Deuses Que Lemos, Deuses Que Vemos, Deuses Com Os Quais Sonhamos, Deuses Que Queremos Ser







Publicado originalmente em
09 de junho de 2007




À SEMELHANÇA DO TRANSCENDENTAL,
À IMAGEM DO TRANSCENDENTAL,
EM NOSSAS ALMAS HUMANAS APEGADAS
AO SABOR VENENOSO DO MATERIAL,
PODEMOS PEGAR NA CAUDA DO IMATERIAL
QUE É O COMETA PERTO DE NÓS A PASSAR,
O COMETA QUE NÃO PERCEBEMOS,
E PODEMOS SER MAIS DO QUE
USUALMENTE VERDADEIROS
NÃO TERIAMOS QUE SER,
PODEMOS SER DEUSES E VOAR,
PODEMOS SER DEUSES
E ASSIM,
COMO DEUSES,
NESTE MUNDO FADADO
A SER ESCRAVO DO MATERIAL
CAMINHAR MAIS PERTO
DO IMATERIAL
E IMAGINAR.
IMAGINAR É SER UM DEUS.

Inominável Ser
UM DEUS


Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores! 

Em instantes preciosos do uso das nossas imaginações, vemos um mundo fantástico diante de nós. Um mundo de bons. Um mundo de maus. Um mundo de regras morais. Um mundo de trangressões destas mesmas regras morais. Um mundo de sensibilidades várias. Um mundo de insensibilidades várias. Muitos, nesse mundo imaginado, sempre acabam em finais felizes todas as suas histórias, com o príncipe encantado ou com a bela adormecida acordada nos braços. Outros, nesse mundo imaginado, sempre acabam vítimas dos lobos maus e das bruxas más que rondam todas as histórias imaginadas. Perfeito equilíbrio, definição clássica, definição suprema, definição absoluta, entre Bem E Mal, Razão E Loucura, Céu E Inferno, Deus E Diabo, Deuses E Demônios. Deuses... Deuses... Deuses... Nesse mundo imaginário Deuses são os heróis, os superpoderosos, os dotados de capacidades a mais para as vitórias diante de todos os seus inimigos, de maneiras geralmente isentas do uso excessivo da violência. Heróis, Deuses, os heróis enfrentando a todos os vilões, que encarnam os lobos maus e as bruxas más. Os heróis, aqueles que sempre acabam em finais felizes, sendo os príncipes encantados e as belas adormecidas acordadas imaginados. Os heróis, que na infância dos mais velhos eram assim vistos: como DEUSES. Os heróis, que hoje, na era dos Comics pós-Cavaleiro Das Trevas, são vistos pelos mais novos como qualquer sujeito ou sujeita que possa ser encontrável na beira de qualquer esquina...

Sou da antiga, trinta anos de idade, mas não um retrógrado. Aqui delineado está um fato puro que ocorre desde o lançamento de O Cavaleiro Das Trevas, de Frank Miller, nos anos 80, um divisor de águas do mundo dos Comics. Nem estou, obviamente, a tentar rebaixar a obra de Miller a uma condição de destruidora do idealismo dos heróis, de aniquiladora total da magia de todos os heróis. A pureza heróica, no entanto, transformada foi pelos anti-heróis, e passamos a ver os superpoderosos dos Comics apenas como sujeitos na linha nada definidora de uma maneira fácil entre Bem e Mal. O "Bem", o "Mal", o "certo", o "errado", deixaram de ser caminhos fáceis para a delineação dos sentidos de todas as batalhas travadas entre heróis e vilões. Os populares "heróis que matam", como Wolverine, The Punisher, The Darkness, John Constantine (que, ainda por cima, é trapaceiro, beberrão, canalha, patife, calhorda...) tomaram conta do cenário dos Comics e assumiram o lugar dos heróis que realmente SÃO heróis, sem essa indefinição clara entre heróis e anti-heróis hoje corrente e bastante explorada, de formas boas e ruins. Até gosto dos "heróis que matam", mas tenho saudade da época na qual eles, para mim, eram HERÓIS, e, portanto, DEUSES, enfrentando e derrotando a todos os vilões, sem crises de consciência, sem descaminhos que os guiassem à pura e cega violência, tendo, enfim, objetivos claros de servirem ao Bem, simplesmente. Parece um discurso simplório, antiquado, mas, para muitos, como eu, que cresceram vendo-os ainda como Deuses, acima dos homens comuns, tal discurso é infinitamente legítimo.

