São Rasputin

Inomináveis Saudações a todos vós, Seres Do Mundo! 


Aproveitando que hoje, 23 de abril de 2021, é o dia do Santo Católico que tem o maior número de devotos no Brasil, o popularíssimo São Jorge, trago para vocês a história de um outro tipo de Santo. Só que este Santo que aqui será considerado, Grigori Efimovich, aka Rasputin (que significa Dissoluto em russo), seria capaz de deixar o Dragão destruir uma cidade inteira matando milhares de moradores e se divertiria seduzindo a Donzela que estaria sendo ameaçada por aquele, uma antítese da mais famosa das Representações Artísticas do Santo Guerreiro Cristão




A ideia para esta postagem aqui no blog veio a partir de um comentário que fiz na postagem Doomer - Playlist Aleatória, de autoria do Ozymandias. O conteúdo da citada resposta que saiu de minha parte foi a publicação de um vídeo do YouTube contendo o álbum Dead Again (2007), o último da banda Type O Negative. A temática em torno do personagem Doomer e as letras das músicas da banda no álbum, assim como em outros anteriores dela, casam-se perfeitamente. Na capa daquele, a foto de Rasputin (representada abaixo) figura dentro do típico verde, que era a marca registrada da mitologia da banda, anunciando uma referência direta ao tipo de vida que aquele teve (e que tinha certa semelhança com a do falecido líder do Type, Peter Steele). Houve um comentário do Ozymandias, reconhecendo-o como um ligado aos Romanov, e nasceu, então, a oportunidade de contar um pouco da História Russa nos últimos momentos da Era Dos Czares, através do personagem mais interessante, intrigante e incomum da mesma. 




Sobre as origens de Rasputin, sabe-se apenas que ele era filho de um camponês siberiano, sendo desconhecidos fatos maiores acerca de sua biografia antes de surgir em S. Petersburgo, que era, então, a Capital Russa no início do Século 20, com uma idade próxima a 30 ou 40 anos. O que se sabe é que ele recebeu o apelido de Rasputin por terem sido lendárias as confusões que ele arrumou na aldeia onde nascera, sempre envolvendo bebedeiras, porradaria e mulheres. Não se sabe o que ocorreu por certo com ele, que vivia essa vida desregrada com ardor e paixão, mas ele passou alguns meses retirado em um mosteiro, o que lhe tocou profundamente. A convivência com o ambiente religioso o influenciou de tal maneira que, ao sair daquele, autoproclamou-se um Starets, categoria de Homem Santo na Rússia que viaja pelas cidades como um eremita, dedicando-se a socorrer as pessoas mais aflitas nas questões do Espírito. No entanto, houve rumores advindo dos inimigos dele, bem quando já era bastante reconhecido na Capital, que na verdade ele pertencia a uma seita secreta denominada Khylsty, pregadora da devoção do serviço religioso em orgias noturnas. O que é bem mais provável porque a conduta libidinosa aberta que ele possuía e não procurava esconder, defendendo vigorosamente que o caminho da Salvação passava pela total entrega aos Prazeres Carnais, seguindo-se de um arrependimento, o que ele até chegou a pregar. 


Com os filhos Dmitry, Maria e Varvara

Com a esposa e a filha Maria adulta 


Ele foi casado e teve quatro filhos, dois meninos e duas meninas. Sendo que um dos meninos morreu ainda criança e o outro nascera com debilidades mentais, ficando com a mãe na aldeia onde aquele vivia. As meninas foram morar com o pai quando este já estava plenamente estabelecido como o favorito da Corte Russa, recebendo uma educação de qualidade. A forma como ele chegou a S. Petersburg no ano de 1902 foi a de um devoto arrependido de seus pecados, apresentando-se aos religiosos da cidade, mais precisamente ao mais venerado desta, Zhuan Konstadt. A carismática maneira como ele fervorosamente pregava, a humildade e a sinceridade que demonstrou levaram-no a ser escolhido pelos clérigos para levar a Palavra Divina aos analfabetos daquela. A ascensão dele foi tão impressionante, revestido com a faceta de Starets e dominando certas habilidades psíquicas ligadas à Cura, que atraiu a atenção da nobreza. Foi assim que aproximação dele do Czar Nicolau II e da Czarina Alexandra se tornou possível, pois as Grã-Duquesas Militsa e Anastasia, casadas com primos do Czar, foram quem apresentaram-no a este e à esposa. E o favoritismo dele junto à Família Real foi proporcionada pelo fato dele se tornado o Curandeiro Sagrado que salvou da morte o Czarvetich Alexei, filho dos Czares, da morte próximo aos três anos de idade. Alexei herdou da mãe a Hemofilia, os médicos tinham-no como uma causa perdida; no entanto, chamado pelos Imperadores ao Palácio Real, Rasputin salvou a vida da criança e iniciou, deste modo, sua trajetória como um tipo de Conselheiro Não-Oficial do Governo Imperial Russo, visto que até em assuntos estatais o Starets se intrometeria.


