O Vírus em Mim

Agora é oficial, irrevogável e irreversível : estou contaminado com o vírus chinês!

O governo do estado de São Paulo ampliou a campanha de vacinação contra a peste chinesa para os profissionais da educação com idade a partir dos 47 anos.

É o Doria Calcinha Apertada querendo acabar com a nossa mamata de ficar em casa!

E lá foi, então, esse vetusto escriba a providenciar o seu lugar na fila da vacina, a peregrinar pelos trâmites burocráticos.

Primeiro, fiz meu cadastro na Secretaria Estadual de Educação; no dia seguinte, recebi a confirmação do meu patrão de que, realmente, eu sou professor, com QR Code e tudo - é o Azarão nessa frescura. De posse do tal, agendei meu atendimento no site da Secretaria Municipal da Saúde; dia seguinte, a confirmação da data, hora e local. O local foi surpresa.

Eu já estava contando em ser direcionado ao posto de saúde mais próximo de casa, já contava com uma longa espera na fila, igual às que vejo nos telematutinos jornalísticos. Comprara até um caderno de palavras cruzadas especialmente para a ocasião.

Estranha e inesperadamente, no entanto, nós, os professores, fomos todos vacinados no centro médico do Ribeirão Shopping, o shopping mais luxuoso da cidade. Eu nem sabia que shopping tinha centro médico. Pois esse tem. Meu horário, o das 09h30min.

Então, hoje, munido de RG, CPF, QR Code (pããããta...), comprovante de agendamento e ficha de cadastro manual Vacivida, dirigi-me ao shopping. Cheguei meia hora antes do meu horário. Para garantir qualquer contratempo. Qualquer entrave que pudesse surgir. Qualquer exigência documental não informada e que nos fosse agora cobrada.

De novo, estranha e inesperadamente, nenhum obstáculo houve. Desnecessário se mostrou o meu cuidado de chegar um tanto antes. Havia, é verdade, muitos professores no local - há muitos de nós a circular por aí, muitos conseguem até transitar despercebidos pelas ruas, mercados etc., muitos até conseguem se fazer passar por pessoas normais -, porém, em contrapartida, havia também um esquema de organização excelente - e inédito em se tratando de algo promovido pelo Estado . Um atendimento de Primeiro Mundo. Ou o que eu, nascido e (mal) criado nos tristes trópicos, julgo o que seja um atendimento de Primeiro Mundo.

Houve, é claro, antes de eu chegar à sala de vacinação, quatro barreiras alfandegárias burocráticas, cada uma verificando a autenticidade de um único documento dos exigidos, porém, não houve lentidão no trânsito, não ocorreu congestionamento de professores. Uma equipe de moças  bonitas, bem-educadas e bem vestidas e de coroas simpáticas, bem maquiadas, serelepes e das mais apetecíveis percorria as filas em pré-conferência dos documentos, para agilizar o processo.

Resumindo : cheguei ao centro médico do shopping às nove horas com o meu horário marcado para as nove e meia. Às nove e vinte, eu já estava vacinado e na rua.

Pãããããããta que o pariu!!! Em mais de vinte anos de magistério no serviço público, nunca vi o professor ser tratado tão bem e dignamente, ser tratado, aliás, como todo cidadão deveria ser.

É o Doria Calcinha Apertada querendo agradar as "tias", as PEB I, querendo que o professor deposite o seu voto na urna devassada dele!!!

Antes de me aplicar a vacina, o rapaz me mostrou a ampola que continha o cobiçado líquido, exibiu-me o logotipo do Butantan estampado no rótulo, para me informar da procedência da mesma, extraiu um tanto com a seringa e me fez constatar a dose de 0,5 ml que me seria aplicada.

Vacina do Butantan. A chinesa. Deixei-me inocular sem medo ou apreensão. O Butantan produz eficientíssimos soros antiofídicos e antirrábicos há tempos. Por que não iria dar conta de uma picada de chinês? Por que falharia fragorosamente em fabricar uma boa vacina contra o sinovírus?

Agora é oficial, irrevogável e irreversível : estou com o vírus chinês! E também com um microchip, que permitirá, doravante, que os chineses vigiem todos os meus movimentos. E daí? Eu já tenho um chip implantado pelos greys e outro pelos reptilianos. Julguei que mais um, ainda que Made in China, não fará grande diferença.

Só não sei o que o governo chinês pode querer me monitorando. Que informações e dados sobre a minha vida pode lhe ser de alguma valia. Só sei que se, de fato, o governo chinês, a partir de hoje, começar a rastrear os meus passos, do jeito que eu ando, logo, logo, o satélite espião deles estará de língua de fora. Vai dar pane, na certa. Só hoje, foram uns bons quinze ou mais quilômetros, contando a ida e a volta da vacinação. E é capaz que mais ao fim da tarde, ao crepúsculo, ao lusco-fusco, eu ande mais uma légua tirana.

Eis a vacina.

Ou acharam que eu fosse postar uma foto minha a tomar a vacina e fazendo sinal de "joinha"? O caralho que eu ia!

Quaisquer efeitos colaterais, reações adversas e transmutação para jacaré, eu informo ao longo dos próximos dias.



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