Gosto dos anti-heróis e tenho John Constantine como o meu anti-herói preferido, com o qual me identifico em muitos aspectos, totalmente. Porém, os heróis antigos, de minha infância, povoam as minhas lembranças de horas e horas lendo gibis e mais gibis... Ao me deparar com a obra de Alex Ross, veio-me, como um impacto possante, a certeza de que ele, revolucionando os Comics com a sua Arte, reavivou a Chama Antiga Dos Heróis, vistos antigamente como Deuses por crianças e adultos. E os vilões sendo o que são: vilões. Em O Reino Do Amanhã, Ross deu-nos uma visão da existência dos heróis na vida real, definidos como anti-heróis, cujas batalhas contra os seus inimigos causavam milhares de mortes em redor. Foi uma idéia da impossibilidade da existência deles em nosso mundo real; mas, afinal de contas, para nós, os fãs dos Comics, verdadeiros fãs, inatos, até, eu diria, há essa separação entre mundo real e mundo imaginário estando em contato com o mundo das histórias que desde crianças pequenas são lidas?

(...) Os entes humanos, no passado como no presente, sempre indagaram se existe uma coisa transcendental, muito mais real que a existência de todos os dias, com sua tediosa rotina, sua violência, seus desesperos e tristezas. Mas, não conseguindo achá-la, começaram a adorar um símbolo, atribuindo-lhe enorme significado.
Para descobrirmos se existe alguma coisa verdadeira e sagrada (emprego esta palavra com uma alguma hesitação) devemos procurar, não uma coisa conhecida pelo desejo e a esperança, pelo medo e a ansiedade, não uma coisa dependente do ambiente, da cultura e da educação - porém algo que o pensamento jamais atingiu, algo que seja total e inauditamente novo. Talvez possamos nesta manhã aplicar algum tempo em investigar esse assunto, tentando descobrir se existe essa imensidade, esse êxtase, essa vida inextinguível; se não fizer esse descobrimento, por mais virtuosa, por mais regrada, por mais "não violenta" que seja a pessoa, a vida, em si, pouco significará. A religião - no sentido em que estamos empregando a palavra, o qual não compreende nenhuma espécie de medo ou crença - é a força que conduz a uma vida sem fragmentação. Se vamos investigar esta questão, não só devemos estar livres de toda crença, mas também perceber claramente o caráter deformador de toda espécie de esforço, de direção e finalidade. Vede quanto isso é importante; se estais verdadeiramente interessados nesta matéria, muito importa compreender que qualquer espécie de esforça deforma a percepção direta; e, também, que toda forma de repressão, toda forma de diretiva oriunda de escolha, de propósitos fixos, criados por nossos próprios desejos, igualmente deformam a percepção direta. Tudo isso torna a mente incapaz de ver as coisas como são.(...)

Jiddu Krishnamurti
in: A Questão Do Impossível, pags. 69/71

Todos os fãs de Comics são os heróis e vilões que eles lêem, sem fragmentações, sem alucinações, sem as culpas e os atavismos que prendem a uma separatividade entre o mundo real e o mundo imaginário. Todos os fãs? Podem haver exceções, objetivamente claro devemos pensar em termos de diferenças e opiniões ao procurarmos analisar a fascinação de crianças e adultos pelos Comics. Alguns vêem como hobby, outros como terapia e outros mais como VIDA. Vejo os Comics das três maneiras em uma apenas, pois não devemos separar o prazer do auto-tratamento das neuroses íntimas e do VIVER COMPLETAMENTE um mundo fantástico em nossos espíritos. Espírito aqui falo como a faculdade de expressividade interna que possuimos e carregamos; no entanto, também pode ser O ESPÍRITO, imaterialmente considerado como aquilo que move nosso corpo físico em todas as direções. Das duas formas de tratarmos assim o mesmo termo, Espírito, podemos concluir que muitos podem buscar nos Comics O TRANSCENDENTAL.

Será que eu estou delirando?

"SERÁ QUE O INOMINÁVEL SER ESTÁ DELIRANDO?", devem estar se perguntando.

