Minhas 10 Histórias Favoritas de Sandman


Depois de muitos e muitos anos, eu li Sandman. Uma das séries obrigatórias pra todo leitor de HQ que eu nunca tinha parado pra conferir. Foi um misto de sensações, houveram muitos enredos bons, mas por outro lado as altas expectativas me deixaram desapontado em pelo menos dois arcos, às vezes sequências de mais de 10 histórias me entediavam. Alguns títulos menos falados como "Lobo Solitário", "Y: O Último Homem", Demolidor do Frank Miller e Mulher-Maravilha (Novos 52) não foram substituídos nos meus favoritos pessoais, apesar da consagração de Sandman, muitas vezes ostentando primeiro lugar em listas na Internet. Porém, pensei na contextualização. Essa série foi lançada em sua maioria nos anos 90. Tempos em que o Alan Moore trabalhava pro Rob Liefield. No grande mercado de HQs, títulos que eram referência de diversão, como Quarteto Fantástico e Homem-Aranha, passavam por suas piores fases. Imaginei no meio disso o fenômeno gótico multimidiático que foi Sandman, provavelmente relembrando as pessoas que em HQs dá pra fazer tudo! Contar qualquer história!



Essa reflexão me deixou mais empático com a idolatria da velha guarda pelo Sandman. Como já falam dessa série em todo lugar, senti que um especial sobre a série inteira não seria muito diferencial, além de que tomaria um tempo que não devo ter tão cedo. Então fiz uma seleção de dez favoritas pra ser meio diferente. Aí você pode comparar com sua experiência e suas preferências. Espero que curtam!


10-Os Caçadores de Sonhos

"Talvez seja isso que ela queira. Ficar perdida em sonhos."

De todos os desenhistas fodidaços que marcaram a saga de Sandman, o P. Craig Russell deve ser meu favorito. Nessa história sem importância pra série principal, Gaiman conta um tipo de fábula, como sabemos que ele curte. Por um tempo vemos dois animais (acho que uma raposa e uma ratazana) que querem enganar um monge. Mas depois o mundo onírico toma maior importância. Eu sempre gostei do tom dessas histórias fabulescas, mas devo confessar que foram os desenhos do Russell que me deixaram apaixonado. Eu me interessaria por um livro inteiro de contos de fadas ilustrados por ele.


9-Mortalhas

"Eu conto a próxima história."

Nessa sequência tão atraente de histórias (a última da série a me deixar altamente impressionado) nós vemos um tipo de casa entre dimensões onde diversos seres ficam se protegendo enquanto esperam um tipo de tempestade cósmica passar. Nisso eles se entretém contando histórias, de forma que cada uma pega uma edição. Eu gostei de várias, mas só consegui escolher duas pra lista (a outra ficou em quarto lugar). Nessa um rapazinho com visual meio mórbido nos conta do seu mundo que é feito de pessoas que trabalham com os cuidados de quem já morreu, havendo até uma escola de formação, uma série de rituais e muita seriedade no ofício. Eis que dentro da história dele... Começam a contar outras histórias! Fica confuso? Não! É super legal! Incrível como em uma revista tão breve Gaiman nos apresenta um universo inédito tão atraente, onde provavelmente poderiam se passar muitas mais histórias...


8-Espelhos Distantes: Três Setembros e Um Janeiro

"Eu lhe dei aquilo pelo qual muitos mortais viveram e morreram, minha irmã. Eu fiz dele um rei."

Eu gostei de todas as edições que trataram de "Espelhos Distantes". Eram histórias fora da continuidade comum onde Morfeus se envolvia com alguém que estava lidando com questões de poder em outro período histórico. "Três Setembros e Um Janeiro" se trata de Joshua Norton, eu tive que escolhe-la, visto que é a única que após terminar eu nem contei a história para meus amiguinhos mais intelectuais, eu peguei o link da Wikipedia relacionado ao homem (que realmente existiu) e enviei pra eles sem nem explicar mais nada. Após um momento de crise com falta de esperança, Norton resolve se autoproclamar o primeiro rei dos Estados Unidos. Todo o desenvolvimento é muito interessante.


7-Homens de Boa Fortuna

"Vocês podem morrer. Afinal, são um bando de otários. Mas não eu!"

Nessa história que se passa na antiguidade, Morfeus e sua irmã mais popular tornam um cidadão que dizia que nunca ia morrer em imortal. A forma cabeçuda que ele está convencido que não vai morrer simplesmente porque não quer já chama atenção no início. Então ele combina de se encontrar com o deus dos sonhos de cem em cem anos, gerando diálogos muito bem feitos do senhor Gaiman. O autor deve ter notado que foi uma de suas melhores ideias, já que o personagem não demorou pra retornar às histórias, mesmo que em breves aparições, e continuou o fazendo até o fim.


6-A Canção de Orfeu

"Por vezes, a ausência dela há de atingi-lo como um golpe no peito, e você chorará. Mas isso acontecerá cada vez menos à medida que o tempo passar."

Essa é bem simples, foi lançada fora da linha principal, no "Sandman Special". Por que simples? Ela trata do mito grego de Orfeu, que perde sua amada e vai buscá-la no quinto dos infernos. A única coisa que o Gaiman faz é narrá-la no formato de quadrinhos e adicionar os Perpétuos. Mas cara, ficou muito legal! Pra mim que gosto de Mitologia Grega, até já conhecia essa história, foi bem prazeroso. Os desenhos do Bryan Talbot ficaram daquelas perfeições que nos fazem pensar como os desenhistas do Sandman foram fundamentais, o que o próprio Gaiman fala. Eu gostei tanto que quando acabou a vontade era que continuasse. Imagino que se a dupla fizesse uma coletânea das principais histórias da Mitologia Grega, como o Gaiman fez uns anos atrás com a nórdica, daria muito certo.



