O Regresso de Jaspion - Review

 




Última leitura. Pois é, tenho passado por um jejum de comprar quadrinhos, porque estou com pouco espaço físico e a convivência aqui em casa anda ruim. No entanto, ao saber que havia a versão digital do mangá bananense do Jaspion, O Regresso de Jaspion, tratei logo de comprar pela Amazon e baixei no Kindle no meu celular. E devo dizer que valeu a pena. E olha que nem sou um grande entusiasta de HQ nacional, quase não leio, mas Jaspion é Jaspion.




Quem não viveu o final dos anos 80/início dos anos 90 não faz ideia do quanto Jaspion foi um fenômeno cultural na Banânia, quando exibido na TV Manchete. Até hoje, ele é o tokusatsu mais popular já exibido por aqui, deixando National Kid e Spectreman para trás. Então, quando a onda nostálgica dos anos 80 quis trazer Jaspion de volta em mangá escrito por Fábio Yabu e desenhado por Michel Borges, não é de surpreender que tenha sido um grande sucesso de vendas por aqui. O próprio título do mangá é uma homenagem ao tokusatsu, pois O Regresso de Jaspion remete a O Regresso de Ultraman, a série de Ultraman Jack.



Jaspion é uma série que pegou o resquício da moda das space operas, popularizada por Star Wars. Ela começa como uma space opera brega inspirada em Star Wars. Satan Goss é uma espécie de Darth Vader gigante. Porém, ao final da série, Satan Goss se transforma no Cthulhu cósmico. Se bem que o Cthulhu de Lovecraft já era cósmico.


Como Jaspion era uma série à frente de seu tempo, ela já previu o fenômeno social das dolls. As bonecas sexuais que são populares no Japão, mas que também estão se tornando muito populares no Ocidente. Dolls são o futuro. Jaspion tinha como parceira a bela e atrapalhada androide Anri, interpretada por Kiyomi Tsukada. Apesar do herói não ter qualquer interesse romântico nela (ou em qualquer mulher na série), Anri era a musa da molecada onanista, e o episódio em que ela fica pelada é um dos mais queridos. Vale dizer que, no quadrinho do Jaspion dos anos 90, do Alexandre Nagado, é desenvolvido um romance entre Jaspion e Anri.




No enredo do mangá, mais de trinta anos depois de Jaspion ter derrotado Satan Goss, com o auxílio das cinco crianças tocadas pela luz e do Pássaro Dourado, Jaspion está atrás de boatos a respeito de uma nova Bíblia Galáctica, que afirma que um falso salvador será o responsável pela volta de Satan Goss. Em uma investigação que o leva ao planeta Drods, Jaspion logo descobre que o tal falso salvador é ele mesmo, pois é feito prisioneiro por Cleon, a regente dos ventos, com a ajuda de Koko, agora crescido, e de Namaguederaz, o monstro “papai” de Koko. Fanservice pouca é bobagem.

Conseguindo escapar de Cleon, Jaspion recebe a dica de seu filho adotivo, o Tarzan Galáctico (sim, esse é o nome mesmo), que trabalha na polícia espacial, de que algo suspeito está acontecendo na Terra, pois há uma grande concentração de energia negativa, o que provavelmente é indicativo da ressurreição da Satan Goss.

Ao retornar à Terra, Jaspion, sua parceira androide, Anri, e a mascote, Miya, descobrem que a vida lá piorou bastante. As pessoas se odeiam e estão alienadas e raivosas. Logo, reencontra seu amigo Boomerman, que está puto da vida com ele. É interessante a abordagem de que a vida na Terra está uma bagunça porque Jaspion foi embora, nosso maior herói nos abandonou. Depois disso, o Japão caiu em uma profunda crise econômica, porque ninguém queria investir em um país que era assolado por kaijus.

Para piorar, a bruxa Kilmaza ressuscitou e fundou uma nova religião, que prega a adoração a Satan Goss. Boomerman reúne Jaspion com seu velho amigo, professor Nambara, e seus ex-rivais Joe Tiger e Aigman, que foi reprogramado. Jaspion e Boomerman partem para uma missão de acabar com os planos de Kilmaza e se deparam com o redivivo MacGaren e seus asseclas, os Quadridemos (na verdade, três dos quatro, Gyoru, Purima e Iki, não o de Fênix...).



Bom, não vou dar mais spoilers, mas sem dúvida esse é um mangá que nos atinge em cheio pela nostalgia. O roteiro de Fábio Yabu é simples, mas respeitoso com a mitologia do Jaspion. Michel Borges é tecnicamente um bom desenhista, apesar de não ficar muito acima da média. Porém, seu estilo cai bem nesse tipo de história.

A caracterização de Jaspion ficou um tanto destoante do herói ao final da série. Nesse ponto, vemos um Jaspion mais taciturno e menos brincalhão; não só por causa da tensão que vai crescendo, mas porque o ator Hikaru Kurosaki vinha tendo problemas sérios não exatamente com a Toei, mas com o JAC (Japan Action Club), que era a principal escola de dublês do Japão. Kurosaki ficou muito incomodado com as condições de trabalho de seus colegas dublês e comprou briga com o lendário Sonny Chiba, o presidente do JAC e maior ator de ação japa da história. Então, no mangá, vemos a caracterização do Jaspion mais palhaço do começo da série, e não do mais sério do final. Jaspion também não envelhece porque ele é alienígena, mas nada na série original indicava isso. Mas ok, a gente engole.

Vale apontar a referência a Gavan, o primeiro dos Metal Hero, interpretado por Kenji Ohba, pois ele tem presença no mangá, e nem é tão disfarçada. Na verdade, todos os Metal Hero são referenciados, bem como outras séries de tokusatsu.

Enfim, o mangá do Jaspion é a boa velha masturbação nostálgica, mas que é acrescida com um roteiro que tem certo verniz social e é uma crítica aos problemas do mundo contemporâneo, tão sério e tão adulto, por meio de um personagem infantil, mas que só gente crescida conhece hoje em dia. Nota 8 de 10.


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