Nota do Ozy: A campanha para que Rocket, que é um dos nossos melhores redatores, volte a escrever, continua.
Se apoia essa ideia, deixe nos comentários. Essa mensagem virá em todas as republicações de materiais que tenho dele.
Para mais textos do Rocket, clique AQUI.
Sinopse: "Quando o advogado Sam Bowden retém provas que poderiam livrar o agressor sexual Max Cady das acusações de estupro, ele passa 14 anos na prisão. Ao ser libertado, Max, sabendo do que o advogado fez, se dedica a perseguir e destruir a família Bowden."
Robert De Niro - Max Cady
Nick Nolte - Sam Bowden
Juliette Lewis - Danielle Bowden
Jessica Lange - Leigh Bowden
Direção: Martin Scorsese
Os anos na prisão transformaram a vida de Max. Inicialmente analfabeto, aprendeu a ler e usou seu tempo para estudar livros de advocacia e filosofia. Imagens de Joseph Stalin, Benito Mussolini e Friedrich Nietzsche estampavam sua cela. Seu corpo é bem definido e repleto de tatuagens que representam seus ideais e sua nova missão. Nas costas, uma balança com os dizeres "Verdade" e "Justiça", nos antebraços, os versículos "Minha é a vingança" e "Meu tempo está próximo". Sofreu constantes abusos sexuais (como a maioria dos que são presos por estupro) e em seu sexto ano como presidiário descobriu sobre as informações omitidas por Sam. Sua fala calma e sedutora contrasta com sua personalidade agressiva e maligna. Ele estava determinado a usar toda sua força e inteligência para se vingar do advogado, como se os 14 anos servissem como preparação física e mental para o personagem se entregar a vilania.
O confronto entre os protagonistas é tenso desde o princípio. O primeiro encontro é marcado por um diálogo pacífico e ao mesmo tempo intimidador. Max diz ao advogado que ele vai aprender o que é perda, e passa a seguir sua família, circular sua propriedade e fazer leves e ácidas ameaças, usando seu recente conhecimento em direito para não se comprometer legalmente. Num segundo encontro, Sam chega a oferecer uma quantia de dinheiro para que Max saia da cidade e o deixe em paz, mas o vilão deixa bem claro: não existe dinheiro no mundo que compre o sofrimento, a violência e os anos perdidos na prisão. A tensão entre os dois aumenta a cada conflito e o advogado teme cada vez mais o que seu antigo cliente possa vir a fazer.
Durante o primeiro ato, a única prova que temos de que Max realmente cometeu o crime é a palavra de Sam, sendo assim, o vilão pode inicialmente confundir e nos passar uma falsa imagem de justiceiro, de homem injustiçado em busca da verdade. Isso é totalmente quebrado com uma pesada cena onde o vilão seduz, agride e estupra a amante de seu advogado, cometendo o crime pelo qual foi condenado pela segunda vez. O faz porque sabe que o atingiria e que ela não contaria o que houve à ninguém, nem mesmo aos policiais, já que isso comprometeria sua carreira e reputação. Aqui o personagem abre mão de sua máscara social e age como um verdadeiro ogro.
O suspense da trama é muito bem conduzido e tem forte influência dos filmes sessentistas de Alfred Hitchcock, seja na filmagem, na montagem ou na maneira em que a trilha sonora é encaixada com as cenas. Max tem um ar de indestrutível e sempre parece estar à frente de seus oponentes, deixando o espectador aflito e o tempo todo pensando em qual vai ser o próximo passo do vilão. O filme é um remake da obra homônima lançada em 1962, ambos baseados no livro de John D. Macdonald, originalmente publicado em 1957.
O filme marca a sétima parceria entre Martin Scorsese e Robert De Niro, que passou por uma intensa preparação física para assumir o papel. Na época com 48 anos, o ator perdeu peso e desenvolveu músculos até ficar com apenas 4% de gordura corporal. Também pagou 5 mil dólares à um dentista para que ele deixasse seus dentes com um aspecto mais descuidado. Utiliza um sotaque e tem uma boa expressividade para dar mais intensidade ao personagem, um dos mais bem caracterizados de sua carreira. Nick Nolte, que é mais alto que o colega, também passou por um processo de perda de peso para enaltecer a ameaça que seu adversário representava. O final do filme é satisfatório e nos faz pensar sobre a durabilidade de um trauma. No fim, a perda a qual Max se referia não era financeira ou de bens materiais, mas sim de sanidade e paz de espírito.
"Eu sou semelhante a Deus e Deus semelhante a mim. Eu sou tão grande quanto Deus. Ele é tão pequeno quanto eu. Ele não está acima de mim, nem eu estou abaixo dele."