Os Novos Dinossauros: Uma Evolução Alternativa




[Texto da tag “Escritor Convidado”, escrito por: RiptorBR, originalmente publicado em: https://disqus.com/home/discussion/channel-familiamarvel/resenha_os_novos_dinossauros_uma_evolucao_alternativa/]

Você já se perguntou porque dinossauros fascinam tanto as pessoas? Essas criaturas podem ter sido extintas a milhares de anos antes de qualquer indivíduo humano existir, mas continuam vivas no imaginário popular, e a prova disso é como eles se espalharam em todo tipo de mídia: cinema (desde a época em preto & branco e em stop-motion,vide o King Kong original) e chegando à Jurassic Park, animações (vide o segmento "The Rite of Spring" de Fantasia a Em Busca do Vale Encantado),games (vide Cadillacs and Dinosaurs, Dino Crisis, Turok, Jurassic Park: Operation Genesis & Dino Run),séries (como Primeval: https://ozymandiasrealista.blogspot.com/2019/01/primeval-portais-britanicos-e-estragos.html ) e indo até mesmo ao segmento dos animes,vide Dinossauro Rei,sem contar claro documentários e,no caso de hoje, livros.


Mas,e se a ordem natural das coisas tivesse ocorrido de forma diferente? Porque não imaginar os rumos de algo que muito provavelmente seria imprevisível de saber? Bom, é aquilo que já foi dito por aqui: você pode errar,mas no fundo,quem sabe isso não pudesse ser uma possibilidade?


E foi com isso em mente que Dougal Dixon (basicamente o "pai" da zoologia especulativa ) fez,em 1988, um quase que "sucessor espiritual" de sua obra primordial que foi After Man, ao criar The New Dinosaurs: An Alternative Evolution (Os Novos Dinossauros: Uma Evolução Alternativa,em tradução livre). E assim como seu antecessor,essa obra de Dixon elaborou também todo um mundo imaginário que tenta,ao menos,seguir certa veracidade científica,mas sem nunca subjugar a criatividade e o fantástico de uma racionalidade fechada que é a mente do geólogo/paleontólogo escocês. E o resultado meus amigos,é uma grata surpresa (de novo).

Obs: se você não sabe o que é zoologia especulativa e todas essas coisas citadas até agora,recomendo ver a resenha anterior,para assim ainda entender como essa análise será feita,visto que seguirá os mesmos moldes:
https://disqus.com/home/discussion/channel-familiamarvel/resenha_depois_do_homem_uma_zoologia_do_futuro/

Bom, como deve imaginar (visto a resenha anterior) o conceito do livro é simples. Na verdade, eu diria até mais simples que o anterior,mas nem por isso menos interessante: e se a famigerada grande extinção do fim do período Cretáceo que ocorreu há 65 milhões de anos (cuja causa,súbita ou gradual,ainda é controversa) simplesmente não tivesse acontecido? E se o suposto meteorito que causou isso não tivesse caído?


Com isso em mente,aqui o plâncton e as algas marinhas foram capazes de se adaptar as mudanças na temperatura da água,e de mesmo modo,os animais terrestres resistiram às doenças e parasitas,onde a vida que se desenvolveu ali ao longo dos 150 milhões de anos da Era Mesozoica continuou a evoluir,pelo menos,por mais 65 milhões de anos sem interrupções.

Mas isso não quer dizer que a Terra esteja tão diferente, de um certo ponto de vista: isso porque Dixon não foge da lógica,e com isso o mundo dos novos dinossauros tem uma configuração dos continentes e de zonas climáticas igual a nossa que conhecemos hoje,onde cada continente tem seu conjunto próprio de vida selvagem,que são completamente diferentes das dos períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo,ainda que todos eles tenham evoluído a partir de uma mesma linhagem de réptil. Ou seja,não espere ver um T-Rex ou um Triceratops aqui por exemplo,pois independentemente de meteoro ou não,eles já não existem mais (ao menos não do jeito que você conhece).

