Batman: Lâminas - Por que o cavaleiro das trevas não mata?

 

 

Uma das características mais conhecidas do Batman é seu exigente código de não matar. Apesar do personagem não ter começado como um sujeito com compaixão por seus inimigos em suas primeiras histórias, essa atitude foi tornando cada vez mais presente com o passar do tempo, se tornando um aspecto-chave para a identidade do personagem tão importante quando sua origem e a escolha por trás de seu símbolo.



Mas por que será que Batman possui essa regra?

Sob uma perspectiva realista, tem tudo a ver com questões como o fato dos roteiristas precisarem de justificativa para trazer os vilões populares de volta em futuras histórias e pelo fato de Batman ser um ícone popular entre os jovens, principalmente crianças.

Já em relação ao motivo narrativo, existem várias histórias que exploram essa regra do Batman. A mais conhecida de todas é Sob o Capuz Vermelho, quando Batman confronta o renascido Jason Todd, que agora tinha se tornando um vigilante inescrupuloso, frustrado por Bruce nunca ter matado o Coringa. Quando confrontando por seu ex-pupilo, a resposta do Batman foi.

Tudo que eu sempre quis foi mata-lo. Não se passa um dia sem eu queira fazer com que ele pague pelas crueldades que ele fez com todos e, no fim, acabar com ele. Mas se eu fizer...se eu me rebaixar a esse nível... não conseguirei voltar!



Embora não seja um argumento ruim, não acho que ele seja um dos mais fortes, como muitos pensam. Essa explicação parece se basear muito na ideia que alguns tem de que Batman é tão louco quanto os criminosos e que qualquer quebra de regra é o bastante para fazê-lo se tornar do mal, não dando detalhes do porquê abrir exceções, mesmo uma só, é um problema.

É aí que o arco “Lâminas” se destacada.  Escrita por James Robinson e desenhada do falecido Tim Sale, esse arco, publicado em Legends of the Dark Knight 32 a 34 de 1992, consistiu numa trilogia que reinventou o primeiro encontro de Batman com um de seus inimigos bem obscuros da Era de Ouro, o Cavalier, cuja conclusão tendo uma influência no Batman e sua cruzada contra o crime.



Trama

Surge um novo vigilante em Gotham City. Ele é o Cavalier, um espadachim mascarado que busca usar suas habilidades para combater o crime. No entanto, ao contrário do Batman, que é misterioso e age nas sombras, o Cavalier usa um traje colorido e age a vista do público.



Apesar de seus métodos diferentes, o Cavalier se mostra bem charmoso, ganhando a confiança do público e do próprio Batman, que vê muito de seu herói da infância, Zorro, no novo vigilante. Estando ocupado na caça a um assassino, Batman decide confiar no Cavalier para proteger Gotham em sua ausência.

No entanto, poderá o Cavalier manter seus princípios heroicos quando ele salva e se apaixona por Ellen, uma moça envolvida com homicídio e o crime organizado?



De vilão caricato a um vigilante trágico

Como citado antes, o Cavalier já era um personagem das histórias do Batman desde a Era de Ouro. Criado por Bob Kane e Don C. Cameron em Detective Comics nº81 de 1943, Motimer Drake era um milionário excêntrico cuja obsessão por objetos valiosos o fez se tornar um ladrão swashbuckler, tendo vários duelos de habilidades físicas e mentais com Batman e Robin. Apesar de ter tido muitas aparições na Era de Ouro, o personagem caindo no limbo, voltando aparecer em raras ocasiões nos anos seguintes.



Em “Lâminas”, James Robinson faz uma nova abordagem no personagem: Dessa vez ele é Hudson Pyle, um dublê que decide se torna um combatente do crime para ganhar atenção do público.

Suas motivações podem não ser tão nobres, porém mostra ter um coração bom e dedicado a proteger os inocentes. Combinando suas habilidades com seu grande carisma, ele tinha tudo para ser um grande aliado do Batman e, talvez, um herói melhor para Gotham do que o Cavaleiro das Trevas.



No entanto, como muitas histórias do Homem Morcego, o Cavalier acaba seguindo por um caminho sombrio quando salva Ellen, uma moça responsável por um assassinato e que estava sendo chantageada por criminosos. Pra proteger sua amada, o espadachim mascarado acaba vendendo sua própria alma, cometendo roubos e, eventualmente, executando os bandidos, quebrando a confiança que Batman e o público tinham nele.



O fato do Cavalier ter feito tudo isso apenas para salvar sua paixão torna sua queda numa genuína tragédia shakespeariana, pois representa não só Gotham perdendo um potencial herói e Batman perdendo um potente aliado e alguém que poderia tê-lo livrado de sua cruzada contra o crime, como também um homem bom abrindo mão de sua vida para salvar aquela que ele ama.

 


O que leva um homem a virar um monstro?

Com o Cavalier sendo o destaque dessa história, deve ter criado a impressão que o Batman é jogado para escanteio, não é?



Em paralelo a trama do Cavalier, temos uma sub-trama do Batman investigando assassinatos cometidos por um assassino misterioso conhecido como Senhor Lime. A forma como ele mata suas vítimas a distância, o torna um inimigo que exige muito do lado detetive do Batman, causando vários momentos de estresse e cansaço para o morcego (demonstrando como o grande detetive não é um sabe tudo, e encontra dificuldades em solucionar casos).



É só após um confronto com o Cavalier, onde o ex-herói salva a vida do Batman, que o detetive consegue deduzir que Lime é apenas um senhor que matou seus pais e virou um assassino para tentar distrair as autoridades de seu envolvimento na morte do casal.



Mas ter essa trama acontecendo ao mesmo tempo que a do Cavalier não torna a narrativa confusa? Não parece que o James Robinson está tentado fazer duas coisas em uma só história?



As duas tramas complementam uma a outra, pois ambas colocam Batman diante inimigos que o fazem ter uma perspectiva quanto a evolução do ser humano. Assim como Cavalier não era um herói perfeito, o Senhor Lime não era um serial killer ou um gênio do mal. Ele era apenas um ladrão cujas ações desesperadas o levaram a se tornar um assassino. Nenhum dos dois começou como um grande vilão. Foi tudo um processo gradual, composto por circunstâncias e escolhas erradas.



Isso tudo fica mais claro no clímax, quando Cavalier, após travar um duelo com Batman, realiza um grande sacrifício para salvar sua amada, mas não antes de dizer para o Batman para sempre se lembrar que o potencial para o mal existe em todo mundo, incluindo ele.



A aparição do Cavalier pode ter sido curta, porém sua história serviu como um reflexo do que poderá acontecer com Batman caso, algum dia, ele venha a abrir mão de seus valores, e o quão é para qualquer um perder do caminho da virtude e terminar virando uma pessoa pior.

Considerações finais

Como muitas obras do James Robinson, “Lâminas” é mais uma história fantástica que acaba sendo obscurecida pelo sucesso de outras clássicas do homem morcego.  É uma bela trilogia que explora a psicologia dos personagens, o lado detetive do Batman e, o mais importante, sua relação com seus inimigos e como elas moldam o herói e seu mundo.

Comparado com outros exemplos que exploram os motivos do Batman não matar, essa é a que melhor que justificativa a razão dessa atitude não por meio de apenas discursos e palavras mas sim por sua trama e as ações dos personagens, como uma verdadeira arte visual.

Lâminas pode não ser uma das histórias mais conhecidas do Batman, mas é com certeza uma de suas melhores histórias que merece ser recomendada para vários leitores e interessados.

Nota: 10/10



Então é isso! Qual a opinião de vocês sobre Batman: Lâminas? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões e ideias nos comentários abaixo.