Moro, Lula e demais explicações e comentários



Confesso que faz um certo tempo que tento entender o comportamento de quem se diz favorável ao atual Governo (tanto Estadual quanto Federal). Faz algum tempo também que tenho tomado a atitude errada quando indago o cidadão (a cidadã) que apoia legendas como PSL, PP e PSDB. Parto para a ironia, para a conclusão que me resta na análise, para o sarcasmo. E por quê? Pois faz algum tempo que tento dialogar (pessoalmente) com pessoas favoráveis e elas costumam levantar o tom da voz, ignorar argumentações ou simplesmente partem para aquela baboseira de discurso Anti-PT; sim, baboseira - o sujeito abraça uma causa por excluir outra. Troço atípico.


Alguns de meus familiares e amigos vivem em meios sociais bem conflituosos. Trabalham em instituições policiais e militares. Se habituaram com instituições religiosas (evangélicos e católicos, em sua maioria). E, eu que sou de fora (bem de fora, que fique claro), conversando com as partes, vejo que o falatório é o mesmo. Até entre parentes que não se falam. O discurso é idêntico. Idêntico! Não é de causar surpresa, na medida em que nossos comportamentos são modificados de acordo com as contingências recorrentes. Ou seja, ainda que alteremos nosso ambiente ao nos comportarmos (algo ocorre no meio quando uma ação é realizada), nosso próprio comportamento é resultado de um processo de seleção por consequências (bem como os processos culturais passam por seleção e variação) provenientes de diversas relações ambientais¹. Assim, todo e qualquer comportamento pode ser compreendido e controlado - mesmo que seja complexo.

Enfim, esse rodeio todo para entrar no tema, ou tentar entrar no tema. Fato é que, sabendo que todo comportamento tem uma relação funcional com um histórico de vida que o produziu, eu deveria mudar a forma de dialogar com pessoas que defendem "ideais" bem diferentes dos que defendo. Recentemente fiz um post - aqui no blog - ironizando o tal do Moro. Era um post irônico, que forçava a comicidade e era pautado em uma reflexão não-argumentativa, ou seja, seu único objetivo era caçoar pelo singelo pensamento que me vinha. Tinha uma opinião política como pano de fundo? Evidente. Acabei excluindo o post, pois não me pareceu producente. E eu fui o único que ri, pelo visto. Os demais se morderam com um breve comentário. Pois estou refazendo o post, com outro semblante. Um reflexivo, por assim dizer. Peço desculpas se o anterior feriu alguém. Esse também vai ferir. Esse, pelo contrário, buscará destrinchar, em parte (pois sou preguiçoso para escrever) meus pensamentos.

Para ser didático, meus pensamentos se aproximam aos ideais propostos pelo anarco-comunismo e, conjuntamente, aos de uma sociedade experimental (tal como em Walden II, ou, buscando modelos que funcionam atualmente, a comunidade Los Horcones, e, principalmente, a comunidade Twin Oaks ²). Na parte da moral, não me alinho ao anarquismo, principalmente nas relações sobre o individualismo e liberdade, pois não acredito em liberdade, é apenas uma produção cultural (um produto na prateleira). Bem, apenas descrevo isso para que possam compreender minha linha de discurso.

O que isso tem de relação com o post do Moro, aquele que apaguei? Bem, pensando agora no que tem sido publicado na mídia independente, me parecem claro duas questões. A primeira é que foi feito um paredão para que Lula não se candidatasse como presidente da república e algumas figuras são centrais nesse conto. A segunda é que há graves problemas de práticas culturais nas instituições governamentais ou delas associadas (MP, etc).

Qualquer pessoa consegue compreender que o discurso de "hackeamento", de que há um "grupo criminoso" que conseguiram obter dados "que podem ter sido adulterados", é apenas uma forma de mudar os rumos dos diálogos e do que será, eventualmente, publicado na mídia ou não. Você não precisa ser contra o atual Governo para compreender isso. Não conheço, na história do Universo, um "hacker" tão ignorante que envie mensagens de intimidação como "aqui é o hacker". Isso, claro, é cortina de fumaça. Os acusados (Moro, Deltan, etc) se articulam como podem para evitar avanços investigativos. Criam um espantalho, colocam nele o que podem (termos como "crime", "Rússia", costumam colar bem), e batem no espantalho até que a população acredite nele. Fazendo uma analogia. Os filhos do presidente atual e o próprio presidente, são figuras especializadas nisso. Não saindo as coisas como querem, inventam o espantalho e o acusam.

