Batman Vs Superman - A Origem da Justiça: O Batman






Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores! 

Bruce Wayne é um homem quebrado desde a infância, mas mantém a firmeza de suas convicções no combate ao crime de modo visceral. Não é uma fissura na vontade guerreira que há vinte anos em Gotham leva-o a ser o terror de todos os criminosos. Não é uma fissura que lhe impede de continuar a desenvolver suas próprias convicções acerca do que crê como o correto a ser realizado. Não é uma fissura que o acorrenta a um estado de procrastinação em meio a um mundo que cada vez mais está a apodrecer. A fissura de Wayne está na alma, onde palpita a firme certeza de que poderia fazer muito mais pelo mundo, mais do que em toda sua trajetória já fez. E é quebrado desta maneira, atado a uma frustração de não poder fazer o que está além de si mesmo, que ele encara o Superman como alguém que não deveria estar no mundo como um tipo de Deus, Santo e Salvador. Junto com ele, a morte e a destruição foram consequências que afetaram a noção em Wayne de que ele deve deixar de ser um homem quebrado. E, assim, sob o obscuro manto do Batman, ele parte para completar-se atuando como o vigilante que é, uma vez mais.


Ben Affleck, de corpo, mente e alma, é O Batman. Arrisco dizer que ele é o ator mais perfeito no papel, o único em toda a História que conseguiu encontrar o tom correto, a composição precisa e a construção firme para um personagem de tantas nuances abissais. Como Bruce Wayne, seu porte, sua voz, sua atitude e palavras denotam a figura de um homem que jamais se entrega, mesmo que fragmentado desde a infância. Como Batman, endurecido por anos insanos de batalhas contra os mais diversos criminosos, é uma máquina de guerra encarnada, um verdadeiro exército a massacrar impiedosamente seus inimigos, demonstrando que estes devem ser detidos a todo e qualquer custo. No complexo construir de tal personalidade, o resultado final é um guerreiro perfeito na mais completa concepção de tal termo, fisicamente falando. Psicologicamente, Bruce/Batman é um atormentado caminhante fruto de uma das mais terríveis tragédias que podem acometer um ser humano. No entanto, atrás da máscara, ele supera suas limitações, fragilidades, traumas e desastres pessoais. Ele precisa superar. Precisa resistir. Precisa continuar.


Muito já foi dito por Frank Miller em O Cavaleiro das Trevas sobre a psique do Batman, de modo direto e indireto. O personagem que vemos em BvS é uma versão do visto na obra de Miller, o que Snyder transforma no fio condutor principal dos questionamentos no filme acerca do papel do Superman no mundo retratado. E até mesmo o próprio papel dele no mundo é a todo momento questionado, mesmo que não de uma maneira direta. Alfred, em uma interpretação discreta e segura de Jeremy Irons, é o principal instigador de tais indagações, funcionando muitas vezes como um chamamento suas intervenções sutis ou irônicas, sempre no momento certo de um diálogo. Um detalhe curioso no filme é a mansão destruída, um simbolismo que parece querer a todo momento denunciar a quebra interna que há dentro de Bruce/Batman; porém, Alfred, como o âncora que o posiciona no dever de tentar superar essa ruptura interior, mantém sempre a casa externa arrumada. Alfred não pode penetrar dentro da mente de seu patrão/amigo/filho, apenas aconselhá-lo e orientá-lo em caminhos que muitas vezes o mesmo não consegue enxergar como fáceis de serem percorridos. E a mente de Bruce/Batman é uma das mais preciosas peças que dão ao filme uma coesão única. Através de tal mente é que o filme primeiramente surge como algo a nos questionar sobre a fragilidade de qualquer um de nós diante de um grande mal como a morte trágica dos pais. Quando Thomas Wayne é visto caindo baleado; Martha Wayne sendo assassinada, as contas do colar da mesma separando-se; e o pequeno Bruce gritando, estamos diante da mente do mesmo enquanto protagonistas, a tomada visa a nos inteirar do aspecto todo daquele crime conforme o ponto de vista do menino. A caverna foi visitada. Os morcegos começaram a voar.


