Como estou de férias esses dias, resolvi acessar o maravilhoso catálogo da Netflix para assistir a alguma coisa que prestava por lá. Me deparei então com essa série Os Irregulares de Baker Street. Com sou um grande fã de Sherlock Holmes, resolvi dar uma chance, mas para que, né? Meu Deus, mas que nova bobagem fizeram com Sherlock Holmes? Se você não gostou muito de Enola Holmes, espere para ver Os Irregulares.
Para quem não sabe ou não lembra, os irregulares são os moleques de East End, a baixa Londres, que prestavam serviços de espionagem para Holmes nas histórias de Arthur Conan Doyle, quando ele precisava de “olhos e ouvidos” para solucionar algum caso e não poderia fazê-lo pessoalmente. A Netflix aproveitou o plot desses personagens para desenvolver uma série. O problema é que é voltada para o público-alvo adolescente. Aliás, essa série é adolescente até a medula.
Como
protagonistas, temos o quarteto formado por Bea, Jessie, Billy e Spike,
adolescentes de East End que sobrevivem com muitas dificuldades. Bea (Thaddea
Graham) é a líder do grupo, decidida, impetuosa e protetora; Jessie (Darci
Shaw) é sua irmã, que tem “superpoderes”, é telepata, pode acessar sonhos etc.;
Billy (Jojo Macari) é o típico garoto durão; e Spike (McKell David) é o galã da
periferia. O grupo está sem dinheiro e ameaçado de despejo, e Bea não sabe o
que fazer. Porém, ela é procurada pelo doutor Watson, interpretado por Royce
Pierreson, que oferece dinheiro em troca dos serviços dos jovens.
Watson
informa que quatro bebês meninas foram raptadas de seus respectivos lares e
incube Bea de investigar o paradeiro das crianças. Watson diz que ele e Holmes
são “homens de reputação” e que não poderiam ir a determinados locais em que Bea
e os outros poderiam, o que é pura balela, pois várias vezes nos livros de
Conan Doyle Holmes disfarçava-se e adentrava nos piores covis de Londres.
No entanto, pelo menos neste primeiro episódio, Holmes não faz aparição. Minto, na verdade, mostram o pé dele em determinada cena em que Bea adentra a residência 221 B Baker Street, e percebe-se que Holmes está mal. E aposto que é em razão de drogas, visto que ele é um notório junkie da literatura.
Ainda
se acrescenta à turminha o príncipe Leopold, que, em uma de suas escapadas do Palácio
de Buckingham, encontra Bea e se apaixona por ela. Leopold a ajuda na
investigação, sem revelar sua identidade. Para variar, forma-se mais um
daqueles triângulos amorosos adolescentes entre Bea, Billy e Leopold.
Uma
característica um tanto óbvia da série e da Netflix em geral é a opção pela
diversidade. O problema é que na Londres vitoriana a etnia que se sobressaia
era a anglo-saxã, sendo rara a ocorrência de outras etnias. No entanto,
Bea é interpretada por uma atriz asiática, mas sua irmã Jessie é branca. Spike é negro. E temos também o primeiro Watson negro, que eu me
lembre. Pior que o Watson também está meio escroto nessa série, tratando Bea
com condescendência e até jogando o dinheiro no chão, para ela apanhar. Algo
que um gentleman como o Watson dos livros nunca faria. Em The Witcher,
alteraram a etnia de vários personagens, mas relevamos porque era uma história de
fantasia, apesar de a maioria dos personagens nos livros ser europeia/eslava.
Em Irregulares de Baker Street, é preciso forçar mais a descrença. Por
falar em The Witcher, o ator de Watson, Royce Pierreson, atua nas duas
séries.
Vale
dizer que, apesar do enredo adolescente, Os Irregulares
de Baker Street tem até
um pouco de gore, algo que não é muito comum em séries do tipo. Uma
menina, por exemplo, é assassinada tendo os olhos devorados por corvos. No
entanto, o que mais vai de encontro com o cânone de Sherlock Holmes é a presença
do sobrenatural, algo ausente na obra de Conan Doyle, com exceção de determinado
conto do qual me recordo, em que uma senhora diz a Holmes que recebeu informação de “alguém que não
está mais entre nós”. A despeito de Conan Doyle ter se convertido ao
espiritualismo, é incomum elementos fantásticos ou sobrenaturais em suas
histórias de Sherlock Holmes. Por sua vez, na série, além dos poderes de
Jessie, o primeiro vilão que a turma enfrenta tem poderes ocultos, e parece que
o plot serão casos sobrenaturais, em que Bea e cia. se envolverão, e
quem passará as missões para eles será Watson. Dá para dizer que a série é uma
mistura de Sherlock Holmes com X-Men. Os poderes de Jessie lembram os de Jean
Grey.
Para
não dizer que a série tem apenas pontos negativos, há alguns pontos positivos,
sim. As atuações, achei que estão de ok para boas, inclusive se
considerando que o elenco é bem jovem e de novatos. A fotografia e a cenografia
também são dignas de nota. Reproduziram uma Londres vitoriana esteticamente
interessante.
Enfim, assisti apenas ao primeiro episódio de Os Irregulares de Baker Street,
mas já deu para ter uma noção das características da série. Claramente, não sou
o público-alvo, apesar de ser fã de Sherlock Holmes. É como as séries da DC do
CW, que são voltadas para adolescentes e jovens adultos. Sou decenauta, mas sei
que não são para mim. Porém, por essa lógica, a gente não seria o público-alvo
de quase nada, inclusive dos filmes da Marvel. Todas essas produções visam um público
imensamente maior que seu fandom. Entretanto, se alguém se interessar
por assistir a Os Irregulares, vale a conferida, bem como o julgamento
se é bom ou ruim.
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