BEN REILLY – O ARANHA ESCARLATE #01 - #14 – O marginal com mais apelo que o titular ATUAL


"Como vai, Mandy? Já tem meus cinquenta dólares?"
Arthur Shopenhauer, em “A Arte de Escrever, entre um insulto e outro, profere o obvio – porém atemporal – fato de que um bom escritor é aquele que consegue tornar interessante o conceito mais árido, tal qual um bom cozinheiro consegue fazer um bom caldo com paupérrimos ingredientes, e essa definição sempre vem a minha mente quando penso hoje em dia em Peter David, conforme vou lendo ARANHA ESCARLATE e suas outras obras ainda melhores.

Um belo dia, enquanto eu fazia alguma das edições dos extintos Defensores, o Raito, do Spider Team, me convidou para traduzir essa série. Quando bati o olho, senti aquela repulsa “Porra, esse Reilly ainda existe?!”, mas peguei para fazer como uma forma de me ocupar. Nem me dei ao trabalho de ler o que veio antes, assumindo da #08, tentando traduzir mesmo sem saber de nada que veio antes. Em boa parte, por eu ter ignorado quase tudo do Aranha do Slott nos últimos anos (ainda mais uma Saga do Clone parte 2?!), e em outra, por ter um certo desprezo particular por Ben, sempre o achando um sujeito unidimensional, metido a ser um certinho, que não convencia tanto quanto Peter Parker: era um clone da forma mais exagerada e caricata possível, uma sombra, melhor dizendo. E inserido daquela forma que sabemos que quase nunca dá certo, ao desprezar tudo o que havia sido estabelecido, em pró de uma modernidade desesperada para ser aceita. Semelhante a Capitã Marvel no próximo filme dos Vingadores, embora isso seja assunto pra outro post...
Tá com saudades disso?!
Ao terminar a edição #10, percebi que estava começando a mudar minha perspectiva sobre o mesmo. E ao terminar a #11, notei que tinha virado minha mensal favorita do Aranha, como há anos eu não tinha desde da saída de JMS de Amazing Spider-Man #545 e da morte do Peter Parker em Ultimate Spider-Man #160. E tudo com a sua identidade própria, ao ponto de não ter mais uma dependência com quase nada de seu “original”, além de referências, e claro, engraçadas e propositais subversões. Só ao terminar de trabalhar na #14, resolvi ler as primeiras sete, e tudo ganhou uma nova imersão, a ponto de parar e escrever esse post, ao invés de jogá-las por aqui, perigando serem ignoradas.
Me descobri como um fã do Peter David, ao ponto de sair buscando ler suas outras obras, como sua passagem no Hulk (que estou na #345, em uma fase que começa na #331) e o Aquaman dos anos 90, que parei na #10. Sem falar do seu X-Factor, que está na lista. Tudo isso atraído por Ben Reilly. Nada mal, para um clone de um clone de um clone, certo?

Passagens longas e marcantes por títulos "série B" que foram revolucionados.

Na trama, Ben está fazendo de Las Vegas o seu lar, ao tempo que foge de Kaine (outra cópia cruel, pretenso a herói), enquanto faz “amizade” com a dona de um cassino ricaça, sob a pena de curar sua filha, que morre com câncer, em um caso entrelaçado as ações recentes do Escarlate. Lá, ele constrói de forma debochada “seus novos Tio Ben, Tia May, MJ”, enquanto claro, molda Vegas em sua Nova York particular, onde a primeira vista não será interrompido por outros supers. Há uma obvia “reciclagem” de “PAD” com seus escritos (produzidos em massa, vale frisar) dos últimos 30 anos, o que não tira seu mérito em trazer camadas a títulos que quase ninguém leria se não fosse sua escrita perspicaz, dada quase a “ruindade predestinada” cujas mensais assume, a começar por seus conceitos iniciais, a exemplo do X-Factor, antes dele, só mais um das dezenas de caça-níqueis tirando proveito da franquia dos mutantes.

Ben, por mais engraçado e sem noção que seja em suas atitudes, ainda consegue carregar a falha aura de um humano imperfeito lutando contra a maré em busca de melhorar o pouco que seja, sem ter os ares de “redentor” ou algo que o valha. Peter (David) constrói devagar essas nuances, mantendo o principal trunfo sua imprevisibilidade. O leitor nunca sabe quando Ben “tocará o foda-se” ou terá uma rara atitude nobre. Como uma pessoa comum, ele oscilará tal qual uma pessoa comum, algo que sua versão antiga não tinha - ao ficar sempre no modelo bonzinho didático.- O comportamento desse Aranha, lembra bastante o de John Constantine na Vertigo -ao menos em suas primeiras 200 edições-, tendo em similar com o mago, a alma condenada, independente do que se realize, e sua adição em problemas além de seu alcance, que pendem em adversários “insolúveis”.


O núcleo de demais coadjuvantes, ora antagonista, ora uma família de forma distorcida não decepciona, participando de forma tão interessante quanto o protagonista. Kaine tem sua vida autônoma, em um lar de veteranos, Cassandra Mercury seus inimigos paralelos, etc. A sacada de David, é que por mais diferentes que seja, quase todos são marginalizados, de uma forma natural como sempre fez, longe de “lacrar”, representados de forma natural, não fazendo disso um “olhem para mim”, porém simples inserções do nosso mundo moderno, Em desenhos, é mais que agradável ter Mark Bagley de volta, embora que por apenas cinco edições. Quem mais se aproxima na velocidade e dinamicidade de suas cenas, é a do português André Lima Araujó. Perto deles, o artista Will Sliney, embora muito competente, parece estático, mesmo que com o passar das páginas, fique adaptável a parte satírica do enredo.

Nota: 8.6

 #01 - #07

#08 - #14

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Até o próximo.



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