Nesse ponto, algumas questões me parecem interessante:

1 - Há maior interesse em acusar quem teve os dados e os diálogos do que de verificar a veracidade desses dados. Sim. É bem curioso que o Sérgio Moro e todos os membros dos grupos do Telegram que foram denunciados não tenham entregado seu celulares e contas para análise (um apagou; outro finge demência). Deltan mesmo, por enquanto, não entregou seu aparelho para perícia. Qual o problema nisso? Poderia ser dito "ah, mas ele não tem que provar nada, quem tem que provar é quem acusa". Não parece tão interessante que a mídia independente necessite entregar sua fonte; não mesmo. Whistleblowers são indispensáveis para o bom andamento cultural e; se Sérgio Moro e os demais participantes desse conluio, acreditam em suas verdades, por que insistem na ilegalidade do fato? Por quê, repetem mantras contra o jornalismo independente?

2 - Olha que cena de filme: um sujeito X julga o sujeito W que concorre para um cargo e compete com o sujeito Y para a posse. O sujeito W é condenado por X. O sujeito X, após parte do longa-metragem, sobe de cargo e passa a ser o escudeiro fiel de Y; durante a disputa do cargo, Y diz que se ganhar, o sujeito X, idolatrado pelo público, iria fazer parte de seu governo. Ok! Após, se descobre que o sujeito X articulou a prisão de W, o que favoreceu que o sujeito Y ganhasse o cargo. Talvez sirva para a continuidade de uma série da Netflix (uma segunda temporada...).

3 - Quanto a dizer que todo conteúdo das mensagens são legais e que não há nada de preocupante ali, isso sim me causa espanto. No post anterior, um rapaz tinha dito que é comum essas comunicações entre participantes do contexto jurídico. Não sou um completo leigo no assunto, conforme lhe respondi. Mas não sou especialista. Costumo ter conhecimento das leis, por motivação de compreender as variáveis culturais mesmo (e, nos escritos e leis, há um aspecto muito precioso para a análise), mas não sou especialista. Contudo, no caso específico do ex-presidenciável Lula, por ser um caso bem particular da história do País, não mereceria ainda mais distância equitativa entre as partes? Volto a dizer. E se fosse a defesa de Lula que tivesse trocado mensagens parecidas com Moro? Imagine Moro falando para o advogado de Lula "ô, provavelmente a parte contrária vai tentar dizer que o Triplex tem relação com a Petrobras; usa aquela prova lá, aquela testemunha, que dá certo". PQP! A mídia ia comer o toba de todos os envolvidos. Ia chamar de escândalo! Qualquer verso entre eles seria o suficiente para produzir notícia o mês todo. E não estou tentando, pelo avesso, forçar a prova do crime. Não. Mesmo despindo alguns comentários do Intercept e indo direto aos diálogos obtidos, há muito crime ali. Há falta de ética. Há conluio. Por ser um caso histórico, o Juiz, como já lhe obriga a profissão, devia estar imparcial; devia silenciar fora dos autos. E, sendo exposto, como está sendo agora, deveria recuar, e pedir uma licença temporária para não comprometer a perícia do caso. Pois, mesmo que esteja certo, as aparições do Moro na mídia para criticar um suposto sensacionalismo são feitas como? Com muito! Muito! sensacionalismo! Que prova ele tem para acusar um jornal de fazer parceria com hackers pretensiosos que querem acabar com a Lava jato? Era melhor silenciar que se antecipar tanto assim.

(Um adendo. A melhor parte da participação do Moro no Senado foi quando o Jorge Kajuru disse que ele sim já fez jornalismo investigativo e que, o Jornal Intercept deveria se chamar intercéfalo (possível tentativa de piada com acéfalo). Disse que ele sim recebeu prêmio de melhor jornalista investigativo, e que Glenn Greenwald é uma farsa. Cara! Eu ri muito desse comentário dele. O Kajuru não tem vergonha na cara de dizer que o "jornalismo" dele é investigativo. É uma verdadeira piada nacional - juro que precisava compartilhar isso com alguém - voltemos ao texto).

