O Reino do Amanhã de Mark Waid e Alex Ross é uma das melhores histórias em quadrinhos de todos os tempos. Publicada em 1996, essa minissérie de 4 edições se trata de uma elseworld se passando em um futuro alternativo, onde Superman, tendo perdido Lois e vários de seus amigos do Planeta Diário pelas mãos do Coringa, que em seguida foi morto pelo meta-humano Mangog, e ver o público defendendo as ações do assassino, se isolou da humanidade, levando a ascensão de e super-humanos violentos e negligentes. Depois de Mangog e seu grupo de anti-heróis provocarem um incidente no Kansas, Clark decide voltar à ativa, inspirando a volta de vários heróis clássicos, para se opor a essa nova geração.
Ela é uma história bem complexa, com vários comentários sobre a ascensão em popularidade de anti-heróis em mídia na década, ao mesmo tempo que explora a relação dos super-humanos com a humanidade, abordando o efeito de suas ações na sociedade e colocando em questão quanto poder eles deveriam ter sobre aqueles que protegem. É uma desconstrução do modelo de herói que estamos acostumados, mas com o roteiro mantendo a essência que define esses personagens que conhecemos.
Com ano de 2025 preste a encerrar e dar lugar ao ano de 2026, tinha considerado fazer uma review dessa história. No entanto, visto o interesse que muitos mostraram por histórias pouco conhecidas, decidi que esse texto irá falar de uma história mais recente, mas com uma trama um pouco similar a obra de Mark Waid e Alex Ross.
Me refiro ao Vingadores Crepúsculo,
uma minissérie de 6 edições escrita por Chip Zdarsky, com os desenhos de Daniel
Acuña, em 2024.
Trama
Em futuro alternativo, aconteceu o Dia-H, um evento catastrófico onde um conflito entre os heróis e vilões concluiu com muitos danos colaterais e perdas, incluindo o Homem de Ferro e sua esposa Janet Van Dyne, a Vespa. Com o público tendo perdido confiança neles, os Vingadores que sobreviveram seguiram seus caminhos.
Anos depois, um velho e
aposentado Steve Rogers vive numa sociedade que se reconstruiu, com a ajuda das
empresas Stark (agora sob controle do filho de Tony, James Stark), numa utopia,
com novos vingadores, agora um grupo de agentes do governo, agindo no exterior.
Apesar ter uma vida tranquila,
com sua esposa Rose e um mundo que parece não precisar mais de super heróis de
sua geração, Steve não consegue deixar de lado sua visão crítica em relação a
injustiças realizadas sistema de seu país.
A gota d’agua acontece quando Steve, depois de sair de um debate com James, acaba se envolvendo numa briga, tentando proteger uns jovens de serem agredidos por policiais.
Sendo
salvo pelo grupo de vigilantes conhecidos como Defensores, Steve é levado até o
líder deles, Luke Cage, que revela para o velho capitão que a imagem de
sociedade utópica é uma farsa. Eles estão vivendo sob um sistema corrupto e
totalitário, com James e seu mentor, Kyle Jarvis (irmão de Edwin Jarvis),
usando a mídia e propaganda para manter o público alienado, enquanto eles secretamente
eliminam qualquer um que se oponha a eles.
Diante dessa verdade sombria, Steve, recebendo de seus amigos o soro do super-soldado, reassume seu manto de Capitão América e começa a reunir os Vingadores para libertar os Estados Unidos dessa opressão.
No entanto, ele logo descobre o quão difícil
será convencer o público a se opor a essa ilusão utópica que eles estão
submetidos, fazendo o Capitão questiona se ele e os aliados estão datados e
lutando contra uma mudança inevitável.
Crepúsculo
vs Reino do Amanhã
Como devem ter
percebido pela descrição no tópico anterior, Vingadores Crepúsculo, em trama,
possui fortes semelhanças com Reino do Amanhã da DC: Ambas histórias se passam
em futuro e são protagonizadas por heróis veteranos e aposentado tendo que voltar
à ativa para corrigir problemas que foram causados por causa de sua ausência e
suas ações, embora bem intencionadas, acabam tendo consequências inesperadas.
Mas isso não significa
que um seja cópia do outro, pois Vingadores Crepúsculo possui aspecto que o
definem sua própria identidade.
Enquanto Reino do Amanhã agia como um meta-comentário no estado dos quadrinhos de super herói dos anos 90, com os tradicionais sendo substituídos por versões mais sombrias e de moral questionável, Vingadores Crepúsculo tem uma abordagem voltada para assuntos do mundo pós-2015/2020, como manipulação da mídia, corporativismo e as ascensão de fascismo.
Sob certo ponto de
vista, essa abordagem acaba dando para história um vilão para os heróis
enfrentarem, privando-os de terem um papel mais questionável como na hq da DC. Porém,
o que Vingadores crepúsculo faz de interessante é pegar um pouco da ideia do
Reino do Amanhã e inverte-la, colocando em questão não a moralidade dos heróis,
mas sim da humanidade que eles protegerem.
Ser
decente em um mundo indecente
Desde que foi criado por Stan Lee na década de 60, uma das características principais da Marvel era a reação do público a esses super heróis, com muitos deles, como Homem Aranha e os X-men, sofrendo com desconfiança e preconceito das pessoas.
Até com heróis
populares, como o Quarteto Fantástico e os Vingadores, o público podia se virar
contra diante de qualquer incidente (como demonstrado em histórias como Marvels
de Kurt Busiek e Alex Ross).