A Família Imperial Romanov

 

Veneração e fanatismo pela figura dele nasceu da parte da Czarina, que o defendia veementemente, seja qual fosse o distúrbio ou escandaloso que ele causasse. Muitos que conheceram-no pessoalmente em sua proximidade com a Corte falavam do poder contido no olhar dele, uma força ao mesmo tempo suave, agressiva e dominadora, como as fotos contidas nesta postagem comprovam. Misto de sedutor natural e piedosamente religioso, Rasputin atraiu para junto dele um círculo de senhoras da Corte, o que geraria boatos de que ele era amante de todas (eu não duvido que isto tenha mesmo acontecido). A própria Imperatriz Alexandra, cega para as imperfeições e vícios dele, foi vítima de tais boatos, o que tornou o marido dela motivo de piada no país. Muito fraco, submisso e dominado pela esposa, Nicolau também se tornou Gado do Monge Diabólico, como os inimigos deste o denominavam, ouvindo praticamente em relação a tudo. Como mencionei no parágrafo anterior, o Starets se intrometeu na Política Estatal e começou a desagradar os membros racionais da Família Romanov que não se deixaram afetar pelo poder sedutor do mesmo. Obrigaram Nicolau a bani-lo da Capital certa vez, um exílio na Sibéria que durou bem pouco tempo porque Rasputin curou Alexei de uma nova crise hemofílica à distância, informando aos pais através de um telegrama que o Príncipe mais uma vez sobreviveria. 


Com os seguidores dele 


Rasputin se assegurou por mais algum tempo perto da Corte, mas a Primeira Guerra Mundial traria o fim dele, literalmente falando. Aos 27 de junho de 1914, um dia antes do assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do Trono Austro-Húngaro, o que viria a culminar naquele conflito em sua consequência mais direta, ele sofreu um atentado. A autora foi uma mulher que o apunhalou no estômago gritando "Matei o Anticristo"; enquanto se recuperava dos ferimentos, enviou uma carta a Nicolau aconselhando-o a não entrar na Guerra, profetizando que esta traria apenas perdas e desgraças para a Rússia. Desta vez, o Imperador não seguiu o conselho dele e entrou de cabeça no conflito ao lado da França e Inglaterra, formando a Tríplice Entente contra Alemanha, Áustria-Hungria e Itália, a Tríplice Aliança. Em 1916, no auge do conflito, boatos ecoaram na Capital referentes à um conselho que Rasputin teria dado a Nicolau para que assinasse um Tratado de Paz com a Alemanha, convencendo primeiramente Alexandra, que era a verdadeira dona do Trono Russo. Isso não agradou à Aristocracia Russa, que na figura do Príncipe Felix Yussupov, o mais rico herdeiro russo da época e casado com uma sobrinha do Czar, encontrou o caminho para se livrar definitivamente da incômoda figura sombria de Rasputin sobre o Governo Russo


Felix Yussupov


Yussupov podemos considerar como o verdadeiro vilão dentro de tudo neste contexto histórico, já que algumas vezes chegara a procurar Rasputin para ser curado de problemas de saúde. Sendo tão boêmio quanto aquele que traiu, chegou a ter certa amizade com ele, nascida das noitadas que passavam juntos na seara noturna da Capital. Por isso, sem desconfiar de nada, Rasputin seguiu para o palácio do traidor na noite em que fora por este convidado para uma ceia, ao final de dezembro de 1916. Fingindo que dava uma festa, Yussupov o conduz até um quarto no porão palaciano e tentou, inicialmente, envenená-lo com bolos e vinho recheados com cianeto. O que não funcionou, visto que nenhum efeito o veneno fez naquele que pretendia matar após duas horas e meia. Ele, então, saiu do quarto e conversiu com os quatro cúmplices que acima daquele tocavam um gramofone para simular uma festa, retornando com uma pistola. Distraindo Rasputin com um crucifixo que estava em uma parede do quarto, atirou pelas costas, à queima-roupa, fazendo-o tombar. Os quatro cúmplices entraram, então, no quarto, sendo um deles médico, que confirmou a morte do odiado Monge. Porém, de súbito, este se levantou e se direcionou para a saída do quarto, subindo as escadas e alcançando o pátio. Sendo perseguido pelos que queriam-no morto, foi interceptado perto do portão do palácio e alvejado com outro tiro nas costas e um na cabeça por Yussupov, que ficou a bater com um pedaço de madeira no corpo até que a vítima dele não desse mais sinais de vida. Amarrado em uma lona atada com cordas, Rasputin foi jogado no Rio Neva; após o cadáver ter sido encontrado, a autópsia que foi feita demonstrou que ele morrera afogado e, não, pelos traumas ocasionados pelas balas que atingiram-lhe o corpo. A morte dele, publicamente declarada, causou uma grande festa nas ruas de S. Peterburgo, sendo profundamente lamentava pelos Imperadores. Como os criminosos se tratavam de figuras ligadas à Aristocracia, não receberam uma punição maior do que o banimento da cidade. 