Não, O Delírio passa agora bem longe de mim. Estou adentrando analiticamente no sabor e no ardor das estruturas constitutivas dos Comics e dos efeitos dessas estruturas nos amantes eternos deles. Sempre vi, tenho e preciso citar-me como exemplo, já que neste texto defendo as minhas idéias, as idéias acerca da minha teoria com relação ao trabalho de Alex Ross, os heróis e os vilões como Deuses. Há, em nosso "mundo real" a crença na fantasia do "Bem" e do "Mal", como se as fragmentações advindas desta divisão viessem a definir a Realidade; há, no "mundo imaginário", melhor definidos do que em "nosso mundo" O BEM E O MAL, nada havendo de fragmentações, relativismos, nem outros ismos a mais na corrente das visões e chegadas a definição dos dois Princípios. No mundo da fantasia, Bem e Mal estão melhor definidos do que em noso mundo de realidades violentas, caóticas e minorizantes presentes todas na Realidade Humana. Nos Comics, podemos saber que o Superman É bom e que Lex Luthor é mau; que o Wolverine é um anti-herói e que a Viúva Negra, hoje heroína, já foi uma vilã; podemos saber, aqui nesta Realidade, se o político que sobe em palanques, faz promessas, chora, diz "que luta pelo povo", pode ser realmente um homem bom? Elevando agora esta condução de análise a níveis mais polêmicos: podemos dizer que o Deus Único moldado pelo Homem, que proporcionou a geração de religiões e de diversos tipos de ateismos, massacrando os Verdadeiros Princípios Diretores Da Criação, Os Deuses Antigos, e seus cultuadores, fragmentando a Humanidade em conflitivas visões acerca de sua existência ao invés de respeitar-se toda a diferença em prol da evolução existencial que seria proporcionada por um sentido de Unidade, é bom? Não seria exatamente o contrário, em vista do que hoje a Terra é, DEUS É MAU?

Viram as complicações trazidas pelo pensamento aqui exposto? Viram que os Comics apenas não são produtos consumidos vorazmente por bilhões de leitores pelo mundo? Viram que aqui, neste mundo, somos mais feitos de anti-heróis e vilões do que de VERDADEIROS HERÓIS? São VERDADEIROS HERÓIS os policiais, que hoje são mais bandidos do que protetores da lei e da ordem? São VERDADEIROS HERÓIS os professores, que com métodos arcaicos e nada evolucionários ensinam os seus alunos a seguirem apenas o mesmo do mesmo do mesmo que eles seguem há anos, ou seja, uma Educação falida e fadada à extinção, que não permite a concepção de geradores de conhecimento, mas apenas a continuidade de mais e mais decoradores dos mesmos textos de sempre?

QUEM SÃO OS VERDADEIROS HERÓIS NESTE NOSSO MUNDO?

EU?

VOCÊ?

NINGUÉM?

Agora pergunto-lhes:

AO LER UMA HISTÓRIA EM QUADRINHOS (AOS QUADRADINHOS EM PORTUGAL) VOCÊ ESPERA ENCONTRAR OS MESMOS SERES DE SEU MUNDO DOENTE E DECADENTE OU SERES ACIMA DE SEU MUNDO, QUE SABEM EXATAMENTE O QUE QUEREM E O QUE NÃO QUEREM MELHOR DO QUE OS QUE NESTE MUNDO MESMO VIVEM E SOBREVIVEM, MELHOR DO EU, MELHOR DO QUE VOCÊ?

A resposta é toda vossa e, com ela, está A Verdade Dos Comics.

(...) Os nossos antepassados sentiam-se insatisfeitos com a pobreza dos acontecimentos da sua vida cotidiana. Ignoravam o verdadeiro alcance de certos fenômenos naturais tais como relâmpagos, trovões e tempestades; nesses momentos, sentiam-se inseguros e medrosos, medo da morte, da fome, da doença, da imensidade do cosmos, do desconhecido e da solidão.(...)

(...) Como pais terrenos, eles próprios constataram sua insignificância e aperceberam-se da sua insuficiência; por isto, deviam prosseguir a busca por algo grandioso, vigoroso, firme e seguro e que não podiam encontrar no seu íntimo. Permanecia latente o anseio pela imortalidade, pelo infinito, pelo eterno... Urgia descobrir outros mundos, outras mentes e outras façanhas excepcionais.(...)

in: Mitologia Universal
pag. 3

Alex Ross, ao desenvolver os seus personagens, sabe muito bem o que dedicar a esse mundo fantástico onde os arbítrios são, significativamente, moldados por uma mitologia rica, produtora de mais e mais elementos às histórias. Ele é um gênio distante das fragmentações ditas acima e baseia todas as concepções de sua Arte no MITO. Analisem mais profundamente as imagens que ele produz, que ele desenvolve, nas quais seu Espírito se transfere para todos os personagens. Analisem e sintam na expressão do rosto de cada personagem algo que nós, humanos, não somos, mas sonhamos ser: DEUSES. Se um dia, no passado, fomos Deuses, ou quase Deuses, disto já esquecemos. Ross vê tanto os heróis, os vilões e os anti-heróis como mitos, Seres Perfeitos através do Mito, Seres Integrados Em Seu Todo Ao Poder Do Mito. Deuses Do Bem, Deuses Do Mal, Anti-Heróis Entre O Bem E O Mal (tendendo muitas vezes mais para este do que para o primeiro). Bem, Mal, definidos, como nas clássicas histórias antigas, aquelas que muitos adultos, como eu, cresceram lendo. Bem, Mal, confronto eterno onde os heróis e os vilões, Deuses em seus próprios Caminhos específicos, se digladiam. Bem, Mal, Batalha De Deuses, Deuses Que Não Somos. Bem, Mal, A Essência Verdadeira De Uma Verdadeira Obra Dos Comics.