E claro,os dinossauros que existiriam hoje seriam bastante diferente daqueles que predominaram durante a era Mesozoica,que foi uma época predominantemente quente,enquanto que a nossa é bem variável dependendo do local.

Assim,a evolução produziu delirantes,porém plausíveis, dinos com cobertura de pelos,penugens e bicos de aves,além de designs simiescos,e de "girafas e zebras reptilianas",onde por mais bizarro que seja,lembrem-se: na natureza,quando um formato evolutivo funciona,isso não impede uma criatura completamente diferente da outra evoluir e possuir isso. Um bom exemplo são os chifres,onde não é porque os Triceratops tiveram,que os rinocerontes não poderiam ter.


Mas Dixon também aborda outro segmento comumente ignorado as vezes por certas pessoas: a questão da inteligência. O escritor não acha plausível a possibilidade dos dinossauros desenvolverem um raciocínio lógico e intuitivo que associamos a nós,onde assim fica descartado aqui qualquer chance de aparecem os (sem sentido) dinossauros antropomórficos ou répteis humanoides.
Ainda sim,eles estão longe de serem burros (eles seriam animais bem mais espertos,com técnicas de caça cada vez mais sofisticadas e eficientes),além de habilidades cooperativas,algo como os raptores de Jurassic Park mesmo,especialmente nos moldes daqueles de Jurassic World. Dixon pode até não ter sido o primeiro,mas sem dúvidas foi um dos no sentido de não tratar essas criaturas como seres ignorantes,fugindo assim do pensamento tolo de que "eles são burros" porque eles simplesmente não evoluíram para algo parecido com um humano,que hoje sem sua tecnologia,seria um ser facilmente exterminado por qualquer coisa de seu ambiente. Além do mais, 1/3 do tempo de existência deles já é maior que todo o tempo de existência humana.

Falando de novo da parte geográfica,New Dinosaurs tem seis "reinos". Sim,ainda estamos falando da Terra que você conhece,mas obviamente ela não tem os continentes com os nomes que você está familiarizado,onde assim temos no lugar o
Neoártico (que corresponderia a América do Norte),o Paleoártico (que seria a Europa e a Rússia asiática),o Neotropical (que seria a América Central e a do Sul),o Ethiópico (que seria a África),o Oriental (que seria o Oriente Médio,Índia e o sudeste asiático) e o Australasiano que seria a Oceania e as ilhas do Pacífico.


E com tudo isso dito,obviamente há uma série de regras que acabaram definindo os tipos de animais que podem viver em um lugar específico e não em outro desse mundo jurássico moderno: o fator mais óbvio que determina a vida animal de uma determinada área é claro o ambiente dessa área - o clima,o terreno,as plantas que crescem lá,outros animais que ali existem..na verdade,tudo o que contribui é o ambiente e habitat.
Com isso,o livro destaca bem essas diferenças,onde de cara,imediatamente vemos que um animal que vive em um ambiente de montanha é particularmente bem adaptado para viver em um ambiente de montanha,e não vai sobreviver por muito tempo se for introduzido na região do pântano -e vice-versa.