4 - Supondo ser comum essa relação do Juiz com as partes, como alertou um companheiro aqui no blog, no meu post anterior, o que me preocupa vai além desse caso em específico. Há uma promiscuidade levada como normal. Uma prática cultural absurdamente prejudicial ao andamento da aplicação da lei. Pois se a função do Juiz é programar consequências ao acusado e para a defesa, sem tomar parte de um lado ou de outro, eu deveria mesmo levar como normal uma prática de aconselhamento do Juiz para uma das partes, por exemplo? Eu deveria achar normal que o Juiz indicasse testemunha? Deveria achar normal que um Juiz indique se gostou ou não do posicionamento do MP em um caso ou outro? E, tudo isso, fora dos autos? Não, eu não deveria. E não deveria ainda mais no caso do Lula e outros da Lava Jato.

5 - Faz um certo tempo que a Lava Jato deixou de ser apenas algo investigativo e de medidas necessárias e se tornou, quase exclusivamente, como uma força política e popular. Pelos seus objetivos (que entram em conflito com objetivos individuais, de seus membros) serem bem aceitos, não houvera uma delimitação do que é plausível e do que não é. Afinal, quantos membros da Lava Jato (ou de forças com poder de polícia) conseguiram se candidatar e vencer eleições? E para além dos membros, quantos partidos usaram a Lava Jato como trampolim político? Eu vejo, no Senado, Renan Calheiros elogiando Moro e Moro agradecendo Renan Calheiros. É pra foder mesmo!

E agora, quanto a figura do Sérgio Moro, no post anterior comentei que ele podia ser por demais competente na área dele (com seus abusos bem camuflados), mas que era um péssimo argumentador, um sujeito que não sabe explicar seus próprios comportamentos e, pouco explicativo. Se sua aceitação popular dependesse de suas palestras e poder de didática, certamente não seria bem visto. Contudo, devo dizer que, assistindo a exposição que ele fez no Senado, Moro melhorou bem na sua apresentação verbal. Sabe se esquivar sem sangrar, aprendeu a desferir golpes sem mover os músculos. Está até competente na área de explicação e retórica, se comparado a ele próprio alguns meses atrás. Talvez fosse o lugar, perto de senadores, tenha se sentido a vontade, bem com o local.

Emitindo parecer pessoal, não me considero petista. Meus ideais partidários ficam mais próximos do PSOL e do PCB, esse último principalmente. Mas, devo dizer que sou favorável sim a liberdade provisória de Lula e, ainda mais a favor de uma nova apreciação do caso e das "provas". Confesso que li quase totalmente o processo contra o ex-presidenciável e, ao meu ver, antes de me pautar no meu viés político, são poucas as provas ali presentes. Claro que sou leigo no assunto, mas tentei entender.

Esperarei, antes de tirar conclusões de todo o caso, as novas divulgações dos diálogos entre os responsáveis já citados.

Quero, antes de encerrar, propor o debate saudável e construtivo. Conforme comentei, gostaria de entender os motivos (argumentativos, se possíveis) de quem se diz favorável ou não aos comentários aqui traçados. Ou mesmo compreender algumas explicações sobre Moro, Lula, etc etc etc, que esses textos costumam proporcionar. Ou ainda, se alguém se sentir a vontade, explicar algum motivo para ser favorável ao atual governo e suas medidas (não a favor da pessoa X ou Y, que isso não muda em nada minha compreensão). Ou ainda, mais ainda, favorável a reforma da previdência, que o rico fique mais rico, mudanças trabalhistas, e tantos outros pontos em discussão.

Agradeço a leitura.
Coloquei a bandeira do PCB só para incomodar mesmo.





¹ Artigo sobre seleção por consequências do comportamento (SKINNER)

² Site em inglês da comunidade Twin Oaks - vale mesmo ler


(Esse texto foi feito pelo escritor do Blog P-O-E-S-I-A, e não se refere a opiniões de quem mantêm o blog Ozymandias como um todo. Ok?)

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