Ao invés de aceitarem
os heróis como na DC, os civis da Marvel eram bem mais resistentes quanto a
reconhecerem as boas ações dos heróis, fazendo parecer como se nada que eles
fizessem fosse o bastante. Embora essa visão seja meio cínica, é infelizmente
um reflexo da realidade. A vida pode ser injusta com qualquer um, até mesmo
aqueles que tem boas intenções. É o fato dos heróis da Marvel continuarem
tentando ajudar pessoas, apesar das críticas que fazia leitores se conectarem e
torcerem por eles em suas aventuras.
Com esse conceito em mente, Chip Zdarsky coloca essa dedicação dos heróis a teste, com seu roteiro de Vingadores Crepúsculo apresentando a seguinte questão: Como os heróis agiriam se a humanidade escolhesse sacrificar a liberdade deles por ignorância?
Seria fácil para Zdarsky
escrever uma história onde os heróis aposentados voltam a ativa e desmascaram
uma conspiração no governo de implantar na América um regime totalitário. No
entanto, ele subverte essa abordagem, tocando numa parte que algumas histórias
escolhem ignorar: O envolvimento da população e a resistência em aceitar
responsabilidade por seus atos.
Os vilões dessa
história não chegaram ao poder do nada. Eles conquistaram a confiança da
população e usaram isso para poucos manipula-la ao seu favor, usando seu controle
de mídia para distrai-los de seus atos. Até mesmo figuras como presidente são tratados como mascotes para essas corporações., sendo facilmente intimidados por eles.
Quando Capitão América
e seus companheiros voltam a ativa e conseguem expor os crimes e manipulações
da corporação, o público não se uniu ao causa deles como esperavam, mas sim
continuaram a rejeitar os heróis por terem tirado a visão utópica que eles
tinham do mundo.
É um momento que força
os heróis, principalmente o Capitão América (um herói que acredita nas pessoas)
a encarar a dura realidade, de que o mal chega ao poder porque pessoas escolhem
não fazer nada e elas optariam por viver nessa ilusão, do que reconhecer o erro e os problemas da realidade.
A
recompensa do heroísmo
Com essa atitude do público não é dificil de entender o motivo de heróis terem se aposentado. Qual o ponto de querem ser ajudar pessoas que não querem ser salva por eles? Por que eles devem ser bons com os outros se isso significa ser punido junto
com todos que eles amam?
Isso é refletido pelo
Capitão América, que, nesse futuro, não está só velho, desiludido como também
casado com uma enfermeira chamada Rose, a quem ele prometeu uma vida tranquila,
sem conflitos. Diferente de outras histórias, dessa vez ele tem muito mais a
perder se decidisse se rebelar contra o governo.
Como leitores, nós
sabemos que Steve não é do tipo que ignora problema quando está na sua frente,
mas é fácil sentir pena do velho soldado quando suas decisões começam afetar
seu relacionamento, levando a momentos onde herói idealista começa a questionar
suas próprias ações.
Em contraste a ele
temos o filho de Tony e Janet, James Stark.
Obs: Sim, Tony Stark e Janet tiveram um
relacionamento nas hqs após ela ter se divorciado do Hank Pym. É uma relação
canônica nas hqs e esteve presente em várias histórias.
Quando é introduzido,
James parece ser uma cópia de seu pai durante a Guerra Civil, um empresário
arrogante e sem empatia pelas pessoas que sua empresa está prejudicando para
manter esse controle sobre as massas. Em suas próprias palavras, são apenas um “preço
pequeno” para dar ao público o que eles querem.
No entanto, conforme a
narrativa vai se desenvolvendo, James vai se tornando um reflexo da desilusão do
público em relação aos heróis e suas falhas, um garoto que carrega muita tristeza
e ressentimento pelos seus pais, que foram forçados a abandona-lo para lutar no
evento no Dia-H. É esse trauma que o torna uma presa perfeita para o vilão
misterioso, que convence a virar sua raiva nos super heróis e nos efeitos
colaterais que suas ações bem intencionadas tiveram.
Dessa forma, Zdarsky
consegue colocar esses dois indivíduos de lados opostos, numa jornada
similar, cuja grande lição é que ser um herói é sua própria recompensa. O que
importa é tentar fazer a coisa certa, mesmo que acabe falhando as vezes, até
mesmo com seus entes queridos.
Considerações
finais
Com essa informações
dadas, surge a pergunta que alguns talvez estejam se fazendo: Qual das duas é
melhor? Reino do Amanhã ou Vingadores Crepúsculo?
A resposta depende de
sua escolha pessoal.
No meu caso, eu ainda
prefiro Reino do Amanhã, por causa da arte memorável do Alex Ross, o
desenvolvimento de personagens como Superman e a forma como roteiro explora a
ideia de super heróis como esses deuses modernos interagindo com a sociedade.
Mas isso quer dizer que
Vingadores Crepúsculo é uma história fraca e esquecível?
Ela é uma história muito
bem escrita, que explora assuntos bem sensíveis da realidade, ao mesmo tempo
que destaca a característica principal dos Vingadores (e dos heróis da Marvel
em geral), retratando como esses grupo de renegados tentando fazer bem no mundo
não por fama ou reconhecimento, mas sim porque é a coisa certa a fazer.
Numa época onde tivemos
tantas poucas histórias de destaque envolvendo os Vingadores (não são ruins,
mas também não impressionantes), Vingadores crepúsculo consegue reestabelecer
a equipe como um dos pilares principais do Universo Marvel e representantes da
essência de seus heróis.
Nota:
09/10
Então é isso! Qual a
opinião de vocês quanto ao Vingadores Crepúsculo? Sintam-se a vontade para
colocar suas opiniões e ideias nos comentários abaixo



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