Batman: Xamã – O primeiro caso do Homem Morcego
Falar que Batman é um dos heróis mais icônicos
da DC e cultura pop é o equivalente a apontar que o céu é azul. Sua
popularidade é tão grande que ele foi do protagonista de sua revista principal
e Detective Comics para ser o centro de vários outros títulos spin offs, além
participações nas hqs de heróis como a Liga da Justiça.
Entre essas revistas que nasceram de seu sucesso, uma das mais marcantes foi o Lendas do Cavaleiro das Trevas, uma série de histórias que se passavam nos primeiras anos de sua carreira, redefinindo eventos da mitologia do Batman para a continuidade do universo DC pós-crise. Por seguir um formato antológico, a revista teve vários autores e artistas envolvidos na produção de seus arcos, incluindo nomes que ficariam associados com o personagem, como Matt Wagner, Doug Moench, Tim Sale e Grant Morrison.
Esse texto irá falar do
primeiro grande arco dessa série, Batman: Xamã, uma história publicada nas 5
primeiras edições de Lendas do Cavaleiro das Trevas, todas escritas pelo Dennis
O’Neil (o autor mais importante na história do Batman nos quadrinhos), com os desenhos
de Ed Hannigan.
Trama
Durante seus anos de
treinamento, Bruce Wayne fez uma viagem ao Alaska, onde acompanhou um caçador
de recompensa numa busca por Thomas Woodley, um fugitivo da justiça. Sendo
emboscados por ele, o caçador é morto e Bruce enfrenta o Woodley, que
acidentalmente cai de um penhasco.
Ferido e perdido, Bruce acaba desmaiando no meio da neve, mas é salvo por uma tribo local, cujo xamã cura o rapaz, contando-lhe a história folclórica de um antigo morcego. Quando chega hora dele partir, a filha do xamã faz o milionário prometer não revelar o segredo de seu pai.
Tendo voltado a Gotham, Bruce começa sua cruzada contra o crime, adotando a identidade de Batman, para trazer terror ao coração de seus inimigos.
Durante essas primeiras semanas, o homem morcego investiga uns assassinatos cometidos pelos membros do Culto de Chubala, que muitos dizem ser uma divindade da ilha de Santa Prisca.
Porém, durante essa missão, Batman acaba se encontrando com um assassino misterioso, que usa uma máscara similar a que ele viu no Alaska.
Suspeitando de uma
conexão, Bruce retornar aquela vila e é forçado a confrontar as consequências
de um erro que ele cometeu.
Ano Um ou Xamã
Antes de discutir a
história, é bom falar do detalhe que muitos fãs e leitores vão comentar, que é
o fato desse arco acontecer em conjunto com os eventos de Batman Ano Um, com a
arte Ed Hannigan chegando a recriar cenas da Hq de Frank Miller e David
Micheline.
Esse detalhe pode
tornar a leitura um pouco confusa para alguns, fazendo achar que Xamã retconiza
os eventos de Ano Um. Mas, este não é o caso, visto que Ano Um é contado do
ponto de vista do Comissário Gordon enquanto Xamã foca no Batman, mostrando um
de suas aventuras durante esse primeiro ano como um vigilante em Gotham.
Batman
vs Colonialismo
Além de um roteirista
talentoso, Dennis O’Neil era um ativista liberal, o que era refletido em seu
trabalho nos quadrinhos, com muitas de suas histórias abordando temas políticos e sociais,
como racismo, drogas e meio ambiente.
No caso de Xamã, ela
age como critica a colonialismo e como essas ações prejudicam povos e suas
culturas. Isso fica evidente quando Bruce se esquece de sua promessa ao xamã e
acaba não só revelando seu segredo para um pesquisador como ainda financia sua
expedição.
Quando retorna ao
Alaska após tanto tempo, Bruce descobre as várias atrocidades que o pesquisador
cometeu, incluindo roubar os segredos do xamã e convencer os habitantes a
desistirem de suas tradições.
Ter o Bruce ser
indiretamente responsável pela situação dos habitantes foi um twist astuto, que
não só age como uma crítica astuta a forma como indivíduos subjugam e exploram
minorias sob a falsa promessa de querem “ajuda-los” (o famoso conceito do White Savior) como também estabelece
como o Bruce não é perfeito e que suas ações, mesmo bem intencionadas,
tem consequências.
Isso também humaniza o
Batman e torna seu crescimento como um herói num processo mais natural, evitando
representa-lo como um gary stu chato, mas não a ponto dele ficar antipático.
O
poder de símbolos
Embora Xamã tenha um
mistério intrigante, twist inesperados e muita ação, sua temática central é uma
história sobre símbolos e a influência que eles podem ter num indivíduo ou
grupo.
Esse tópico é algo
presente no Batman desde o começo, com um dos momentos chaves de sua origem
sendo quando Bruce vê um morcego quebrar sua janela, se inspirando na criatura
para adotar seu alter ego. Ele converte a imagem do morcego num símbolo de
justiça, uma arma para usar contra criminosos e malfeitores.
O que Dennis O’Neil faz
nessa história é levar esse conceito para um novo nível, colocando o Batman
diante outros indivíduos que usam tática similar a dele. Tanto Chubala quanto o
assassino usam figuras folclóricas como forma de assustar e manipular suas
vitimas, não tão diferente de como Batman age com os bandidos que prende.
É essa semelhança que
torna o confronto do Batman com eles tão interessante, pois os dois adversários
trazem questionamentos sobre o uso de símbolo como uma arma. É certo do Batman
usar sua imagem para provocar medo nas pessoas? Se ele usa o mesmo método que
seus oponentes, isso não o torna tão cruel quanto eles?
Para a sorte de Batman,
os vilões não são os únicos a recorrerem a símbolos como ferramentas. O xamã
que salvou sua vida faz uso de uma máscara de morcego para executar métodos
curativos em seus pacientes.
Enquanto a história não
deixa claro se tem algo sobrenatural em seu método ou se apenas algo
psicológico, suas ações contribuem para Bruce perceber que um símbolo pode
representar algo mais do que apenas medo e vingança, como proteger e inspirar
os outros, qualidades que seriam importantes para sua evolução no grande herói que os leitores conhecem.
Considerações
finais
Dessa forma, Batman
Xamã é uma boa história de mistério e aventura, além de ser uma boa versão da
origem do homem morcego. Apesar de haver exemplos melhores (Batman Ano Um
continua sendo a origem definitiva), Xamã continua sendo uma obra muito bem
escrita e que representa o conhecimento que Dennis O’Neil tinha do Batman,
tanto do homem por trás da máscara quanto ao que ele representa para muitos.
Nota:
9/10
Então é isso? Qual a opinião de vocês quanto a Batman Xamã? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões nos comentários abaixo...