O que você mais gosta quando está jogando ou estudando xadrez?



[Texto da tag “Escritor Convidado”, escrito pelo GM Rafael Leitão, o texto é um dos vários que chegam dele semanalmente no e-mail, que podem ser assinados gratuitamente em seu site: https://rafaelleitao.com/]


Competidores dirão que é a sensação quando a vitória está próxima ou talvez a adrenalina da partida. Cientistas dirão que é a procura pela melhor jogada. Filósofos dirão que é a luta de ideias no tabuleiro. Sádicos dirão que é olhar o adversário agonizando quando a derrota é iminente. Masoquistas dirão que é o sofrimento na procura por uma jogada.

Minha resposta talvez se enquadre para os “avoados”. Eu amo o xadrez porque ele me faz esquecer do mundo.


É como uma droga (no bom sentido, por favor) que faz o tempo passar sem que eu note. Quando jogo xadrez não sinto fome nem sede. A sensação de encontrar uma ideia profunda, refutar a análise de um livro, olhar uma partida online e encontrar a mesma jogada que um top GM… essas coisas dão um prazer indescritível.

Mas para realmente sentir esse tipo de prazer, é preciso sair do básico. Quem entende de verdade de música vai desfrutar muito mais de uma bela composição do que um leigo. Quem conhece a boa literatura verá belezas em Madame Bovary que quem não gosta de ler nunca entenderá.

Qual a graça de olhar uma partida de um super torneio com o computador ligado, criticando os grandes mestres por não fazerem a “óbvia” primeira escolha da máquina? Ou jogar para “derrubar a seta” do seu adversário em uma partida online? Ou jogar o Sistema Colle a vida toda porque é mais fácil de aprender?

O xadrez é muito mais que isso. A verdadeira beleza do jogo está mais acessível para quem faz um pouco de esforço.

A Academia pode ajudar com isso. Principalmente porque ela é feita por quem ama e para quem ama o xadrez.