A
Era de Ouro - Uma desconstrução dos heróis da Segunda Guerra Mundial
O gênero de super herói
começou nas hqs em 1938, com o lançamento do Action Comics n³1, a primeira
aparição do Superman. Seu sucesso marcou o início da Era de Ouro, o período em
que vários heróis começaram a surgir nas histórias em quadrinhos, incluindo
ícones como Batman, Mulher Maravilha e Capitão América.
Seu sucesso foi beneficiado pelo contexto histórico, com mundo se recuperando da Grande Depressão e prestes a entrar na Segunda Guerra Mundial, sendo necessária a existência de figuras de entretenimento ao público e ao mesmo tempo, funcionassem como propaganda para o exército.
Mesmo nos dias de hoje,
com a Era de Ouro já tenha terminado a muito tempo atrás, vários roteiristas e
criadores ainda fazem referências a esse período importante, sejam nas hqs ou
em adaptações.
Um desses escritores foi James Robinson. Em 1993, ele, em parceria com o desenhista Paul Smith, elaborou uma minissérie, em 4 edições, intitulada A Era de Ouro, cujos protagonistas eram personagens da DC dos anos 40.
Como essa minissérie
não é muito falada por fãs atualmente, decidi montar esse texto, apresentando
minha opinião em relação a essa hq e a forma como explora a Era de Ouro da DC
Comics.
Trama
No final dos anos 30, o mundo testemunhou o surgimento dos super heróis, aventureiros mascarados que usavam suas habilidades para combater o mal e a injustiça.
Quando a Segunda
Guerra começou na Europa, esses heróis, a pedido do Presidente Roosevelt, se
uniram, formaram a Sociedade da Justiça e, em seguida, o Comando Invencível, um
grupo que auxiliava os Estados Unidos a enfrentar as forças do Eixo.
Devido ao fato dos
alemães terem como aliado um meta-humano capaz de anular seus poderes, os
heróis foram proibidos de cruzar o atlântico, com o governo temendo que a morte
de um deles causaria um golpe moral na população. Quando a guerra acabou, o
mundo parecia não precisar mais de seus protetores e os heróis, com o orgulho
ferido por terem sido incapazes de interferir na Guerra, se aposentaram.
Enquanto maioria dos
heróis tentam continuar suas vidas e lidar com seus dramas internos, Tex
Thompson, o Americomando, o único mascarado na ativa, começa a criar um novo
grupo de super-humanos, para proteger América da ameaça do comunismo.
No entanto alguns
acontecimentos levam os heróis a descobrirem segredos ligados a um fantasma de
seu passado e uma conspiração para dominar os Estados Unidos.
A
Era de Ouro vs Nova Fronteira
Alguns leitores de HQs
devem ter notado certas semelhanças dessa minissérie com outra obra da DC, Nova
Fronteira, do Darwyn Cooke. Ambas histórias se passam num período pós-Segunda
Guerra e focam nos heróis tentam encontrar seu lugar nesse mundo que parece
rejeitar seu heroísmo, ao mesmo tempo em que uma ameaça oculta começa a agir.
A grande diferença
entre as duas histórias se encontra em seu tom e personagens.
A Era de Ouro tem uma pegada mais de thriller político e espionagem do que conceitos sci-fy. Claro que tem alguns (afinal é uma história de super heróis) mas o foco permanece nos tópicos sociais da época, como nacionalismo, traumas provocados pela guerra e perseguição ao comunismo. Até mesmo o vilão não é um monstro gigante pros heróis baterem, mas sim um antagonista se aproveitando da paranoia da população e a insegurança dos heróis para manipula-los e realizar sua ambições.
Já em relação aos
personagens envolvidos, enquanto Nova Fronteira destacava a nova geração de
heróis, representada por indivíduos reconhecidos pelos fãs, como Lanterna Verde
(Hal Jordan), Flash e J’onn J’onzz, no Era de Ouro, Robinson optou por destacar
a velha geração de heróis, mas não os icônicos como a trindade, e sim
personagens bem ignorados pela DC e seus leitores.
O que poderia ser
prejudicial para o interesse dos leitores pelos personagens, Robison converteu
num trunfo, com seu roteiro retratando esses heróis da Segunda Guerra em
figuras bem humanizadas, combatentes do crime que, apesar de seus poderes,
foram incapazes de encerrar a Guerra mais cedo e suas ações altruístas foram
ignoradas ou esquecidas pelas pessoas que eles defenderam.
Durante a narrativa, é mostrado vários desses histórias lidando com problemas em suas vidas, desde o Starman (Ted Knight) lidando com a culpa de ter ajudado na construção da Bomba Atômica, o Homem Hora (Rex Tyler) desenvolvendo um vício em suas pílulas Miraclo e e o Lanterna Verde (Alan Scott) tendo um conflito comitê de atividades antiamericanas, que acusam os funcionários de sua rede de rádio de estarem envolvidos com comunistas.
Todos esses arcos são
muito bem elaborados e tornam os personagens bem relacionáveis. Eles também
agem como um meta-comentário a situação dos quadrinhos de super heróis da
época, quando a popularidade deles começou a despencar devido ao fim da Guerra,
uma visão que A Era de Ouro descontrói completamente, demonstrando problemas
que persistiram no mundo mesmo após Guerra (com muitos existindo até nos dias
de hoje) e a necessidade de heróis e os valores que eles representam.
Conclusão
Devido ao ritmo mais
lento e foco nos heróis lidando com coisas mais pessoais, essa minissérie pode
não ser uma leitura que muitos fãs esperam, ainda mais pra quem quer ver os
heróis saindo em aventuras e tendo muitas cenas de ação e pancadaria.
Mas, pra mim, que foi
exposto a esse modelo várias vezes, A Era de ouro é uma boa quebra paradigma,
conseguindo ter uma boa qualidade graças as suas histórias tão interessantes e
homenagem a personagens pouco explorados da DC.
Nota:
9/10
Então é isso? Qual a
opinião de vocês quanto a A Era de Ouro? Sintam-se a vontade para colocar suas
opiniões nos comentários abaixo...