A morte dele foi acompanhada pela rápida descida ao fim da Dinastia Romanov, que por 300 anos governou a Rússia. Naquele mesmo mês de dezembro de 1916, ele enviou uma carta a Alexandra com a última profecia que faria em vida, informando-lhe que ninguém da família dela sobreviveria ao desaparecimento físico dele por mais de dois anos. É muita falta de conhecimento histórico acusá-lo de ser o principal causador do brutal destino que Alexandra e Nicolau, junto com os filhos Alexei, Olga, Maria, Anastasia e Tatiana na noite de 16 para 17 de julho de 1918 em Ekaterinburg. Nicolau era um governante muito fraco, inseguro e incompetente, extremamente incapaz para o cargo  de Regente Nacional, o que a Primeira Guerra Mundial apenas tornou muito mais nítido. 


“(...) A Rússia Imperial entrou na guerra com orgulho, quase com alegria, no verão de 1914, como aliada da Grã-Bretanha e da França, contra os Impérios Alemão e Austro-Húngaro. Mas, a I Guerra Mundial revelou-se um desastre para o país e para a Dinastia Romanov. Em março de 1917, com milhões de mortos, o país estava sem rumo. Na capital, Petrogrado (hoje, S. Petersburgo), as pessoas revoltavam-se com a falta de alimentos, os estudantes se manifestavam, juntando-se aos trabalhadores em greve, e as tropas chamadas para restaurar a ordem acabavam também se rebelando. 


Chamado às pressas da frente de combate, onde tomara pessoalmente o comando do Exército Imperial, o Czar Nicolau II foi presenteado com um ultimato: a abdicação. Por si próprio e por seu filho, de 12 anos franzinos, renunciou ao Trono que a família ocupava desde 1613 — 'com a simplicidade com que se entrega um esquadrão de cavalaria ao seu novo comandante', observou um dos seus oficiais com enorme surpresa. Ao seu diário, porém, o Czar revelou seus verdadeiros sentimentos: 'À minha volta vejo unicamente traição, covardia e mentira!' (...)”


in: Grandes Mistérios do Passado 

pag. 90



Traição, covardia e mentira que se tornaram fundamentais no destino que levou ao fim da Rússia Imperial e fomentou a Revolução Russa por culpa única e exclusiva da ineficiência dele como Governante. Rasputin não era o problema, apenas um aspecto do fraco nível de compreensão política daquele que foi o último dos Czares. Os relatos aqui expostos de um estranho e sinistro homem não fazem dele um monstro, nem o pior dos Seres Humanos. Sendo alguém que realmente experimentou com naturalidade tudo aquilo que pensava, se tratou de uma pessoa autêntica ao extremo, tanto no Sagrado quanto no Profano. Nosso distanciamento da época em que todos os fatos que estão acima é uma vantagem porque podemos refletir bem melhor acerca de cada um deles. Rasputin não foi de uma hipocrisia latente e visível como a de tantos religiosos desta nossa época. Ele era capaz de curar durante o dia, pregando o Evangelho; à noite, se entregar à luxúria e à devassidão, ao álcool e às brigas; e, no dia seguinte, acordar para ter todo o direito de ser quem ele era sem nenhuma vergonha ou receio. Não conheço, hoje, um indivíduo tão genuíno e sincero, sendo ou não religioso, a grande maioria das pessoas prefere a hipocrisia mesmo. Aquele famoso meme que surgiu no ano passado com aquele cachorrinho (ENFIM, A HIPOCRISIA), Ser melhor do are muito humano que conheço, está mais do que corretíssimo. 


Há artigos e livros sobre Rasputin, além de diversas referências a ele dentro da Cultura Pop e das Subculturas. Somente não posto aqui porque a postagem ficaria enorme e o tema desta preferi centralizar nesta curta crônica histórica. Para finalizar, uma curiosidade tão bizarra quanto a do Santo que está canonizado entre os bêbados e dissolutos de todos os tempos: ele possuía um pênis avantajado de 28,5 cm que foi provavelmente retirado pelos que mataram-no e o mesmo encontra-se conservado no Museu do Erotismo de S. Petersburgo, como podem ver na foto abaixo.




Que São Rasputin lhes abençoe, leitores virtuais!


AMÉM!!! 


Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores!





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