Fora isso,o agrupamento dos animais aqui é feito de acordo com suas relações evolutivas,e não de acordo com os ambientes em que vivem,onde cada reino zoogeográfico irá conter uma coleção de animais que é peculiar a si mesmo e que evoluiu relativamente independente do conjunto de animais de outra esfera.
Essas fronteiras entre as esferas podem ser bem marcadas,como por oceanos,ou podem ser bastante nebulosas,com vários tipos de animais capazes de atravessar a partir de um para o outro,onde a existência dos reinos é efetuada pelas barreiras naturais à migração que surgem por causa da geografia física,onde assim,uma cordilheira ou um deserto podem dividir um conjunto de animais.
Mas assim como em After Man, nada disso poderia ser imaginado corretamente se não fosse pelas Ilustrações que acompanham o leitor ao longo das 120 páginas do livro,que assim como no anterior,são ótimas,e estando sempre acompanhadas de descrições imaginativas de morfologia, reprodução, alimentação, comportamento e hábitos de nidificação desses dinossauros que estão tão próximas do estilo de manuais,que por vezes você pode esquecer que se trata de um livro fantasioso. E parte disso se deve as soluções encontradas pelos desenhistas para visuais em certos corpos,que são bastante convincentes e engenhosas,e por vezes até divertidas de se pensar. Eu não vou dar muitos exemplos,mas destacaria o simpático "pinguim reptiliano":


E o octópode com características de anfíbio. Sim,não é necessariamente um dinossauro,mas lembrem-se: mesmo que não seja o foco,um livro assim se lembrar que obviamente existiriam outras criaturas não dinossauros é um destaque óbvio que merece um reconhecimento,já que poderia muito bem ser "ignorado" com a desculpa de não ser justamente o foco.


Falando nisso,os mamíferos (até o final do Cretáceo meras pequenas criaturas comedoras de insetos) ainda existem nesse mundo. Mas com essa não-extinção dos dinossauros,eles não tiveram oportunidade de se expandir e de se diversificar,e continuam da mesma forma neste mundo alternativo:
Mas claro,assim como em After Man,o livro não é perfeito,pois acaba sofrendo do mesmo mal do seu colega de 81: por ser meio antigo,a ciência claro evolui muito desde 88,então alguns elementos citados na obra,no caso sobre fósseis,já não valem tanto. Mas isso,de novo,obviamente não é culpa de Dixon,já que ainda hoje,há uma quantidade mais que considerável de material que ele explica aqui que ainda se mostra relevante apesar disso. E as ilustrações que hoje exalam uma nostalgia e qualidade de uma época passada são outro ponto que só aumenta os prós da obra.

Mas não pense que essa parte da resenha acabou ao poder ser descrita apenas ao pegar uma mesma frase da anterior: isso porque além de argumentos de época ainda válidos,Dixon colocou elementos no livro EM 88 que,anos depois,se mostraram verídicos de fato.
Por exemplo: muitos dos animais hipotéticos criados em Novos Dinossauros acabaram se assemelhando a criaturas mesozóicas que foram descobertas após seu lançamento,onde muitos desses seres hipotéticos estão cobertos de "tegumentos difusos" (algo,em outras palavras,como uma espécie de pelo) que nos tempos modernos foram descobertos em dinossauros da maioria dos grupos conhecidos.
E alguns dinossauros do livro que moravam em árvores,hoje se mostram semelhantes aos pequenos terópodes reais que escalavam árvores,como o Microraptor (descrito em 2000),e os grandes pterossauros terrestres (como os "Iank"),que hoje lembram alguns animais do grupo real de pterossauros chamados de Azhdarchidae.
Ou seja,mas que bem envelhecido,Novos Dinossauros se mostra hoje um livro até moderno,mais com um toque nostálgico. E esse mérito meros "erros" do tempo não podem tirar.
No fim,Novos Dinossauros segue todos os prós de After Man,e o resultado não poderia ser outro a não ser mais um ótimo livro para o cúrriculo de Dougal Dixon e que,sem dúvidas,renderia um material de adaptação interessante para outra mídia. Se você gosta do assunto de livros assim,recomendado. Gosta de dinossauros? Também. E se gosta dos 2,mais que recomendado.

Nota?
9,5



Enfim,assim como no anterior,duvido que alguém aqui conhecia esse livro,então sem perguntas do "Você Já Leu?",onde já parto novamente pro "O Que Achou do Post?" E se gostou, não se esqueça de recomendar para ajudar na divulgação.



Leia também mais textos do Riptor no blog: https://fmarvell.blogspot.com/

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