamos, de fato, numa genuína democracia e que, por conseguinte, as passeatas pró-Mito apoiem "pautas antidemocráticas", como quer a GloboNews.

Será que ouvir, considerar e mesmo atender às "pautas antidemocráticas" de significativa parcela da população não seria praticar à risca o conceito da democracia? Não seria provar a legitimidade e eficiência do sistema, mostrar que o sistema funciona?

Será que se relevante fatia do povo não quer a democracia que aí se apresenta, essa fatia não deveria ser democraticamente ouvida e acatada? Será que a democracia que aí está, a fazer valer o seu nome, não deveria meter o rabinho por entre as pernas e pedir pra sair?

Será um ato democrático a democracia ser mantida e imposta a uma caudalosa parcela dos eleitores pela vontade e à força de pequenos grupos que dela se beneficiam?

Será a democracia tão democrática a ponto de aceitar que lhe rejeitem, nos moldes e nas mãos de quem hoje está?

Abaixo, respectivamente, sempre da esquerda para a direita, as manifestações contrárias a Bolsonaro (em defesa da democracia) e as favoráveis (as antidemocráticas, como quer a GloboNews).

em tempo : e onde estava o Lula, que não deu as caras? 

em tempo 2 : e, claro, que nenhuma manifestação da vontade de tanta gente, independente das pautas que defenda, pode ser chamada de antidemocrática; pelo contrário.




Conheça também: 

 

Postar um comentário

0 Comentários