O encontro com os morcegos no poço onde caiu, quando criança, morcegos que o elevam em uma belíssima cena, tem uma relação direta com o Mito que envolve a aura do personagem. No sonho com O Morcego (uma observação importante: aquela criatura do inconsciente está presente em O Cavaleiro das Trevas, mas nesta obra parece um animal gigantesco e, não, uma visão ou sonho), o sangue a brotar da pedra antes da súbita aparição daquele simboliza todo o sacrifício dele a favor de um tipo de justiça próprio ao mundo onde vive. Em todos os folclores do mundo, o morcego ganha conotações das mais variadas, algumas enaltecendo seu simbolismo de pássaro (alma) e outras a de demônio (criatura sombria). Passou a ser representado, desse modo, em diversas culturas, como amigo e feiticeiro, fantasma e diabo, e, eventualmente, como deus tribal. Para os irlandeses, é o símbolo da morte; na Costa do Marfim, a corporificação dos mortos; tornou-se o animal encantado e símbolo sexual para os homens de uma tribo de Nova Gales do Sul; foi o Deus Supremo de índios americanos da costa do Pacífico, Chamalkan; em Samoa, Deus-Morcego; e em lendas de índios do Norte dos Estados Unidos, aparece personificando um herói defensor da Humanidade em crise, totalmente desprendido e altruísta. Além de diversas outras superstições, podemos ver que o simbolismo do morcego vem a estar no Batman como uma espécie de fator que o faz provocar as mais diversas reações nos que com que ele se encontram: medo, repulsa, admiração, ódio, antipatia e simpatia. E se valendo da aura inteira desses elementos contra o crime, ele faz o que é necessário, mesmo que mutile, aleije ou mate, o Batman deste filme não tem meio-termo.


Antes de condenarmos a ultraviolenta fúria do personagem do filme, temos que nos conscientizar que o mundo do  Bruce/Batman de BvS não é o mesmo do de Adam West do festivo seriado dos anos 60. O mundo onde se posiciona o filme é sujo, asqueroso, decadente, profundamente absorto na lama e no lixo sociais que a própria Humanidade auxiliou a desenvolver-se. “Sempre fomos criminosos, Alfred”, diz, a certa altura, um homem cheio de autoridade e autenticidade para assim se expressar acerca do papel que homens como ele tiveram de tomar no mundo para combaterem a criminalidade. Em pensamento, a determinada altura de O Cavaleiro Das Trevas, Superman lembra-se da atitude e das palavras do seu então amigo ao depor no Congresso após ser convocado pelo Governo, que queria restringir as ações dos Super-Heróis. Batman gargalhou e disse, em um tom mais cortante do que quando se direciona ao Alfred: “Claro que somos criminosos! Nós sempre fomos! Nós temos que ser!”. A Lei não conta diante de determinadas situações que exijam uma dureza elevada ao infinito e nem mesmo considerar danos colaterais no trato bélico com assassinos, humanos ou meta-humanos, vem ao caso em momentos que exijam apenas ação. A reflexão é deixada para os filósofos, sociólogos, antropólogos, psicólogos, psicanalistas e demais experts na arte de pensar, pensar e pensar em soluções para a dissolução total do Crime. Bruce/Batman, no entanto, é um homem da ação e parte para o embate mais fervoroso, não importando as consequências nos criminosos que combate. Esse é o enfoque do Ben Affleck ao compor o personagem que o Snyder soube adequar visceralmente na trama. O mimimi em torno do excesso de brutalidade nele é plenamente tolo e vazio.


E aquele profético sonho dele com a ocupação da Terra pelas Forças de Apokolips e, no mesmo, a aparição de um Superman que é integrado aos invasores, fomentam ainda mais a sua decisão em destruir aquele que acredita ser um inimigo da Humanidade. O detalhe mais importante do sonho é um spoiler que não vou aqui entregar para quem ainda não viu o filme, mas digo apenas que faz referência a uma certa passagem de Crise nas Infinitas Terras. Isso significa que a DC Films irá explorar o Multiverso em filmes futuros, mas com as devidas proporções no Cinema, a meu ver. O que vale ressaltar é que o final do sonho do Bruce/Batman tem significados que podem ser explorados de múltiplas maneiras por diversos outros filmes e diretores. Além disso, fica em aberto se realmente aquele futuro foi obliterado ao final do filme ou se ficou em aberto. Após aquele sonho, a agitação interior de Bruce/Batman cresceu ainda mais, incentivada ainda por acontecimentos externos que o levaram ao confronto com Superman. Voltando ao Mito, é como se após a descida completa aos Infernos, Bruce/Batman, Orfeu conforme o interpreto, tenha encontrado o responsável por tirar do mundo toda a esperança de paz e segurança, a Eurídice Terrestre. E esse responsável teria que pagar caro por seu crime…


Mas, para entender-se bem esse conflito, precisamos subir ao Templo Solar e visitarmos o Mito do Superman.


Sábado, para o alto e avante…

Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores! 



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