Bom dizer que esse filme é de 1998, dois anos antes de sair essa música do Alice Cooper, e quase vinte anos atrás, antes dos ocorridos de Charlottesville. Ou seja, muito tempo já passou, mas os neonazistas ainda estão por aí, tanto nos Estados Unidos quanto na Alemanha e no Brasil. A diferença é que desses três países, o único em que você não vai preso por expressar símbolos e ideias nazistas é os Estados Unidos, tá dentro da liberdade de expressão deles. Aqui (ou na Alemanha) você corre o risco de ser preso (não sei se é o mesmo risco que corre o Lula, o Aécio, o Frota e todos os outros criminosos que ficam livres, mas tá na lei). No filme temos Derek, esse grande sujeito musculoso com uma suástica estampada no peito.
O protagonista não é só um neonazista, ele é o Elvis Presley dos neonazistas, ele é o Chuck Norris. O filme já começa com ele fodendo a mina dele de frente a uma bandeira nazista em várias posições, depois vê que tem assaltantes na casa, veste a cueca, chuta a porta e sai dando headshots em todo mundo, mas em pouco tempo o careca vai preso. Nisso vem a importância do outro personagem, seu irmão mais novo, Danny.
![]() |
"Oh, Hitler, como gostaria que você estivesse aqui..." |
Ele pode não ser o Bruce Banner, mas não é burro
![]() |
Se ele virasse o Hulk quando fica com raiva, aí que as minorias tavam fodidas de vez mesmo |
Se tratando de, como eu disse, o Chuck Norris dos neonazistas, Derek não fica só falando "hail Hitler, dane-se os negros", ou coisas do tipo. Mesmo sendo um selvagem violento fazendo contraste à civilidade, ele tem uma oratória fodida, argumentando o tempo inteiro com história e atualidades o seu modo violento de ver o mundo. Os que o seguem é que são mais alienadinhos, como sua namorada e seu melhor amigo. Quero dizer, o cara que lidera o grupo tem toda uma estrutura pra ser neonazista, ele acredita naquilo por uma série de razões. Como muitas boas histórias, por exemplo, "O Poderoso Chefão" e "Breaking Bad", "A Outra História Americana" mostra como por mais monstruoso que seja, o monstro quase nunca se enxerga dessa forma, muito pelo contrário.
Danny, ainda na escola, chama a atenção do diretor por expressar suas ideias nazistas em trabalhos de classe. O diretor convencido da possibilidade de recuperação moral do aluno ("ele aprendeu essa baboseira, pode desaprender") o coloca pra um trabalho particular onde terá que dissertar sobre a prisão de seu irmão e como isso o influenciou para situação em que se encontra no presente. Assim, toda vez que o Danny está lembrando do passado há uma mudança no filtro da imagem. Aparece como mesmo dentro de casa, as pessoas da família, como sua mãe e sua irmã, se colocavam contra Derek, mas nããããão, ninguém impediria ele, ele tinha muito bem montadinho dentro da cabeça dele porque seguir os passos de Hitler era uma boa ideia.
O filme acende a luz sobre uma dúvida que eu e outros conhecidos tínhamos: DE ONDE SURGEM NEONAZISTAS?! Sabe, uma coisa que parece tão impossível de concordar, de onde BROTA gente assim? Aí é que tá, as ideias surgiram do mesmo lugar há anos atrás. Fica claro que elas não morreram com o final da Segunda Guerra.
O racismo ainda vive nos Estados Unidos? Sem dúvida.
Como ele ainda vive?!
1.Por que eu afirmei que o racismo ainda existe lá? Além da passeata racista, o Ku Klux Klan é um grupo terrorista ainda organizado e em operação, fortemente acreditando que vai melhorar o mundo queimando pessoas negras em nome de Deus.
2. Por que da minha indignação?
Em 2008 um N-E-G-R-O ganhou a presidência. Ele venceu! Meu, você pensa "o racismo está acabando nesse país". Meu, isso deixa clara a força de preservação que tem uma ideia guardada. Você nunca vai imaginar que um país que tem um negro como presidente tem pessoas organizadas planejando botar fogo em todos os negros, deixá-los passando fome, como aconteceu na assustadora Alemanha nazista. Durante todo o processo do filme a forma que esse ódio, esse racismo chegou ao Derek é mostrado, e deixa isso claro. O personagem até se recupera, mas é após acontecimentos bem específicos, antes disso ele era o robocop nazista em plena forma.
Já é sinistro o Donald Trump ter chegado a presidência, um cara que sonega impostos e, apesar de não ter feito declarações do tipo na época da candidatura, todo mundo sabe que sempre foi racista. Os racistas a gente sabe que ainda tão por aí, quietinhos a maior parte do tempo por causa da indignação que nós demonstraremos caso eles soltem uma pérola, mas aí vem a versão 2.0 do racista, o nazista. O que mais preocupa. A Alemanha nazista perdeu a Segunda Guerra Mundial. Mas até onde foi essa derrota se as ideias ainda vivem? Se até em um país que os enfrentou há simpatizantes? Se até em um país que tem nada a ver com tudo isso, como o Brasil, há simpatizantes? Isso meio que o filme não responde. Será que existe essa resposta?
![]() |
Tchururu... |
É inegável que existem esforços contra o racismo, e existem aos montes. Mas ele vive, como se rastejasse, como se fosse a água que muda de estado, mas ainda está lá. A pergunta é, como vencer o racismo? Como vencer uma ideia? O filme pode dar a resposta de onde vieram os nazistas modernos (ao menos pra mim, sanou minha dúvida, fiquei satisfeito), mas o que fazer com eles é que não ficou muito claro. O Danny é um adolescente, está em desenvolvimento, e recebe o apoio de um diretor que de forma muito específica pede para ele refletir sobre a própria vida. Funciona!
![]() |
"Ideias são à prova de balas." |