5-Um Jogo de Você

"Você não sofreu abuso quando criança, Bárbara. Sua infância foi desinteressante, tranquila e tediosa. Você teve dois pais desinteressantes e uma casa desinteressante."

Quando começa, esse arco passa a impressão que mais uma vez a trama foi quebrada completamente pro Gaiman nos apresentar um monte de personagens que nem conhecíamos, com todos os problemas e detalhes de suas vidas, quando na verdade estamos mais interessado em ver o que os Perpétuos estão fazendo. Mas em pouco tempo ele já sucede em mostrar eventos interessantes, prendendo e trazendo curiosidade sobre esses personagens. Misturando a vida real com o mundo dos sonhos da personagem Barbie, acompanhar a história com suas constantes mudanças de plano dimensional fica incansável, ainda mais do jeito que o mundo desperto vai ficando mais sinistro e o onírico mais misterioso. É um contraste perfeito. Algumas partes dessa história me lembraram várias referências boas, algumas claramente intencionais, como "Senhor dos Anéis", "Alice no País das Maravilhas" e "História Sem Fim".


A trama é inteligente e os desenhos devem estar entre os melhores da série toda, mesmo alternando entre vários artistas. A qualidade se mantém, e é ascendente, com um final muito forte. Me sinto até mal de ter deixado em quinto lugar, mas é que os próximos conseguiram me conquistar mais ainda. Em listas de outras séries "Um Jogo de Você" venceria o primeiro lugar com facilidade.


4-O Menino de Ouro

"Se eu for presidente, quero fazer a diferença. Quero tentar facilitar a vida das pessoas."

Aqui Gaiman mostra seu carinho por algumas raízes dos quadrinhos norte-americanos, resgatando Prez, personagem antiquíssimo de Joe Simon (criador do Capitão América). Eu não tenho ideia de quão divertidas ou populares são as outras histórias do Prez, mas fico cético que superem sua passagem por Sandman. Sempre gostei de histórias que envolvem a figura do presidente, ainda tem um dos meus desenhistas favoritos que é o Michael Allred! Lembra um pouco "Forrest Gump", com "Bons Companheiros" mas somado com os misticismos e bizarrices da revista que chegaram ao auge nessa fase! Mesmo não tendo importância pra cronologia e história pessoal do protagonista, foi uma das que eu mais curti! Com certeza!



3-Fachada

"Eu fumo um cigarro e finjo que sou normal. E desejo estar morta."

Me surpreende tanta gente defender que "Sandman" devia jamais interagir com o Universo DC, quando uma das histórias que mais mexeu comigo justamente traz uma coadjuvante esquecida dessa mitologia. Gaiman resgata sabe Deus de onde a Mulher Elemento, fazendo uma trama extremamente pesada, onde fica a impressão que há um paralelo da personagem com pessoas do mundo real que têm deficiências estéticas. Também me surpreende a impressão de que o comprometimento é muito maior com a experiência artística do que com o politicamente correto, visto a forma trágica e pesada da história. Me passou uma sensação de: "é isso, não falei que ia ser bom", como faziam as histórias do Shakespeare, o qual Gaiman abertamente idolatra. Provando a independência da revista, nessa trama Morfeu nem aparece, sendo a personificação da Morte que nos permite identificar que é uma revista da série.


2-Um Sonho de Mil Gatos

"Se um número suficiente de nós sonhar... Se apenas mil de nós sonharem... Poderemos mudar o mundo."

Apesar da grande simplicidade, sendo uma história bem contida, foi uma das várias que me convenceu que o Gaiman trabalha bem melhor quando é pra fechar tudo rápido do que pra se estender muito. A ideia de contar uma história mostrando a relação dos gatos com o mundo dos sonhos e a paranormalidade me pareceu tão esperto que deu vontade de imprimir milhares de cópias dessa história e sair distribuindo pra todo mundo que eu visse. Na época já sabíamos que o Morfeus se manifestava como deus dos sonhos de forma adaptada a culturas diferentes da norte-americana, como as asiáticas e africanas. Aqui a mudança é mais radical já que vemos que ele se manifesta para os animais! Fórmula que não foi mais repetida, ainda bem, pois certamente não conseguiria replicar o mesmo efeito. "Um Sonho de Mil Gatos" me fez olhar pra realidade contaminado pela fantasia. Mesmo tratando apenas de gatinhos, tiro meu chapéu.


1-Estação das Brumas

"Infelizmente, não tenho outra escolha. Eu terei de ir ao Inferno. Talvez não retorne."

Como disse, por um tempo eu fiquei esperando mais de Sandman, a primeira história que achei fodona mesmo foi "Estação das Brumas". A introdução já é bacana, tendo todos os Perpétuos reunidos de forma que lembra uma família normal, com suas intrigas e formalidades. Os desenhos de Vess são diferenciais para o tom épico quando mostra tantos elementos paranormais e fantásticos interagindo. Acredito que essa foi a grande graça desse arco: fundir tantas mitologias dialogando como se fossem corriqueiras, além da reinterpretação do Satanás bíblico, de vez em quando ficando com a cara do David Bowie. Meu único ponto contra foi que com tantas coisas legais acontecendo, eu esperava algo que fosse me surpreender pro final, mas não teve qualquer reviravolta. De qualquer forma me marcou o bastante pra ficar em primeiro lugar!


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