O que há além ao visualizarmos as faces dos personagens retratados por Ross além da percepção que eles são tratados como Deuses?

O que, também, abaixo?

Heróis e vilões ilustrados por Ross se parecem com qualquer sujeito ou sujeita de qualquer esquina?

Heróis e vilões, ao talento de Ross, são como nós?

Em Marvels, foi apresentada a visão dos heróis e dos vilões, até dos anti-heróis, pelos seres humanos. Se lermos mais a fundo a essência dessa obra, se analisarmos cada desenho, veremos que são Deuses os vistos pelos seres humanos, são Deuses os superpoderosos ou os isentos de poderes que caminham nos ditames da eterna batalha travada nos Comics entre O Bem e O Mal. Em Tio Sam, este personagem é um mendigo, uma representação caída dos Estados Unidos, vagando pelas ruas, relembrando todos os crimes e erros da pátria que representa a nível espiritual. Mesmo caído, Tio Sam é um Deus, um Deus Caído, que, ao final da história, defronta-se com o seu Outro Eu, um monstro de si mesmo, o Outro Lado do Deus que ele É.

Os vilões, no entanto, não podem ser considerados Demônios a serem combatidos pelos Deuses?

Sim, vilões são Demônios para o senso comum e Deuses para o senso incomum do Mito trabalhado por Ross. Todos encarnam O Mal em sua Pureza, basta centralizar-se nas expressões de seus rostos, na frieza cruel infinita de seus olhares, no posicionamento agressivo de seus corpos. Eles são Demônios, mas são, muito mais, é verdade, Deuses, Deuses Do Mal.

E os anti-heróis, na visão de Ross?

Deuses, Demônios, tudo, nada, transitando entre os Caminhos Do Bem e os Caminhos Do Mal, não estabelecendo uma fixidez rígida em nenhum dos dois Caminhos.

Mas, essa visão aqui tratada já não é conhecida?

Toda esta teoria se baseia também no que os verdadeiros fãs de Comics acreditam:

OS HERÓIS SEMPRE DERROTANDO OS VILÕES E TANTO HERÓIS E VILÕES ACIMA DOS SERES HUMANOS DO MUNDO REAL

Ross é um revolucionário, que conseguiu reacender, trabalhando com O Mito, a antiga beleza dos Comics, aquela que eu e muitos pelo mundo viram à medida que cresciam.

Alex Ross não é Rob Liefeld.

Alex Ross é quase um Deus.

Ou, guiando-me agora para A Busca Do Transcendental, através do Império Da Imaginação, digo:

ALEX ROSS É UM DEUS.

Se você não usa A Imaginação, crê apenas no Concreto Próximo Palpável, acha que Comics é coisa de criança, acha que Comics é sub-literatura, acha que Comics é lixo, este texto nada tem a dizer-lhe.

Já para os amantes eternos dos Comics, ele pode dizer algo.

Aqui, neste mundo, tudo para mim é preto e branco e cinza e vermelho, não considero Bem e nem Mal, apenas Ser.

No mundo dos Comics clássico, o mundo é preto e branco.

Vale muito a pena ver que, pelo menos no mundo dos Comics, os representantes dos canalhas que neste mundo nos atormentam e aterrorizam com todos os tipos possíveis e imagináveis de violência, levam a pior.

Faz-me bem toda vez que Lex Luthor, Coringa, Dentes-de-Sabre, O Clube Do Inferno e qualquer canalha, solitário ou acompanhado de outros canalhas, tem os seus planos arruinados pelos heróis ou pelos anti-heróis.

Nos Comics clássicos, pelo menos, os vilões não se dão bem.

Saudações Inomináveis a todos, Realistas Leitores! 


BIBLIOGRAFIA

Krishnamurti, Jiddu. A Questão Do Impossível (The Impossible Question). Tradução de Hugo Veloso; 1ª Edição, Instituição Cultural Krishnamurti, Rio de Janeiro, 1975.

Mitologia Universal (Mitologia Universal). Tradução e adaptação por Gedião Vargas da Silva e Maria Pereira de Melo; 1ª Edição, Editora Século Futuro Ltda, Rio de Janeiro, 1988.

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Inomináveis Saudações, leitoras & leitores virtuais! 

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