SENHOR MILAGRE – Prisão Sem Muros - Parte 02 de 02

 


O segundo encadernado do Senhor Milagre com as edições 7 a 12 de Mister Miracle trouxe o encerramento da premiada passagem de Tom King reformulando não a origem, mas o modo como vemos a realidade de Scott Free e da Grande Barda, mostrando que o personagem não é somente um artista de fugas e um super-herói, é uma pessoa comum com habilidades incomuns vivendo em uma realidade incomum. Confuso? É um pouco surreal na verdade, o que vemos no decorrer dessas últimas edições é uma outra definição para, literalmente, o escapismo na ótica do mundo heroico.


Como foi mostrado na edição 6, que encerra o primeiro encadernado, Milagre e Barda estão invadindo o palácio do governante de Nova Gênese, depois de arrasar com a escolta que o levaria para sua execução como foi decretado pelo atual Pai Celestial, Órion. Mais uma vez a arte de Mitch Gerads é o diferencial na sequência que vemos nas páginas dessa edição, uma sucessão de quadros mostrando o passo a passo do casal conversando sobre os futuros planos para suas vidas enquanto derrubam guardas e armadilhas é algo meio “Sr. E Sra. Smith” em quadrinhos, não creio que outro desenhista teria conseguido o mesmo efeito.


A revelação da gravidez de Barda não só é mais impactante para Scott do que o cenário no qual ele se depara quando finalmente chega a sala do trono e encontra Órion arrasado por ninguém menos do que o próprio Darkseid. Antes ele havia recebido um alerta desesperado de Metron avisando-o para não olhar no rosto de Deus, somente quando ele encara Darkseid e pergunta o que ele fez, consegue entender o aviso do Novo Deus e a revelação o atinge com um grande choque, percebendo a imensa armadilha na qual ele estava todo esse tempo. Agora ele é o novo Pai Celestial e precisa lidar com as consequências dessa mudança e a vinda do seu primeiro filho.

É nesse cenário que o encontramos no segundo encadernado, lidando com essa nova realidade (?) em suas vidas. Normalmente é estressante para qualquer marido levar a esposa para o hospital quando ela está tendo as primeiras contrações que anunciam a vinda do bebê, imagina quando o casal é composto de um super-herói e a sua esposa guerreira capaz de bater de frente com a Mulher Maravilha? O resultado não vai ser muito tranquilo para a equipe médica, ainda mais quando na sala de espera estão as Fúrias Femininas de Darkseid curiosas com o nascimento de um Novo Deus. Particularmente achei essa parte sensacional, é hilária de tão surreal.

O tempo passa e a guerra Nova Gênese – Apokolips segue mais sangrenta do que nunca. Scott e Barda se alternam entre cuidar do bebê e lutar nos campos de batalha, pior para o Senhor Milagre que é o atual líder de Nova Gênese e comandante dos exércitos, King criou um cenário sinistro e irônico, imagina o cara ligando para casa para saber sobre o filho estando coberto de sangue e tendo os ferimentos sendo remendados ao mesmo tempo? Acho que o roteirista colocou aqui um pouco das experiências que teve conhecimento nos seus tempos de agente antiterrorismo, sobre combatentes que procuram saber sobre suas famílias enquanto estão em ação, temendo o momento em que poderão ser abatidos e não voltarem para casa.


Quando chega o momento de negociar um cessar-fogo as coisas começam a ficar realmente tensas, mas o roteiro da aventura não deixa de surpreender quando vemos que quem representa Apokolips nas negociações é Kalibak, o brutal guerreiro agindo como um negociador com direito a relatórios e organogramas? Como se fossem engravatados de escritório? Nota 10 para Tom King. Lendo as edições de Senhor Milagre pude entender o que aconteceu com o rendimento do escritor no título do Batman, King não me parece o autor que deva ficar preso por um longo tempo a um mesmo personagem, confesso que ainda não li seu trabalho com o Visão, mas fiquei com essa impressão comparando seu trabalho nos dois personagens. São poucos escritores que mantem a mesma qualidade escrevendo um título por anos como Walt Simonson em Thor e Chris Claremont em X-Men.




O ponto alto do arco final da minissérie acontece quando Apokolips entrega sua proposta para encerrar o conflito: Darkseid entrega os segredos da famosa Equação Antivida e retira suas forças do campo de batalha em troca da custódia do filho de Scott Free e Barda. Lembrando que o próprio Scott foi entregue a Darkseid pelo Pai Celestial como uma troca para um cessar fogo no passado, Órion foi para Nova Gênese sendo criado em seu lugar. O casal de heróis cresceu naquele inferno e a possibilidade de entregar seu primeiro filho para aquele mundo de horrores, mesmo que seja para encerrar a guerra, cai como uma bomba entre eles. Pensando como estrategistas é racional, como pais é inconcebível.


Enfim, um plano de ação é traçado e a sequência da concretização do acordo no palácio de Darkseid é eletrizante, para no fim ser revelado que a vida do Senhor Milagre estava presa a uma imensa armadilha, concebida por alguém conhecido por gostar muito de manipular eventos e testar realidades. Uma dica: Odisseia Cósmica. E a única constante em todo um universo de caos é a que...  Darkseid É.

Terminando a leitura dessa minissérie sensacional e (se me permitem o trocadilho) escapista, fica a certeza de que o mundo dos quadrinhos não possui limites para a criação de sagas, basta esquecer os limites do convencional e abraçar as possibilidades.

Não se esqueçam:


Darkseid É





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