DICA: 5 filmes para fugir do comodismo cinematográfico


Percebo que, com a proliferação dos serviços de streaming, a maior parte das pessoas se tornou preguiçosa na busca por novas referências e linguagens cinematográficas, se acomodando em um padrão que é ofertado por tais serviços e que, muitas vezes, é de qualidade questionável. Neste sentido, a fim de trocar experiências e compartilhar obras que fujam um pouco do padrão pasteurizado a que nos estamos habituando, deixarei no post a seguir uma indicação (com breves comentários a respeito de cada) de 5 filmes para quem está interessado em novas experiências. Para quem já conhecer tais filmes, fica a sugestão do compartilhamento deste post com amigos, a fim de ampliar os horizontes da Sétima Arte.

1. Paisagem na Neblina (1988) - Este primeiro filme foi realizado pelo cineasta grego Theo Angelopoulos e possui um caráter todo particular. Extremamente contemplativo, posto que possui poucos diálogos e é pautado em uma composição imagética e visual muito bem elaborada, Paisagem na Neblina traz em seu sub-texto uma poderosa carga de simbolismos, que transitam desde a crítica social até à parábola religiosa, que reforçam a já intensa experiência do enredo. Enredo este que, devido a junção desta composição cinematográfica que aqui narrei, produz uma sensação de vazio, indiferença e tristeza arrebatadoras. Longe de ser um melodrama barato (no pior estilo O Milagre na Cela 7), Paisagem na Neblina faz com que o espectador termine de assisti-lo sem esperança alguma. Não é um filme para se chorar copiosamente, mas ele te provocará um choque depressivo brutal.


2. Possession (1981) - Este segundo filme é uma interessantíssima produção do cineasta polonês Andrzej Zulawski, que incorpora elementos que vão do horror ao drama. Em termos técnicos, o filme é formidável, passando de maneirismos que vão desde a utilização de steadycam até a leveza da imagem-afecção em primeiro plano. Tudo composto em um universo que, embora bizarro e, em razão do desenvolvimento de seus personagens, um bocado extravagante, em nenhum momento se torna caricaturesco ou nada do tipo. A própria premissa da narrativa que, a princípio, parece tão simples (os conflitos de um casal frente à uma possível traição), desvela tantas camadas interpretativas que imbuem ao filme um caráter único. A possessão da qual se refere, neste sentido, pode ser gerada por meio de diversos pontos de referência, seja no mais óbvio deles (que não comentarei, para não dar spoiler), até a mais sutil das possibilidades. Um grande filme, que poderá não agradar a todos, mas definitivamente provocará uma experiência particular a quem assisti-lo.


3. O Congresso Futurista (2013) - O terceiro filme, produzido pelo cineasta Ari Folman, diz respeito a uma obra de composição inventiva, pois mistura uma trama dramática com tintas de ficção científica e animação. A história, que narra a história de uma atriz no processo de transição entre o cinema tradicional e uma nova maneira de se fazer cinema, projetada de maneira artificial por uma mímese gerada dos artistas, nos remete a uma reflexão a respeito da própria natureza do nosso convívio com o mundo virtual e a dinâmica alucinógena das mutações comportamentais do mundo pós-moderno. Todo este cenário, composto em uma estética extremamente elegante, nos permite visualizar referências aos próprios embates travados pela mídia fílmica, cuja reticência, deslumbramento e desolação sempre compõem elementos de experiência nos agentes de quem produz e de quem absorve essa arte. Para quem gosta de uma boa "viagem", é um filme indispensável.


4. Arca Russa (2002) - O quarto filme da nossa série de indicações é o estupendo Arca Russa, produzido pelo cineasta russo Alexandr Sokurov. Famoso por ter sido filmado em apenas um take (o que, por si só, já constitui um puta desafio que merece ser conferido), o filme, contudo, transpira história e poesia em suas imagens. Gravado em um museu russo, o filme desenvolve a história da Rússia de 300 anos pra cá de modo sutil e com uma beleza peculiar, ora de maneira jocosa (subvertendo a imagem de alguns de seus símbolos), ora com o trejeito salutar de um discurso nacionalista. Apesar disto, o principal ponto alto do filme - na minha opinião - reside na conciliação entre a perspectiva da câmera e o discurso fílmico elaborado pelo enredo que, em união, constituem o real protagonista do filme. É a câmera que nos conduz, que narra, que contempla e que, por fim, nos brinda com a beleza de suas imagens e as reflexões que estas trazem à tona.


5. Os Olhos sem Rosto (1960) - O quinto e último filme de nossa lista diz respeito à uma produção francesa, do cineasta Georges Franju, que nos brinda com a história de uma garota que, em razão de um acidente sofrido por ela, perde a sua face (fazendo com que tenha de encobrir suas imperfeições com uma máscara), restando-lhe apenas os seus olhos (tal como sugere o título). Em razão disto, o pai da garota, responsável pelo acidente, se sente culpado e passa a tentar realizar um transplante de face, raptando garotas de aparência semelhante para retirar-lhes a face e colocá-la na sua filha. A premissa, embora simples, é composta de maneira fantástica, em um jogo de mistério e violência lúdica que torna o elemento de horror do filme, disperso nas mais diversas e sutis ações na narrativa, em uma ferramenta de intencionalidade assombrosa, provocando uma real sensação de angústia constante. Um pioneiro no quesito terror psicológico!

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